Há, nos confins da Ibéria, um povo que não se governa nem se deixa governar.
Palavras de Júlio César aquando da sua chegada à Península Ibérica e por ocasião das guerras púnicas que trouxeram os romanos até nós.
Tê-lo-á dito por desespero mas por razões melhores do que aquelas que me trazem a este Sentir (assim!) Português.
Quem me conhece sabe que o meu clube é a Seleção.
O meu garoto tinha 4 anos quando aprendeu o Hino Nacional com o Euro em 2004. Não me choca que tenha sido este o meio, choca- me, sim, que esse tenha sido o possível em âmbito alargado.
E estamos de novo no Euro. Nas meias-finais. O que parece agradar particularmente aos emigrantes; quantos aos residentes, não sei o que pensar.
São inúmeras as críticas a tudo e todos, em que tudo e todos levam por tabela: selecionador, jogadores, falta de golos, empates... até parece que mais valia nem termos sido apurados.
E todos esquecem que equipas favoritas, afinal, entraram de férias mais cedo, que a Alemanha e a Itália, duas das favoritas ao título, disputaram os quartos a penaltis, imagine-se - alguém viu? - e nós, nas meias, somos os patinhos feios da história.
Oh! Tristeza de gente, não digo de povo, mas de gente, de alguns que deviam ser nenhuns - desculpem-me, mas em matéria de Pátria, Nacionalismo e afins, não considero qualquer direito à diversidade de opinião. O caminho é único.
O meu respeito por todos os emigrantes que acordam os dias no centro de estágios em França, que por lá permanecem, que esperam a saída da seleção e a sua entrada depois dos jogos, que acreditam, que gritam, que apoiam, sem vergonha de se manifestarem, de darem a cara mesmo que Portugal não passe e que veem nesta ascensão de etapas, uma forma de provarem ao povo francês que também conseguem estar ao seu nível e, como dizia hoje numa reportagem um emigrante, foi o povo português que ajudou a construir parte dos estádios, o mesmo que colabora para que aquele país seja o que hoje é - e nós, lembramo-nos deles e de outros por esse Mundo fora, como?
E sim, estou zangada. Custa-me que também os estrangeiros entrevistados nos apoiem e que uma parte de nós desacredite das nossas capacidades... porque não se trata aqui, diga-se, de uma questão de capacidades, mas de brio, de falta de saudade, a mesma que os emigrantes sentem do seu País, assim levado até eles através de umas dezenas de desportistas. Dizem, é um orgulho termos aqui perto um pedacinho do nosso Portugal... o mesmo a que nos habituamos porque nele vivemos e de que sentiremos falta se tivermos de o abandonar.
Um dia, o meu garoto, então com 10 ou 11 anos, perguntou-me se eu sentia orgulho em ser portuguesa (início da crise, alma um pouco abalada, enfim...) Disse-lhe que quem não tinha Pátria não tinha nada; mesmo quando se tem apenas as pedras para pisar, temos um teto; e que mesmo que esse País nos desgoste, é como um filho que nunca deixa de o ser por maiores que sejam os seus defeitos.
Como podem, então, estes filhos de lado nenhum, esquecerem o modo como certos jornalistas franceses nos classificaram? Neste momento, esse é o ponto de honra para os nossos emigrantes e que os obriga a clamarem por justiça. O tal brio, afinal.
Melhor do que tudo isto, só mesmo a iniciativa do nosso portuguesinho de 7 anos gigantes a apelar ao apoio à seleção, recorrendo ao exemplo islandês que considero das melhores experiências já vistas. Muito teremos a aprender, certamente...
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