quinta-feira, 16 de novembro de 2017

FERNANDO PESSOA: APONTAMENTOS (1991) [1]



A ruptura - "Orpheu", a revista





O grupo de Fernando Pessoa assemelha-se ao espectáculo de um artemoto ou sismo artístico que não foi levado muito a sério.

"Uma revolução pode nascer (e muitas vezes nasce) de uma reacção ao tédio."

Era preciso inventar uma vida nova e uma literatura nova.

Almada Negreiros: "Nós não somos do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas."

e não só.

era igualmente necessário reinventar:

- a visão do mundo;
- os valores;
- as metáforas; 
- a sintaxe; 
- a mitologia em vigor;
- a estrutura interna dos poemas;
- toda uma metodologia mais sofisticada do conhecimento.

Ainda as revistas: "A Águia"


- nela surge o que ainda restava do Simbolismo em Pessoa e que agora chegava ao fim. Do refinamento deste, levado ao extremo, nascerá o "paulismo" ...
[que se auto-apelida narcisicamente de vago, subtil e complexo.]

Estilo paúlico?

Voluntária confusão do subjectivo e do objectivo, "pela associação de ideias desconexas", pelas frases nominais, exclamativas, pelas aberrações de sintaxe, pelo vocabulário expressivo do tédio, do vazio da alma, do anseio de "outra coisa", um vago "além" (ouro, azul, Mistério), pelo uso de maiúsculas que traduzem a profundidade espiritual de certas palavras.  

Mas será a publicação de "Ode Triunfal" de Álvaro de Campos no primeiro número de "Orpheu" que anunciará o fim do simbolismo decadente e apontará para algo mais moderno.

O que quer "Orpheu"?

- criar uma arte cosmopolita no tempo e no espaço;
- a nossa época é aquela em que mais materialmente do que nunca e, pela primeira vez, intelectualmente, os países existem todos dentro de cada um e na Europa;
- a Europa é a região civilizada que dá o tipo e a direcção a todo o mundo;
- por isso, a arte moderna tem de ser o mais desnacionalizada possível de modo a acumular dentro de si todas as partes do mundo.

A "Nossa Arte" será aquela onde:

- a dolência e o misticismo asiático...
- o primitivismo africano...
- o cosmopolitismo das Américas...
- o exotismo ultra da Oceânia...
- o maquinismo decadente da Europa

            ... fundam - cruzam - interseccionam

originando uma arte-todas-as-artes.



A primeira vaga de Poesia Moderna com "Orpheu" não era esteticamente homogénea; não foi a única prática de vanguarda desses anos embora se encontrasse em sintonia cronológica com outros movimentos das primeiras vanguardas europeia:

1911 - Futurismo
1911 - Imagismo
1914 - Dadaísmo
1915 - Orpheu [permitiu uma prática de ruptura de vanguarda e uma plataforma de encontro passado/futuro]


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