Tempo
É um
tempo dilatado, tendo o espetador
dificuldade em se aperceber da sua passagem.
Cómico
Encontramos, nesta farsa, cómico
de situação ou de personagem em Inês, Pêro Marques e no
Escudeiro; de situação na cena de
‘’namoro’’ de Inês com Pêro Marques; de
linguagem na carta e linguagem de Pêro Marques e na fala dos Judeus
casamenteiros. Podemos considerar as rezas e as pragas (esconjuros) como cómico de linguagem.
Objetivo da crítica vicentina
Gil Vicente critica:
·
A mentalidade das jovens raparigas;
·
Os escudeiros fanfarrões, galantes e pelintras;
·
A selvajaria e ingenuidade de Pêro Marques;
·
As Alcoviteiras e os Judeus casamenteiros;
·
Os casamentos por conveniência;
·
Os Clérigos e os Ermitões.
Concluindo
Desta ação
pode extrair-se que o que Inês mais queria, acabou por conseguir: a sua liberdade, encontrada junto de Pêro Marques.
A unidade da ação é dada pelo tema e
pela personagem principal, Inês Pereira, sempre presente em cena sendo que todas as personagens e ação giram à sua volta.
Não há dúvida
de que Gil Vicente demonstrou aos contemporâneos que nele não acreditavam, e
com esta peça, ser de facto, o grande
criador das obras que fazia representar.
E AINDA...
A temática da
peça Farsa de Inês Pereira está profundamente ligada à realidade social da
época de Gil Vicente: o desejo de ascensão social da pequena burguesia que vê
no casamento uma forma de consegui-la, o oportunismo, o desprezo pela vida
ligada ao campo e o fascínio pelos hábitos e costumes da Corte face à
ignorância do rústico, embora rico, e à sua ingenuidade, a falta de escrúpulos
(núcleo da peça).
O
desenvolvimento do capitalismo reforçou o poder do monarca e provocou a
decadência da nobreza feudal e a riqueza proveniente do comércio ultramarino
tendia a ser grande base do prestígio social. A aristocracia dependia dessa
riqueza e procurou diminuir a sua importância, desprezando-a e valorizando as
origens, da ascendência do sangue, a educação, a fineza, as boas maneiras, a
honra e a coragem, enfim os ideais cavaleirescos. E como a nobreza, mesmo
decadente, ainda conservava grande prestígio social, acabou por impor o estereótipo
do cavaleiro como modelo a que deviam aspirar todos aqueles que queriam
pertencer à classe superior.
A burguesia
(comércio e finanças) procurou imitar esse figurino com desejo de ascensão
social passando a imitar os nobres enquanto sonhavam subir na escala social,
mas isso tornou-se cómico e ridículo.
É mais ou menos o que acontece em
“Inês Pereira”, o Escudeiro domina Inês e torna-a infeliz. Viúva, ela procura o
antigo pretendente rejeitado, casa-se com ele por ser rico, ingénuo e tolo,
acabando por dominá-lo e traí-lo sem o menor remorso.