terça-feira, 22 de novembro de 2016

O ESPAÇO SOCIAL EM "FREI LUÍS DE SOUSA"


Refere-se o Espaço Social ao conjunto de informações ou referências textuais que nos permitem concluir sobre costumes e mentalidades que caracterizam uma época, a época em que decorre a ação, em que vivem as personagens.
Sucintamente:
- as características do palácio de D. Manuel apontam para a existência uma família aristocrática;
- ainda na sequência do ponto anterior: a existência de serviçais ou criados como Telmo, Doroteia e Miranda;
- D. Madalena possui um grau de educação pouco habitual para a época, sendo mulher, pois quando a ação se inicia, está a ler;
- o mesmo se passa com Maria que lê “Menina e Moça” de Bernardim Ribeiro;
- D. João de Portugal, cavaleiro, pois combateu ao lado de D. Sebastião;
- a população de Lisboa vive em péssimas condições devido à peste; as personagens vivem em Almada, razão pela qual não são atingidas visto não haver comunicação;
- próprio da época e usual nas classes sociais mais elevadas: os casamentos eram de conveniência, sem amor, à semelhança do que sucedeu com D Madalena ao casar com D. João por obrigação;
- para todos os efeitos, Maria é filha ilegítima logo que se sabe que D. João está vivo e apesar de ser fruto de um casamento, o segundo de sua mãe;
- as formas de comunicação eram dificultadas pela falta de meios e pela distância, a comprová-lo, o facto de só se saber que D. João estava vivo passados tantos anos;
- a esposa é, normalmente, mais nova do que o marido, assumindo este a função de um segundo pai.



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

"FREI LUÍS DE SOUSA": O TEMPO DRAMÁTICO.



O Tempo dramático


“Ato Primeiro”: “Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete”…
Apesar da anterior informação cénica, a ação desenrola-se no último ano do século dezasseis. Com efeito, Garrett assume, na Memória ao Conservatória Real, que os aspetos cronológicos não o terão preocupado pois considerou mais importante “o trabalho de imaginação” irreconciliável com os “algarismos das datas”.
            Seguem-se algumas das referências cronológicas que aparecem na obra:

            - período anterior a 1578 – casamento de D. Madalena com D. João de Portugal.
            - 4 de Agosto de 1578 – batalha de Alcácer Quibir; desaparecimento de D. João de Portugal assim como de D. Sebastião.
            - de 1578 a 1585 (decorrem 7 anos) – durante este período, D. Madalena faz todos os esforços para encontrar o paradeiro de D. João de Portugal sem obter qualquer resultado.
            - 1585 – D. Madalena casa com Manuel de Sousa Coutinho por quem se apaixonara ainda durante o seu primeiro casamento.
            - 1586 – da união de Manuel de Sousa Coutinho e de D. Madalena nasce Maria (que tem treze anos no momento em que se inicia a ação).
            - 1599 – ano em que decorre a ação e catorze anos após o casamento de Manuel de Sousa e de D. Madalena.
            O período de tempo que separa o desaparecimento de D. João de Portugal e o momento em que se desenrola a ação é constituído por vinte e um anos, o que nos permite situar a ação no ano de 1599.


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

"FREI LUÍS DE SOUSA": O ESPAÇO NO ATO I




ATO I
ESPAÇO

- vila de Almada
- Pontal de Cacilhas
- vista sobre o Tejo, com faluas, e Lisboa
- próximo do convento de S. Paulo (“quatro passadas”)
- palácio de Manuel Sousa Coutinho, com um eirado
- câmara antiga; luxo, elegância
- retrato de Manuel de Sousa Coutinho
- bufete com livros, tapeçarias, porcelanas
- cadeira antigas, tamboretes, contadores


in nº 21, Texto Editora

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

"FREI LUÍS DE SOUSA": O TEMPO NO ATO I


ATO I
TEMPO

- princípio do século XVII
- fim da tarde
- reformistas da Alemanha (cena 2)
- desavenças entre portugueses e castelhanos (cena 2)
- peste em Lisboa
- “depois daquela jornada de África que me deixou viúva” (cena 2)
- sete anos de buscas (cena 2)
- segundo casamento de D. Madalena há catorze anos (cena 2)
- noite fechada (cena 7)


in nº21, Texto Editora


"FREI LUÍS DE SOUSA": AS PERSONAGENS, ATO I: MADALENA


ATO I
PERSONAGENS
Madalena

- da família dos Vilhenas
- culta, dedicada à leitura (cita versos do episódio “Inês de Castro” de Os Lusíadas)
- frágil, sensível, fraca, dominada por medos e terrores (cena I)
- grata pela prontidão, servilidade de Telmo; respeita-o como a um familiar (cena 2)
- preocupada com a influência que Telmo exerce sobre Maria (cena 2), admoestando-o neste sentido
- reconhecida pela consideração e afeto que Telmo lhe dedicou logo que se casou  com 
D. João de Portugal (cena 2)
- preocupada em relação à sensibilidade / debilidade da filha (cenas 2, 3)
- fiel à memória do primeiro marido, durante 7 anos procedeu a buscas (cena 2)
- ama o segundo marido; sempre respeitou o primeiro (cena 2)
- ciumenta pela devoção que Telmo dedica a Maria (cena 2)
- constrangida pelo facto de Telmo intensificar os seus temores (cena 2), acusando-o por isso
- assustada com a possibilidade de D. João de Portugal viver ainda – “quimera”, “fantasma” (cena 2)
- preocupada com o atraso do marido que fora a Lisboa (cenas 2, 5)
- receosa, impotente perante a ação do marido face aos “poderosos” (cena 7)
- fraca, com falta de coragem para enfrentar a antiga casa (cena 7)
- obediente ao marido (cena 8)
- indiciadora de desgraças, calamidades (cena 8); pânico, presságios “três dias, três horas”
- supersticiosa, tenta salvar, em vão, o retrato de Manuel de Sousa Coutinho (cena 12)


in nº 21, Texto Editora






domingo, 13 de novembro de 2016

ELEMENTOS ESSENCIAIS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA


Hybris - Sentimento que conduz os heróis da tragédia à violação da ordem estabelecida através de uma ação ou de um comportamento que constitui um desafio aos poderes definidos sejam eles de ordem familiar, social, da natureza e / ou outros.

Em FLS, a Hybris verifica-se na realização do segundo casamento de Madalena, sem que esta tenha a certeza da morte de D. João; há um desafio ao Destino. Por sua vez, Manuel de Sousa desafia as leis da política ao incendiar o seu palácio para impedir a sua ocupação pelos espanhóis.

Pathos - Sofrimento, progressivo, do(s) protagonista(s), imposto pelo Destino (Anankê) e executado pelas Parcas (Cloto, que presidia ao nascimento e sustinha o fuso na mão; Láquesis, que fiava os dias da vida e os seus acontecimentos; Átropos, a mais velha das três irmãs, que, com a sua tesoura fatal, cortava o fio da vida), como consequência da sua ousadia.

Em FLS, verifica-se pelo sentimento de culpa de Madalena, pela instabilidade emocional de Maria; pela aflição de Manuel de Sousa ao aperceber-se da ilegitimidade de sua filha, pela angústia de Telmo que se sente dividido entre a fidelidade a D. João e o amor que entretanto ganhou a Maria.

Ágon – “Conflito (a alma da tragédia) que decorre da hybris desencadeada pelo(s) protagonista(s) e que se manifesta na luta contra os que zelam pela ordem estabelecida.”

Em FLS está visível no dilema vivido por Telmo e que o divide entre o seu amor a Maria e a fidelidade a seu amo, D. João de Portugal.

Anankê - É o Destino. Preside às Parcas e encontra-se acima dos próprios deuses, aos quais não é permitido desobedecer-lhe.

Encontra-se presente quando os espanhóis escolhem o palácio de Manuel de Sousa para habitar, determinando assim a mudança da família para o palácio de D. João; de igual modo, é o Destino a determinar a ausência deste e o seu regresso 21 anos depois.

Peripécia – “Segundo Aristóteles, "Peripécia é a mutação dos sucessos no contrário".” Caracteriza-se pela existência de um acontecimento imprevisível que altera o normal curso dos acontecimentos da ação, ao contrário do que se podia esperar.

O regresso inesperado de D. João vem alterar a ordem da família deste texto pois o casamento de Madalena e de Manuel de Sousa é anulado, situação que o Romeiro ainda tenta alterar mas que, no entanto, é já irreversível.

Anagnórise (Reconhecimento) – “Segundo Aristóteles, "o reconhecimento, como indica o próprio significado da palavra, é a passagem do ignorar ao conhecer, que se faz para a amizade ou inimizade das personagens que estão destinadas para a dita ou a desdita." Aristóteles acrescenta: "A mais bela de todas as formas de reconhecimento é a que se dá juntamente com a peripécia, como, por exemplo, no Édipo”." No reconhecimento podem ser constatados factos ou acontecimentos acidentais, ocasionais mas que se traduzem quase sempre na identificação de uma personagem como, aliás, sucede com a figura do Romeiro de FLS enquanto D. João de Portugal. O clímax dá-se quando este é reconhecido como D. João.

 Catástrofe - Desenlace trágico cujos indícios vão sendo referidos pelas personagens e que deve ser indicado desde o início, uma vez que resulta do conflito entre a hybris (desafio da personagem) e a anankê (destino), conflito que se desenvolve num crescendo de sofrimento (pathos) até ao clímax (ponto culminante). Segundo Aristóteles, a catástrofe " é uma ação perniciosa e dolorosa, como o são as mortes em cena, as dores veementes, os ferimentos e mais casos semelhantes."

Em FLS adquire várias formas: a separação de Madalena e de Manuel de Sousa quando optam pela vida religiosa; a morte de Maria; D. João ganha consciência de que não é ninguém uma vez que perdeu a casa, a vida que tinha e a mulher.

Katharsis (Catarse) – “Purificação das emoções e paixões (idênticas às das personagens), efeito que se pretende da tragédia, através do terror (phobos) e da piedade (eleos) que deve provocar nos espetadores.”


"FREI LUÍS DE SOUSA": AS PERSONAGENS, ACTO I, TELMO


ATO I
PERSONAGENS
Telmo
- crente, respeitador a Deus (cena 2)
- de baixa condição – não sabe latim (cena 2)
- fiel servidor, leal amigo de seus amos, a quem admira, prevalecendo a admiração e devoção por D. João de Portugal (cena 2)
- devoto a Maria (cena 2)
- respeitado e estimado por Madalena e Maria
- íntimo de Madalena, conhece os verdadeiros sentimentos desta (cena 2)
- amável e bondoso, deu carinho, proteção e amparo a D. Madalena logo que casou com D. João e após a viuvez (cena 2)
- autor de agouros e profecias (cena 2)
- crente de que D. João continua vivo após vinte e um anos (cena 2)
- crente da reciprocidade de estima por D. João de Portugal (cena 2)
- consciente da falta de amor de D. Madalena para com D. João de Portugal, apesar de reconhecer àquela respeito, devoção, lealdade (cena 2)
- substituto de D. João nos ciúmes que este não teve (cena 2)
- consciente da fragilidade, debilidade, doença de Maria
- amigo e apreensivo com a preocupação de Madalena em relação a Maria, compromete-se a não verbalizar a sua crença sebastianista e / ou regresso do primeiro amo junto de Maria (cena 2)

in nº 21, Texto Editora



sábado, 12 de novembro de 2016

"FREI LUÍS DE SOUSA": AS PERSONAGENS, ATO I, MANUEL DE SOUSA COUTINHO

ATO I
PERSONAGENS
Manuel de Sousa Coutinho

- da família dos Sousa; Cavaleiro de Malta
- inteligente, ativo (cenas 7, 9 10)
 nervoso, agitado, revoltado – cena 7
- prudente, toma as devidas precauções (cenas 7, 9); cauteloso, não se deixa surpreender; de decisões rápidas (cena 9)
- indiferente, despreza os receios da mulher em voltar à antiga casa, impõe a sua vontade, relativiza, inferioriza os temores dela – “caprichos” (cena 8)
- tranquiliza a mulher e pede-lhe que lhe faça o mesmo, não se deixando dominar por “vãs quimeras de criança” (cena 8)
- não sente ciúmes do passado de D. Madalena com D. João (cena 8)
- patriota, íntegro (cenas 8, 10, 11, 12); despreza a tirania (cena 10); compara-se a seu pai que morrera pela própria espada (cena 11)

in nº 21, Texto Editora


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

"FREI LUÍS DE SOUSA": ESTRUTURAS EXTERNA E INTERNA


ESTRUTURA EXTERNA
            Frei Luís de Sousa é constituído por três atos, sendo que o primeiro e o terceiro têm doze cenas e o segundo ato, quinze. Verificamos, assim, estarmos perante um texto organizado de forma tripartida, regular e harmoniosa.

ESTRUTURA INTERNA
            Nela há a considerar três partes ou momentos:

            Exposição – Ato I, Cenas I a IV
            Através das falas das personagens tomamos conhecimento dos antecedentes da ação que explicam as circunstâncias atuais; conhecemos igualmente as personagens e as relações existentes entre elas.

            Conflito – Cenas V a XII do Ato I, Ato II e até à Cena IX do Ato III
            Desenrolar gradual dos acontecimentos, em que se vivem momentos de tensão e de expetativa – no caso de FLS, desde o conhecimento de que os governadores espanhóis escolheram o palácio de Manuel de Sousa para se instalarem até ao reconhecimento do Romeiro (Clímax) – e que desencadearam uma série de peripécias.

            Desenlace – Ato III, Cenas X a XII
            Desfecho motivado pelos acontecimentos anteriores – dá-se a consumação da tragédia familiar em que Maria morre e os seus pais se veem obrigados a separar-se, morrendo um para o outro assim como para a vida terrena.
           
           

"FREI LUÍS DE SOUSA": AS PERSONAGENS, MARIA

ATO I
PERSONAGENS
Maria
- 13 anos
- curiosa, interessada, instruída, célere no entendimento, precoce (cenas 2, 3]
- formosa, fraca, frágil, doente – tísica (cens 2, 3)
- bondosa, pura, inocente (cena 2)
- estima, admiração por Telmo e à vontade perante este (cenas 2, 3)
- preocupada com a voz do povo que continua à espera de D. Sebastião (cena 3)
– perplexa por ninguém querer ouvir falar no regresso de D. Sebastião - exceto Telmo (cena 3)
- inconsciente da sua doença (cena 3)
- apreensiva com a preocupação da mãe em relação a ela (cena 4)
- com poderes sibilinos, adivinhatórios (cena 4); prevê a chegada do pai à distância (cena 5)
- diferente das outras crianças: responsável, adulta (cena 4)
- desgostosa por não ser um rapaz que pudesse ajudar o pai (cena 4)
- solidária com o povo que não pode sair da cidade para mudar de “ares” (cena 5)
- adulta, opina sobre a necessidade de remediar o desconcerto, as injustiças do mundo (cena 5)
- infantil pelo desejo de presenciar uma batalha que impedisse os governadores de se instalarem (cena 5)
- orgulhosa do caráter nobre e patriótico do pai (cena 7)

in nº 21, Texto Editora

domingo, 6 de novembro de 2016

"FREI LUÍS DE SOUSA": CONCEÇÃO CÍVICA E PEDAGÓGICA


Notas soltas, outras nem tanto :)


- Trata-se de uma obra política
·         as personagens não estão com a sua consciência centrada neles próprios, enquanto seres individuais, pois cada um deles tem uma relação objetiva com o destino histórico da sua Pátria, com o que ela é.

## o fim das personagens principais aponta para o fim do próprio país!
... um país que não tem presente mas um passado (este passado chega mesmo a ser representado pelo Romeiro, como elemento trágico para uma família, para um país).

##  Oliveira Martins chama-lhe "a tragédia portuguesa, sebastianista".
  • é um texto dramático que põe em cena o sentimento português e o jogo dos afetos humanos.
##  ler FLS exige a descodificação dos seus símbolos e mitos e o Sebastianismo é a base que estrutura e organiza a mensagem.
  • o fogo, que é deitado ao palácio, é o único ponto/gesto positivo do herói MSC, cujo retrato arde nesse mesmo incêndio.
  • o Romeiro (D. João de Portugal) é um falso D. Sebastião desejado por todos e será ele quem os destruirá com o seu regresso.
  • ele diz Ninguém!, representativo do rosto de um Portugal morto, só com passado e sem esperança, perspetivas num futuro ou de mudança.
##  FLS é escrito em 1843, quando o despotismo de Costa Cabral e a corrupção do regime ameaçavam o país com uma guerra civil. Esta obra representa igualmente o protesto e a recusa de todas as formas de tirania e opressão política, moral ou religiosa.

##  para Almeida Garrett, o conceito de progresso encontra-se ligado ao de Liberdade.

##  do conjunto de personagens de FLS apenas Maria representa uma esperança e um futuro.

##  todas as personagens são símbolos da Pátria nos vários momentos - passado, presente e futuro.


INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE "FREI LUÍS DE SOUSA"




… de Almeida Garrett
- É, talvez, a sua obra-prima literária.
- Qual a sua motivação ao escrevê-la? São várias as hipóteses que se colocam:
- Razões pessoais e familiares?
(a morte de Adelaide, que lhe deixa uma filha ilegítima);
- Razões políticas?
A crise que Portugal atravessa; espera-se que este ressuscite (Portugal sofria com os ideais liberalistas e com a ditadura de Costa Cabral)
- Razões literárias?
Existência de várias obras retratando esta temática.
Sobre a classificação literária de F.L.S. enquanto género literário.
Para os gregos, a tragédia era a forma superior do género dramático.
Almeida Garrett cria um género híbrido, formado a partir de elementos de categorias diferentes em que mistura o Drama e a Tragédia.
Problemática da classificação da obra
Almeida Garrett, na Memória ao Conservatório Real de Lisboa, afirma:
- FORMA (Drama)  --- Drama Romântico: expressa literariamente um determinado estado social.
- tem 3 atos;
- texto escrito em prosa (adapta-se melhor à expressão de sentimentos das personagens);
- respeita a lei das 3 unidades (Ação, Espaço e Tempo);
- tem elementos trágicos.
- ÍNDOLE (Tragédia)
- assunto retirado da história nacional; --- tal como no Drama Romântico em que a ação da peça "esconde" uma situação real.
- ação dramática e trágica;
- poucas situações, poucas personagens e atitudes simples;
- personagens tementes a Deus e honestas; --- tal como no Drama Romântico em que o ser humano é alvo de uma atenção analítica; faz-se a exaltação dos valores patrióticos e religiosos.
- nem amores, nem aventuras, nem paixões, nem violências;
- ação simples.
Não tem como os dramas clássicos:
            - um mau
            - um tirano
            - verso como forma de expressão

Não tem como os dramas modernos:
            - Assassínios; adultérios; incestos; blasfémias; maldições.
Tem:
- Terror (a provocar no espetador)

Não está escrita em verso por isso contenta-se com o título modesto de Drama, mas um Drama Moderno porque, pela forma, não merece a categoria mas pela índole, há de ser um antigo género trágico.


quarta-feira, 6 de julho de 2016

SERMOS PORTUGUESES PARA ALÉM DESTE AMADO CANTO!




Há, nos confins da Ibéria, um povo que não se governa nem se deixa governar.



Palavras de Júlio César aquando da sua chegada à Península Ibérica e por ocasião das guerras púnicas que trouxeram os romanos até nós.

Tê-lo-á dito por desespero mas por razões melhores do que aquelas que me trazem a este Sentir (assim!) Português.

Quem me conhece sabe que o meu clube é a Seleção.
O meu garoto tinha 4 anos quando aprendeu o Hino Nacional com o Euro em 2004. Não me choca que tenha sido este o meio, choca- me, sim, que esse tenha sido o possível em âmbito alargado.

E estamos de novo no Euro. Nas meias-finais. O que parece agradar particularmente aos emigrantes; quantos aos residentes, não sei o que pensar.

São inúmeras as críticas a tudo e todos, em que tudo e todos levam por tabela: selecionador, jogadores, falta de golos, empates... até parece que mais valia nem termos sido apurados.
E todos esquecem que equipas favoritas, afinal, entraram de férias mais cedo, que a Alemanha e a Itália, duas das favoritas ao título, disputaram os quartos a penaltis, imagine-se - alguém viu? - e nós, nas meias, somos os patinhos feios da história.

Oh! Tristeza de gente, não digo de povo, mas de gente, de alguns que deviam ser nenhuns - desculpem-me, mas em matéria de Pátria, Nacionalismo e afins, não considero qualquer direito à diversidade de opinião. O caminho é único.

O meu respeito por todos os emigrantes que acordam os dias no centro de estágios em França, que por lá permanecem, que esperam a saída da seleção e a sua entrada depois dos jogos, que acreditam, que gritam, que apoiam, sem vergonha de se manifestarem, de darem a cara mesmo que Portugal não passe e que veem nesta ascensão de etapas, uma forma de provarem ao povo francês  que também conseguem estar ao seu nível e, como dizia hoje numa reportagem um emigrante, foi o povo português que ajudou a construir parte dos estádios, o mesmo que colabora para que aquele país seja o que hoje é - e nós, lembramo-nos deles e de outros por esse Mundo fora, como?

E sim, estou zangada. Custa-me que também os estrangeiros entrevistados nos apoiem e que uma parte de nós desacredite das nossas capacidades... porque não se trata aqui, diga-se, de uma questão de capacidades, mas de brio, de falta de saudade, a mesma que os emigrantes sentem do seu País, assim levado até eles através de umas dezenas de desportistas. Dizem, é um orgulho termos aqui perto um pedacinho do nosso Portugal... o mesmo a que nos habituamos porque nele vivemos e de que sentiremos falta se tivermos de o abandonar. 

Um dia, o meu garoto, então com 10 ou 11 anos, perguntou-me se eu sentia orgulho em ser portuguesa (início da crise, alma um pouco abalada, enfim...) Disse-lhe que quem não tinha Pátria não tinha nada; mesmo quando se tem apenas as pedras para pisar, temos um teto; e que mesmo que esse País nos desgoste, é como um filho que nunca deixa de o ser por maiores que sejam os seus defeitos.

Como podem, então, estes filhos de lado nenhum, esquecerem o modo como certos jornalistas franceses nos classificaram? Neste momento, esse é o ponto de honra para os nossos emigrantes e que os obriga a clamarem por justiça. O tal brio, afinal.

Melhor do que tudo isto, só mesmo a iniciativa do nosso portuguesinho de 7 anos gigantes a apelar ao apoio à seleção, recorrendo ao exemplo islandês que considero das melhores experiências já vistas. Muito teremos a aprender, certamente...











quarta-feira, 1 de junho de 2016

O GEBO E A SOMBRA - ATO I




Clara Nunes Correia
A Negação do Tempo, UNL

Reler os textos de teatro obriga a uma auto-disciplina. Não são fáceis nem divertidos.

A condição humana é retratada de forma crua, as personagens são construídas rigorosamente para existirem sempre.





Em O Gebo e a Sombra o tema dominante é a pobreza.

A pobreza associada à desgraça e à desonra, ou antes, a pobreza como contrapartida para conservar a honra e a honestidade.

No Ato Primeiro, o espaço é uma casa pobre. Intervêm Gebo, Doroteia e Sofia; esta última é mulher de João, filho do casal, o qual se encontra desaparecido há 8 anos.

Sem certezas declaradas, são várias as hipóteses colocadas para explicar este desaparecimento: talvez esteja preso, talvez ande fugido, talvez "ande a monte". Raul Brandão não nos conta a verdade, não dá a conhecer a realidade, a verdade, apenas faz alusão à situação.

Só Sofia e Gebo conhecem a verdade e é esse o seu fardo, o que os faz sofrer, podemos quase afirmá-lo, a sua sombra. Esta é também a verdade que nos ilude sempre.

Gebo e Sofia mentem a Doroteia, a Mãe, aquela que acredita que o seu filho é um "bom menino", o mesmo que emigrou para ganhar a vida e sair daquela pobreza.

Gebo não fala, não diz nada e foge às perguntas de Doroteia; no entanto, sofre quando afirma não saber nada de João. Procura refúgio nas suas contas, nos livros de contabilidade que são o centro do seu trabalho.

Sofia também sofre: com o sofrimento em que imagina o seu marido, com o sofrimento do velho a quem chama Pai, com o seu próprio sofrimento e com a mentira que é a raiz da pobreza.







terça-feira, 3 de maio de 2016

"O GEBO E A SOMBRA" DE RAUL BRANDÃO



Temáticas:

(de acordo com o programa de L.P.)

  • o simbolismo; o expressionismo, o preexistencialismo
  • as problemáticas existencial, metafísica e social
  • a farsa existencial / a tragédia existencial
  • o herói-louco
  • o sentimento de absurdo ligado ao grotesco, gerado pela discrepância existente entre a realidade e o sonho, a grandeza e a abjeção 





O Gebo e a Sombra é uma peça de teatro constituída por 4 atos, 17 cenas, distribuídas da seguinte forma:

  • primeiro ato - 5 cenas;
  • segundo ato - 6 cenas;
  • terceiro ato - 3 cenas;
  • quarto ato - 3 cenas.
Personagens: Gebo, Doroteia, Sofia, João, Candidinha e Chamiço.
Figurantes: um Polícia e os vizinhos.

Cada ato possui uma didascália inicial que faz a apresentação do cenário e de outros elementos que permitem caracterizar as personagens e revelam o seu estado de espírito.

De acordo com o movimento neorrealista a que aderiu, Raul Brandão concentra a sua atenção nas temáticas sociais, fazendo-     -lhes apenas referência, observando-as com um olhar acutilante e discutindo as implicações dos problemas sociais que retratava.

sábado, 30 de abril de 2016

A/T DOS ANÓNIMOS QUE POR AQUI APARECEM...



ao que me mandou calar...

- Lamento, mas não posso fazer-lhe a vontade.

ao que me questionou em PASTORA DA SERRA, CANTIGA ALHEIA



não me parece que a Natureza seja valorizada no poema porquanto ela é "utilizada" pelo sujeito poético para antes valorizar a jovem pastora que, em tudo o que é referido, lhe é superior.

*** é preferível escrever-se "Poderia dizer-me..."

Poderia-me dizer de que modo a natureza é valorizada no poema???

sábado, 19 de março de 2016

EÇA DE QUEIRÓS, SÉCULO XIX, TEATRO S. CARLOS






Lisboa. Teatro de S. Carlos (vista exterior) - último quartel do séc. XIX
Vista exterior do Real Theatro de S. Carlos em 1893
Gravura, Cazellas, 1893
in O Ocidente, vol. 23, 1900, p.216



- Podiam ir a S. Carlos, que acaba mais tarde... É o «Fausto»... podiam ir ver o «Fausto»...
- Podíamos ir ver o «Fausto» - repetiu Luísa suspirando.

O Primo Basílio
, 1878