sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

"OS MAIAS": LEITURAS E OPINIÕES



Outro defeito dos Maias - é o autor ver apenas ridí­culos, sempre ndículos, só ridículos, na sociedade de Lisboa; ver apenas personagens de caricatura, que o autor se compraz a mostrar e a flagelar com a sua terrível iro­nia. Daqui a mfenondade da obra...
Inferioridade?!... Em primeiro lugar nunca nenhuma Crítica se lembrou de exigir dum artista que mude de temperamento - como se muda de camisa! O tempera­mento de humorista do sr. Eça de Queiroz leva-o cons­tantemente a ver cómico. Ora querer exigir da natureza crítica do sr. Queiroz, que se transforme numa natureza contemplativa e optimista - é exigir de mais da ciência. E se a medicina o pudesse fazer - que mina para Portugal :-3-r: — ir zi ~e_s Doiíticos que infestam e assolam o pais. em bons políticos e em bons patriotas...
Mas. daxemos a blague, e falemos seriamente. Por acaso a obra de Zola é uma obra inferior por ser ilumi­nada toda eia por um terrível e implacável pessimismo?... Por acaso o Livro dos Snobs de Thakeray é uma obra infe-ncr zc-ce ~cst-a apenas os ndículos da sociedade inglesa?... Por acaso alguém se lembrou de exigir de Gavarní e de Daumier que fizessem outra cousa que não fosse só caricatura: e por toda a sua obra ser uma carica­tura permanente, essa obra é por acaso inferior?... Quem é que em Portugal tem escrito com mais vigor e mais verdade a história do nosso tempo - senão Bordallo Pinheiro?... E os elementos notáveis que esse artista deixa para a história da nossa geração - não passam de simples caricaturas, mas onde a Verdade brilha em toda a sua pureza...
Otjrica ce Manano Pina (publicada na revista Ilustração de 1888)

sábado, 13 de fevereiro de 2016

TESTE DE LITERATURA: ANTÓNIO NOBRE...



LER E IDENTIFICAR AS TEMÁTICAS NOS POEMAS ABAIXO E RELACIONÁ-LAS COM A TEORIA  DO POST ANTERIOR.

Que Aborrecido!
Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a bocca a bocejar sombrios:
Deslizam vagarozos, como os rios,
Succedem-se uns aos outros, egualmente.

Nunca desperto de manhã, contente.
Pallido sempre com os labios frios,
Oro, desfiando os meus rozarios pios...
Fôra melhor dormir, eternamente!

Mas não ter eu aspirações vivazes,
E não ter, como têm os mais rapazes,
Olhos boiando em sol, labio vermelho!

Quero viver, eu sinto-o, mas não posso:
E não sei, sendo assim, emquanto moço,
O que serei, então, depois de velho...

António Nobre, in 'Só' 








Epílogo
Meu coração, não batas, pára! 
Meu coração, vae-te deitar! 
A nossa dor, bem sei, é amara, 
A nossa dor, bem sei, é amara... 
Meu coração, vamos sonhar... 
Ao mundo vim, mas enganado. 
Sinto-me farto de viver: 
Vi o que elle era, estou massado, 
Vi o que elle era, estou massado... 
Não batas mais! vamos morrer... 
Bati á porta da Ventura 
Ninguem m'à abriu, bati em vão: 
Vamos a ver se a sepultura, 
Vamos a ver se a sepultura 
Nos faz o mesmo, coração! 
Adeus, Planeta! adeus, ó Lama! 
Que a ambos nós vaes digerir... 
Meu coração, a Velha chama, 
Meu coração, a Velha chama... 
Basta, por Deus! vamos dormir... 

António Nobre, in 'Só' 








Natal d'um Poeta
Em certo reino, á esquina do planeta,
Onde nasceram meus Avós, meus Paes,
Ha quatro lustres, viu a luz um poeta
Que melhor fôra não a ver jamais.

Mal despontava para a vida inquieta,
Logo ao nascer, mataram-lhe os ideaes,
A falsa-fé, n'uma traição abjecta,
Como os bandidos nas estradas reaes!

E, embora eu seja descendente, um ramo
D'essa arvore de Heroes que, entre perigos
E guerras, se esforçaram pelo ideal:

Nada me importas, Paiz! seja meu amo
O Carlos ou o Zé da Th'reza... Amigos,
Que desgraça nascer em Portugal!

António Nobre, in 'Só' 






Poveiro
Poveirinhos! meus velhos pescadores! 
Na Agoa quizera com vocês morar: 
Trazer o lindo gorro de trez cores, 
Mestre da lancha Deixem-nos passar

Far-me-ia outro, que os vossos interiores 
De ha tantos tempos, devem já estar 
Calafetados pelo breu das dores, 
Como esses pongos em que andaes no mar! 

Ó meu Pae, não ser eu dos poveirinhos! 
Não seres tu, para eu o ser, poveiro, 
Mail-Irmão do «Senhor de Mattozinhos»! 

No alto mar, ás trovoadas, entre gritos, 
Promettermos, si o barco fôri intieiro
Nossa bela á Sinhora dos Afflictos

António Nobre, in 'Só' 


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

FARIA-O vs FÁ-LO-IA



Manda a regra geral que os pronomes pessoais átonos


me - te - o - a - nos - vos - os - as - lhe - lhes

se coloquem após o verbo, ou na chamada posição enclítica.


exemplo: Telefono eu ao avô, aliás, telefono-lhe logo à noite.


No entanto, no Futuro do Indicativo e no Condicional, esses pronomes colocam-se em posição mesoclítica, ou seja, antes das terminações de tempo e pessoa

exemplo: Eu, se pudesse, telefonar-lhe-ia agora.


exemplos para resolver...

1 - Ontem, devolvi  o livro ao professor de português. 

** Devolvi-...

2 - Enviarei ao José as encomendas conforme o pedido.

** Enviar-...

3 - Qual dos alunos se irá candidatar à vaga?

** Ele candidatar-...





segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

ANTÓNIO NOBRE



Algumas notas a propósito da obra e da vida de António Nobre, sabendo que a primeira não poderá dissociar-se da segunda.

As primeiras notasque se seguem foram retiradas do último capítulo, Considerações Gerais, da obra António Nobre e o Simbolismo em Portugal, Dissertação de Mestrado, de Liliana Carla Correia Martins.
Optei pelas informações que me pareceram mais importantes.


v António Nobre revelar-se-ia um dos poetas mais renovadores do fim-de-século, traçando e abrindo novas linhas à literatura que se lhe seguiria;
v Em , a única obra publicada em vida do poeta, é possível notar-se um estilo decadentista dando a ver uma prática que se enquadra nas correntes da geração finissecular do século XIX português: ultrarromântica, decadentista, saudosista e simbolista,(…);
v  O ambiente espiritual surgido em Portugal ocorreria pelas mãos dos «Vencidos da Vida», cujo especial relevo terá sido concedido a António Nobre, também ele membro desse grupo;
v “Só” apresenta-se como uma obra que congrega várias tendências caraterísticas do fim-de-século. Nela, se poderá encontrar o decadentismo, o saudosismo e o sentido profético, próprio de um período de transição que combina oposições e antagonismos. Notámos um tom original e muito próprio de dizer e sentir capaz de desdobrar a autobiografia do poeta na do seu país;
v o Saudosismo presente na obra revela a transformação da saudade da infância na saudade de um país que tinha sido glorioso;
v tal como a maioria dos poetas finisseculares, António Nobre reuniria temas decadentistas como a morte, a dor, o tédio, a solidão, o isolamento e a doença física e psicológica cuja cura pode provocar a fuga para outras dimensões do mundo, levando o poeta ao desespero;
v António Nobre cresceu numa época marcada pelo Decadentismo, pela desilusão, pelo desalento e pelo futuro incerto que a passagem de século esconde na sua neblina, tendo o poeta cultivado o sonho e a interiorização através de imagens e símbolos;
v no último capítulo de Só persiste o tema da Morte que percorre todo o texto. A presença dessa temática assume um papel de destaque na obra de António Nobre, podendo também representar o estado decadente de Portugal, país que caminha para um fim sem esperança;
v a sua obra permite não apenas o sujeito poético como também a cultura portuguesa do século XIX. Através das suas memórias registadas nos seus textos, é possível deduzir como seriam as tradições, o quotidiano dos homens que trabalhavam no mar ou na terra, as práticas religiosas do povo, a história e a paisagem, sobretudo a do norte de Portugal, onde o poeta nascera. Foi possível, também, depreender-se, através das evocações da memória individual e coletiva, a agitação de um fim de século cindido entre o avanço da modernidade e o apego à terra rural, entre uma política desorganizada que levou o país à derrocada e a quimera de voltar à grandeza imperial que Os Descobrimentos tinham trazido;
v são estes momentos da vida do sujeito poético que correspondem aos da sua pátria.

Outras considerações…
*    a sua Poesia reflete uma ironia amarga face à decadência de Portugal;
*    Nobre faz questão de lembrar todo o passado grandioso do povo português sem esquecer que descendia dessa raça de “Navegadores”;
*    o pai e a mãe desaparecem; do pai diz que é bom, egrégio e a mãe, uma santa;
*    – obra dirigida a alguém, aos pais do Poeta, do autor, os bons portugueses, isto é, as suas origens; nela estão presentes as emoções da sua infância e da sua adolescência;
*    ainda em , a desilusão com o seu país: ele e os seus companheiros sentem o desalento por não os deixarem cumprir os sonhos por questões políticas; sente-se o desespero e angústia do sujeito poético perante a sua impotência em transformar o próprio destino e o do seu país, dado que ambos se encontram no mesmo desalento rumo ao abismo;
*    concluindo, António Nobre mostra-nos através daquele que é considerado por si como «o livro mais triste que há em Portugal» parte da decadência de um povo que no passado fora glorioso.