domingo, 26 de março de 2017

Excerto 128 do "Livro do Desassossego"



Fragmentos e mais fragmentos.
Assim é feito o Livro.
Do que é feito o Poeta.
Na procura da união, tentando encontrar-se, escreve-Se.
O Livro do Desassossego nasceu um ano antes dos três heterónimos, Caeiro, Campos e Reis, e Pessoa trabalhou nesta obra o resto da sua vida.
Não se lhe conhece um plano ou uma “história”. Foi-se projetando nos horizontes que ele próprio estendia à medida que iam sendo (des)escritos, Livro e Pessoa, e em que ficavam cada vez menos concretizáveis como isso mesmo, isto é, como livro e pessoa.



128.

Repudiei sempre que me compreendessem. Ser compreendido é prostituir-se.
Prefiro ser tomado a sério como o que não sou, ignorado humanamente, com
decência e naturalidade.
Nada poderia indignar-me tanto como se no escritório me estranhassem.
Quero gozar comigo a ironia de me não estranharem. Quero o cilício de me
julgarem igual a eles. Quero a crucificação de me não distinguirem. Há martírios mais subtis que aqueles que se registam dos santos e dos eremitas. Há suplícios da
inteligência como os há do corpo e do desejo.
E desses, como dos outros, suplícios há uma volúpia.

Livro do Desassossego,

Bernardo Soares [Fernando Pessoa]


RECOMEÇO E INÍCIO



Sobre tudo aquilo que menos nos agrada e que tem de ser...

Na verdade, ...

Tudo aquilo que não temos coragem de enfrentar, acaba por ser algo que nunca conseguiremos mudar.

Como em tudo na vida; nas aprendizagens também.

Tentemos, pois.

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