sábado, 13 de fevereiro de 2016

TESTE DE LITERATURA: ANTÓNIO NOBRE...



LER E IDENTIFICAR AS TEMÁTICAS NOS POEMAS ABAIXO E RELACIONÁ-LAS COM A TEORIA  DO POST ANTERIOR.

Que Aborrecido!
Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a bocca a bocejar sombrios:
Deslizam vagarozos, como os rios,
Succedem-se uns aos outros, egualmente.

Nunca desperto de manhã, contente.
Pallido sempre com os labios frios,
Oro, desfiando os meus rozarios pios...
Fôra melhor dormir, eternamente!

Mas não ter eu aspirações vivazes,
E não ter, como têm os mais rapazes,
Olhos boiando em sol, labio vermelho!

Quero viver, eu sinto-o, mas não posso:
E não sei, sendo assim, emquanto moço,
O que serei, então, depois de velho...

António Nobre, in 'Só' 








Epílogo
Meu coração, não batas, pára! 
Meu coração, vae-te deitar! 
A nossa dor, bem sei, é amara, 
A nossa dor, bem sei, é amara... 
Meu coração, vamos sonhar... 
Ao mundo vim, mas enganado. 
Sinto-me farto de viver: 
Vi o que elle era, estou massado, 
Vi o que elle era, estou massado... 
Não batas mais! vamos morrer... 
Bati á porta da Ventura 
Ninguem m'à abriu, bati em vão: 
Vamos a ver se a sepultura, 
Vamos a ver se a sepultura 
Nos faz o mesmo, coração! 
Adeus, Planeta! adeus, ó Lama! 
Que a ambos nós vaes digerir... 
Meu coração, a Velha chama, 
Meu coração, a Velha chama... 
Basta, por Deus! vamos dormir... 

António Nobre, in 'Só' 








Natal d'um Poeta
Em certo reino, á esquina do planeta,
Onde nasceram meus Avós, meus Paes,
Ha quatro lustres, viu a luz um poeta
Que melhor fôra não a ver jamais.

Mal despontava para a vida inquieta,
Logo ao nascer, mataram-lhe os ideaes,
A falsa-fé, n'uma traição abjecta,
Como os bandidos nas estradas reaes!

E, embora eu seja descendente, um ramo
D'essa arvore de Heroes que, entre perigos
E guerras, se esforçaram pelo ideal:

Nada me importas, Paiz! seja meu amo
O Carlos ou o Zé da Th'reza... Amigos,
Que desgraça nascer em Portugal!

António Nobre, in 'Só' 






Poveiro
Poveirinhos! meus velhos pescadores! 
Na Agoa quizera com vocês morar: 
Trazer o lindo gorro de trez cores, 
Mestre da lancha Deixem-nos passar

Far-me-ia outro, que os vossos interiores 
De ha tantos tempos, devem já estar 
Calafetados pelo breu das dores, 
Como esses pongos em que andaes no mar! 

Ó meu Pae, não ser eu dos poveirinhos! 
Não seres tu, para eu o ser, poveiro, 
Mail-Irmão do «Senhor de Mattozinhos»! 

No alto mar, ás trovoadas, entre gritos, 
Promettermos, si o barco fôri intieiro
Nossa bela á Sinhora dos Afflictos

António Nobre, in 'Só' 


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