domingo, 21 de junho de 2015

"OS LUSÍADAS" e "MENSAGEM" - Síntese (parte I)

  1. Os Lusíadas e Mensagem cantam, em perspetivas diferentes, a grandeza de Portugal e o sentimento português.
  2. Nas duas primeiras partes da Mensagem é possível um diálogo com Os Lusíadas; em O Encoberto, Pessoa situa-se no momento em que o Império Português parece desmoronar-se por completo e, assume, então, o cargo de anunciador de um novo ciclo que então se desenhava, o Quinto Império, que não precisa de ser material mas civilizacional.
  3. Os Lusíadas são uma narrativa épica que faz uma leitura mítica da História de Portugal. Em estilo elevado, canta uma ação heroica passada e analisa os acontecimentos futuros, cuja visão os deuses são capazes de antecipar.
  4. Fernando Pessoa, no poema épico-lírico, canta, de forma fragmentária e numa atitude introspetiva, o império territorial, mas retrata o Portugal que "falta cumprir-se", que se encontra em declínio a necessitar de uma nova força anímica.
  5. Camões, n'Os Lusíadas, propõe o povo português como sujeito da ação heroica.
  6. Camões inicia Os Lusíadas com "As armas e os barões assinalados", mostrando que os nautas foram escolhidos para alargarem "a Fé e o Império".
  7. Camões procura perpetuar a memória de todos os heróis que construíram o Império Português; Fernando Pessoa descobre a predestinação desses heróis, para encontrar um novo heroísmo que exige grandeza de alma e capacidade de sonhar, quando o mesmo Império se mostra moribundo.
  8. Os nautas, incluindo Vasco da Gama, são símbolo do heroísmo lusíada, do seu espírito de aventura e da capacidade de vivência cosmopolita.
  9. Em Os Lusíadas, Camões conseguiu fazer a síntese entre o mundo pagão e o mundo cristão; na Mensagem, Pessoa procura a harmonia entre o mundo pagão, o mundo cristão e o mundo esotérico (do ocultismo).
  10. Fernando Pessoa, na Mensagem, procura anunciar um novo império civilizacional. O "intenso sofrimento patriótico" leva-o a antever um império que se encontra para além do material.
  11. Estrutura tripartida da Mensagem: 
      - Nascimento
      - Vida
      - Morte / renascimento




DIZ PESSOA A PROPÓSITO DE "MENSAGEM" - (das razões que justificam a escrita de "Mensagem")


Publiquei em Outubro passado, pus à venda, propositadamente, em 1 de Dezembro, um livro de poemas, formando realmente um só poema, intitulado Mensagem. Foi esse livro premiado, em condições especiais e para mim muito honrosas, pelo Secretariado de Propaganda Nacional.

Fernando Pessoa, Obras em Prosa

Aqueles portugueses do futuro, para quem porventura estas páginas encerrem qualquer lição, ou contenham qualquer esclarecimento, não devem esquecer que elas foram escritas numa época da Pátria em que havia minguado a estatura nacional dos homens e falido a panaceia abstracta dos sistemas. A angústia e a inquietação de quem as escreveu, porque as escreveu quando não podia haver senão inquietação e angústia, devem ser pesadas na mão esquerda, quando se tome, na mão direita, o peso do seu valor científico.
Serão, talvez e oxalá, habitantes de um período mais feliz [...] aqueles que lerem, aproveitando estas páginas arrancadas, na mágoa de um presente feliz, à saudade imensa de um futuro melhor.
Fernando Pessoa, Da República


ANÁLISE DO POEMA "O DOS CASTELOS" in "MENSAGEM" DE FERNANDO PESSOA



O DOS CASTELOS


A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.

8-12-1928



Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa:
Parceria António Maria Pereira, 1934
(Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972).






      O poema está construído com base numa personificação da Europa, como se se tratasse de um corpo humano. Esta personificação permite uma aproximação da realidade da geografia física com o mito que deu origem à designação Europa e possibilita o realce de algumas partes desse corpo.


      A descrição vai-se desenvolvendo do geral para o particular. O sujeito poético refere, logo no início do poema, o tema gerador da descrição – «A Europa» – e apresenta os dois traços definidores: «jaz, posta nos cotovelos» e «fitando». Estes dois traços serão desenvolvidos nas segunda, terceira e quarta estrofes. A segunda estrofe caracteriza os dois «cotovelos», nomeia-os, indica a sua forma e concretiza a visualização (o direito, representando a Inglaterra e o esquerdo, a Itália, locais onde se encontram as raízes culturais que constituem a identidade europeia). A terceira e quarta estrofes organizam-se em volta do verbo «fitar», desvendando a simbologia do olhar no poema e justificando a importância do rosto e do olhar.


      O poema assenta em duas imagens contraditórias: uma imagem de lassidão, de dormência transmitida pelo verbo jazer e uma outra de expectância, de captação e de compreensão traduzida pelo verbo fitar o qual aponta, igualmente, para uma renovação.. Estas duas imagens simbolizam a conjugação do passado com o presente e com o futuro, denunciando a importância de Portugal na construção desse futuro.

      A importância de Portugal, rosto da Europa, e portanto, a face visível de tudo o que ela representa, é posta em relevo pelo monóstico final do poema, sendo Portugal visto também como cabeça (rosto) da Europa. A organização descritiva inicial do poema, de maior fôlego, vai-se condensando, para se apoiar, na parte final, no rosto e no olhar. A diminuição de versos nesta última parte indicia a valorização crescente que se prenuncia e cuja tónica é colocada no último vocábulo do poema – Portugal.

      O texto poético apresentado é o primeiro poema da primeira parte, Brasão, da obra Mensagem. Como este poema já revela, há, na obra, uma valorização de Portugal dentro da Europa e a “mensagem” que se procura veicular é a da importância de um povo como vaticinador de um mundo novo, mas, simultaneamente, a advertência para a decadência desse povo. Como acontece para a Europa, neste poema, várias figuras históricas ou mitológicas são apresentadas em poemas distintos, havendo o realce para os seus traços essenciais.


Ricardo Reis - apontamentos soltos




Segundo o poeta, cada um de nós deve viver a sua própria vida, isolando-se dos outros e procurando apenas na sobriedade individualista o que lhe agrada.

Não se devem procurar os prazeres violentos mas optar pela busca mínima da dor e pela procura, sobretudo, da calma, da tranquilidade, do esforço e da atividade úteis.

No entanto, alcançar a felicidade e a calma deve ser encarado como uma ilusão.
A felicidade está na liberdade e não nos podemos esquecer que esta está vedada aos próprios deuses sobre quem pesa o Fado. Também a calma deve ser uma opção nossa mas não nos será possível alcançá-la uma vez que vivemos à espera da morte. A consciência disto provoca em nós um sentimento de angústia.

A obra de Ricardo Reis é o esforço lúcido e disciplinado para obter uma qualquer forma de calma. Esta ideia assenta numa crença verdadeira nos deuses da Grécia antiga, admitindo Cristo como um deus a mais. Esta mesma ideia está de acordo com o Paganismo e é, em parte, inspirada em Caeiro para quem o Menino Jesus era “o deus que faltava”.

Outras características:

Temáticas:

*      o culto do Belo como forma de superar a transitoriedade da vida e dos bens terrenos;
*      as ameaças do Fatum, da Velhice e da Morte;
*      tal como para Caeiro, a felicidade só é possível no sossego do campo;
*      o vinho, o sorriso e as flores como formas de iludir o sofrimento resultante da consciência da brevidade da vida;
*      o autodomínio e a contenção dos sentimentos;
*      a quase ausência de erotismo, de amor autêntico;

Estilísticas:
*      a frequência da inversão: anástrofe e hipérbato;
*      a frequência da elipse e da perífrase;
*      preferência pela ode (influência de Horácio) e recorrência ao verso decassilábico alternando ou não com o hexassílabo;
*      frequência do gerúndio;
*      frequência do imperativo (de acordo com o carácter moralista das odes);
*      verso branco ou solto com recorrência à assonância, à aliteração e à rima interior.

Ricardo Reis - agora, a sério.




RICARDO REIS

      

DADOS BIOGRÁFICOS

·      Nasceu no Porto, em 19 de Setembro de 1897. Foi educado num colégio (latinista por educação alheia e semi-helenista por educação própria).
·      Formou-se em Medicina.
·      Por ser monárquico partiu para o Brasil em 1919.
·      Era moreno, mais baixo e mais forte que Caeiro.
Elementos retirados da carta sobre a génese dos heterónimos
de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro (1935)

      

CARACTERÍSTICAS SEMÂNTICAS E IDEOLÓGICAS

·      Intelectualização das emoções – o poeta racionaliza as emoções e recusa o seu valor, face à realidade que descobre, através do pensamento.
·      Constatação da inutilidade da ação.
·      Consciência de um Destino superior do Homem, o que o leva a encará-lo como um ser manipulado pelos deuses mas de forma digna e ativa.
·      Discípulo de Caeiro, aconselha, como o Mestre, a aceitação calma da ordem das coisas e faz o elogio da vida campestre, indiferente ao social.
·      Epicurismo e estoicismo – o ser humano nunca poderá ser feliz; deve evitar os prazeres fortes e aceitar a dor como algo que, inevitavelmente, teremos de sentir; a tranquilidade é o nosso único quinhão de felicidade e de liberdade.
·      Recusa de inserção do indivíduo na sociedade, pela negação da praxis, ou seja, pela crença na inutilidade da ação.
·      Estoicismo – aceitação passiva de tudo – a vida humana deve ser encarda como a vida dos outros seres que existem no universo (há dias de sol e dias de chuva – esta é a verdade suprema e só a sua aceitação conduzirá à tranquilidade – o Homem não deverá integrar-se numa determinada sociedade, mas no todo cosmogónico).

CARACTERÍSTICAS FORMAIS

·      Didatismo (parece estar a ensinar uma lição de vida).
·      Tom coloquial (destinatário implícito ao discurso – o poeta dirige-se a um “tu”).
·      Substantivos como atributos (os substantivos adquirem o valor de adjetivos).
·      Latinismos.
·      Recursos a apócopes.
·      Hipérbatos (alteração violenta da ordem normal dos sintagmas).
·      Repetição de sons.
·      Predominância de sons nasais e fechados.
·      Rima no interior dos versos.
Nota: estas características formais revelam influência da poesia horaciana.

ESTOICISMO

Escola filosófica helenística fundada por Zenão, na primeira parte do século III a. C. (Zenão era fenício, natural de Citium, em Chipre; viveu em Atenas).
O estoicismo desenvolveu-se até Marco Aurélio, imperador romano, que se dedicou à virtude estóica (161 d. C.).
Ideias fulcrais:
·      Crença na conclusão de um ciclo (através do fogo), que seria substituído por outro (a repetição cíclica era indefinida);
·      Deus é a alma do mundo e cada um de nós contém parte do fogo divino;
·      A vida individual deve estar de acordo com as leis da Natureza (a virtude significa viver de acordo com as leis cósmicas);
·      Devemos desprezar as paixões porque conduzem ao sofrimento.

EPICURISMO

Filosofia fundada por Epicuro em 311 a. C. (Epicuro nasceu em 342-1 a. C., em Ática).
Ideias fulcrais:
·      Filosofia que se destinava a dar tranquilidade às pessoas;
·      Defesa do prazer como um bem, mas um prazer moderado; virtude significa prudência na busca do prazer;
·      Devem procurar-se os prazeres tranquilos e não as alegrias violentas;
·      Abolição da riqueza e da honra porque roubam o descanso a quem poderia estar feliz;
·      Recusa do amor porque implica sofrimento – a amizade é o melhor prazer social;
·      Crença de que os deuses não interferem nas coisas humanas e de que a alma morre com o corpo.

PLATONISMO

(Ver conceitos sobre Camões)

     Platão acreditava, ao elaborar a teoria da Reminiscência, que as almas teriam tido um contacto com a realidade essencial, num primeiro estádio da sua existência. Todos os homens deveriam, então, tentar captar o real, para além daquilo que os seus sentidos permitem, de modo a alcançar a essencialidade do objeto sensível. Para se alcançar a Essência, devemos tentar atingir a beleza espiritual; é esse o caminho para, simultaneamente, nos aproximarmos da ideia de Bem. Este associa-se à espiritualidade pura e origina a própria beleza.
     Platonismo pode ainda ligar-se a uma determinada conceção do amor – se o mundo sensível é o espelho do mundo inteligível, o mundo da verdadeira Perfeição, a beleza de uma mulher deverá, então, funcionar como uma consciencialização da vontade de ascender a uma beleza superior, uma vez que lhe conferimos o seu carácter de manifestação divina. O amor não é, pois, o amor à mulher material mas à ideia da perfeição que essa mulher representa. Trata-se de um amor ideal, purificado, que se situa acima da materialidade das coisas e da própria mulher amada, que é elevada ao grau máximo de virtude e funciona como o símbolo da Perfeição na Terra.



"FELIZMENTE HÁ LUAR!" - NOTAS BREVES, ANÁLISE GLOBAL



Felizmente Há Luar !


O desenrolar da acção gira em torno da figura, sempre ausente, do general Gomes Freire, mas também sempre tornado presente pelas outras personagens. (É ele o centro das atenções de todas as personagens que por ele esperam e dele falam.).

O tema da peça é a tentativa de conspiração contra o poder totalitário dos Governadores durante a ausência de D. João VI, vivendo no Brasil, e que foi abafada sob cruel repressão. (Tema histórico, real).

O bode expiatório foi o General – a frase de D. Miguel é bem esclarecedora:

“Não há inocentes, Reverência. Em política, quem não é por nós, é contra nós".

O povo, principalmente, aparece associado à rua; os poderosos, aos interiores.

Podemos considerar:

- a apresentação em grupo (populares “habitam” o espaço dos que nada têm, a rua).
- dormir no chão = símbolo da ausência de casa, de abrigo – miséria.
- o acto de catar piolhos – miséria. É representativo das condições deploráveis em que vivem.
- o acto de fugir às tropas (próprio de quem conhece a repressão).
- o acto de transportar consigo bens domésticos (vida sujeita às condições do acaso).

Matilde partilha com os populares o facto de ser vítima do regime repressivo e o sentimento de perda (ela perde o amante; o povo perde a esperança de mudança que Gomes Freire representa).
O ritmo no Acto II é mais rápido se pensarmos que decorrem 150 dias e a série de acontecimentos é menor.
A acção decorre durante 150 dias, o tempo que vai da prisão de Gomes Freire até à sua morte.
Os acontecimentos que decorrem são a prisão do General e o recurso de Matilde a todas as formas na tentativa desesperada de o salvar.

As três classes que se destacam são o  povo, os delatores e os governadores.

Vicente, numa primeira fase, vive a mesma fome, a mesma miséria e os mesmos terrores dos seus companheiros. É mais astucioso e espera uma hipótese de mudança, só conta “meia verdade” aos outros o que faz com que ganhe a confiança dos Governadores. Através da traição e da denúncia consegue um posto de Polícia – vende-se pelo preço de um emprego, perdendo dignidade. Acaba por integrar o grupo de delatores.


Matilde e Sousa Falcão encontram-se unidos pela fidelidade ao General.

Matilde destaca-se por ser quem luta com coragem, movida pelo desespero, contra as forças adversas que os Governadores representam, contra o silêncio do Povo.”Abana” o cinismo dos Governadores e denuncia, sem sucesso, a injustiça e a tirania.
Sousa Falcão acompanha-a até ao fim, dominado  pela consciência intranquila /pesada de não ter tido coragem de assumir o que pensava.

O General Gomes Freire é o protagonista, ainda que nem chegue a entrar em cena. É à volta da sua figura que toda a acção se desenvolve, pois está omnipresente nas falas, no pensamento e nas acções das personagens.

No primeiro acto, os populares movimentam-se à volta da figura do General e dispersam-se à voz de comando dos polícias. No segundo acto, já não se movimentam, melhor dito, silenciam todo e qualquer apoio ao seu ídolo, e, simbolicamente, abandonam-no ao seu destino.

Pertencentes ao grupo dos delatores, são personalidades mesquinhas, que nem os próprios códigos morais respeitam. No plano dramático, não há evolução, mas no plano narrativo sabemos que, antes do tempo de acção, já tinham renegado a Maçonaria – a que pertenciam – e começam a reger-se pelo medo que os leva ao oportunismo.

Beresford é o mais autoritário dos governadores e o detentor de maior poder – representa o domínio inglês no nosso país.

D. Miguel é prepotente mas servil em relação a Beresford – representa a nobreza sujeita a forças estrangeiras, devido à ausência do rei D. João VI.

Principal Sousa – domina pelo terror em nome de um “Deus feito à imagem e semelhança dos homens” – representa a interferência da Igreja no Estado.

D. Miguel defende, como sistema, a sua posição de cúpula prepotente, distanciado do povo a quem não reconhece direito ao diálogo.

Sendo Matilde uma mulher do povo, D. Miguel manifesta e reitera o seu total desprezo, não apenas em discurso retórico (acto I), mas em acção na recusa peremptória em receber Matilde, interpondo um criado para a mandar embora (acto II).

Frei Diogo ousa, subtilmente, demarcar-se das atrocidades cometidas em nome de Deus. É esclarecido, representando, por isso, uma oposição silenciosa dentro do Clero.



Felizmente há Luar!

Para D. Miguel o luar simbolizou um aliado superior como única luz possível para que o povo pudesse contemplar o castigo / exemplo atroz. Mas é bom lembrar que havia uma lei que proibia as execuções depois do sol-posto. Portanto, “felizmente” o luar substituiu a “legalidade” de uma hora solar.
Para Matilde, o sentido é muito mais vasto: a esperança da mudança para uma nova fase da política e da vida em Portugal, sabendo que a Lua evolui nas suas diferentes fases. Como reflexo do Sol e ainda como símbolo do princípio feminino, realiza-se a simbiose com a voz feminina de Matilde, voz uterina da gestação na esperança de uma revolução concretizada, a partir do exemplo de um mártir da Pátria.
Ainda a saia verde constitui um acréscimo importante na mensagem de esperança que, de resto, é também a voz do próprio Sttau Monteiro.

… mais notas
O espectador/leitor vai-se apercebendo de que o tempo vai passando no acto II através das várias deslocações de Matilde, com a luz a apagar-se sobre um espaço para se acender sobre outro, acompanhando a personagem na progressão da acção.

O contexto social e político que serve de pano de fundo à peça projecta-se no século XX pelo “efeito de distanciação”. Deste modo, o leitor / espectador vê-se igualmente projectado nas personagens em acção. A falta de liberdade de expressão e a censura, durante a ditadura Salazarista  levaram o autor a “proteger-se” na capa de figuras e situações históricas distanciadas mais de 100 anos, mas muito paralelas. 


Meninos:

Apesar de se tratar de um conjunto de respostas a um questionário abrangendo toda a obra, não o considerem desse modo que o tempo urge... :)) 

Notas soltas, pode ser?

"Memorial do Convento" - A Epopeia da Pedra






A Epopeia da Pedra   (Cap. XIX)

v  Epopeia – é geralmente um poema extenso em que são narradas acções heróicas e grandiosas, façanhas de heróis ou factos memoráveis do colectivo/povo.
v  Esta epopeia é consagrada ao transporte de uma pedra enorme de Pêro Pinheiro – Mafra, durante 15Km. Esta pedra destinava-se à varanda sobre o pórtico da igreja.
Ø  Carro puxado por 200 juntas de bois.
Ø  Pedra = 7m x 3m x 64 cm
Ø  Peso = + 30 ton. E demorou 8 dias a ser transportada.

v  Importância deste capítulo deve-se ao seguinte:
*      O narrador faz realçar  o povo e elege os seus heróis, construtores da História,  que ficam normalmente anónimos.
*      Herói – é o Povo, humilhado, sacrificado e miserável, eleva-se, superando as duas outras classes.
*      Destacam-se neste Cap. o suor, o sacrifício, a morte dos homens que trabalham sem descanso para cumprir a promessa do rei.
*      Aspectos a considerar;
Ø  Descrição da pedra / dimensões.
Ø  Dificuldades e trabalhos para colocarem a Pedra em cima do carro (pormenores).
Ø  Não é apenas a força que é exigida.
Ø  Dificuldades da viagem.

v  O fim da Epopeia da Pedra – no final do capítulo… (considerações)

A Sagração do Convento – (Cap.XXI)

v  Depois de termos verificado o pavor do Rei em morrer, percebe-se o respeito pela marcação da Sagração para 22 Out. 1730, um Domingo.
*      O rei contratou mais operários – facilmente concluímos pela sua atitude relativamente à construção do convento que é um rei cujo poder é absolutista.

v  Origem do nome de Mafra (iniciais) – nota /explicação do narrador.
v  Comparação dos homens a tijolos.
*      Mostra como eles são simples peças de uma obra, perdendo o valor quando já não servem.



 O Dia da Sagração – Cap. XXIV

v  Cerimónia caracterizada pelo luxo / ostentação.
v  Os festejos duram 8 dias, o mesmo período de tempo que durou o transporte da pedra. Será desta varanda que o patriarca lançará a bênção ao povo.  







PRIMEIRO MODERNISMO - Os "ismos" pessoanos (parte II)



(continuação)


v  1913 – Mário de Sá-Carneiro escreve o livro de poemas “Dispersão”;

v  1914 – Pessoa publica “Impressões do Crepúsculo” (ou “Paúis”) na revista “Renascença”. Conhece Almada Negreiros numa exposição deste. Forma-se o grupo da revista “Orpheu”;

v  1915 – são publicados os dois únicos números de “Orpheu” com o objetivo de escandalizar e irritar a burguesia. A revista soçobra antes da saída do terceiro número;

v  1916 – Sá-Carneiro suicida-se. O grupo de “Orpheu” dispersa-se e publica textos noutras revistas: “Centauro” e “Exílio” (1916), “Portugal Futurista” (1917), “Contemporânea” (1922-26) e “Athena” (1924-25).


DECADENTISMO – Ligeiramente posterior ao simbolismo, e com ele mantendo afinidades, expresso um cansaço pela civilização tradicional, considerando-a no seu final, sinal da mudança irreversível dos tempos. O decadentista associa tal ruína à crise moral e de valores; cultiva a “arte pela arte”, o tédio e busca sensações novas e intensas. Situa-se entre 1880 e 1920.

PAULISMO – Iniciado por Pessoa com “Impressões do Crepúsculo”, poema também conhecido por “Pauis”, é considerado como o pós-simbolismo. Defende a confusão do objetivo e do subjetivo, a estagnação, o tédio, o vazio de alma, a associação de ideias desconexas, expressas em frases sintaticamente sem lógica, o uso de maiúsculas em certas palavras, atribuindo-lhes significados transcendentes; o real não é visto como tal, sugerindo a interioridade do eu lírico.


FUTURISMO – Iniciado em 1906 pelo italiano Marinetti, defende o corte radical com a tradição literária e artística europeia: esquecer o passado e a ideia de construir o futuro; desprezar tudo o que é clássico, tradicional e estático; recusar o sentimentalismo; cultivar a liberdade, a velocidade, a violência, a máquina, a originalidade. Na poesia há verso livre, sem métrica, há liberdade de palavra, rejeita-se o ideal romântico mas explora-se a inquietação da alma, a insatisfação (ler “Ode Triunfal” de Álvaro de Campos).

INTERSECCIONISMO – Sobreposição ou cruzamento de realidades diferentes ou mesmo opostas, do eu interior e do mundo exterior, correspondendo à consciência de uma totalidade fragmentada (em “Chuva Oblíqua”, de Pessoa, cruzam-se o passado e o presente, a paisagem presente e a ausente, o real e o sonhado).

SENSACIONISMO – Avidez de sensações brutais, como a crueldade e a luxúria; identificação com tudo e todos (pessoas, objetos, mecanismos, espaços, tempos) de modo a "sentir tudo de todas as maneiras" simultaneamente, segundo Álvaro de Campos.
 

"MEMORIAL DO CONVENTO" - BLIMUNDA E BALTASAR






In Orientações – ainda O amor – características de Blimunda e de Baltasar; A Inquisição. Um auto de fé; O Pe. Bartolomeu e a  Religião

Edição Nº 37 – Dom Quixote  (para indicação das páginas)

- Blimunda sempre manifestou o seu amor por Baltasar através de palavras e de atitudes, sem complexos de ser ela a dar o primeiro passo.
- simbolismo alcunhas . nº 7 nos nomes de Blimunda e Baltasar.
   representa a totalidade do universo em movimento; nº primo que se liga ao ciclo lunar  (cada fase da lua = 7 dias) e ao ciclo vital  (células humanas renovam-se de 7 em 7 anos); representa ainda o descanso no fim da criação.
- 7 associado a Sóis e a Luas confere um carácter mágico às personagens. nelas, o nº simboliza a perfeição do outro, o que há de melhor em si, na humildade da partilha.
- Cap. XXIII – excerto importante, caracterizador do amor do casal Blimunda e Baltasar.
- Importância do olhar – Caps. V e X;    Blimunda vidente Caps. XXIII e XXIV.
- refª: Blimunda conhece Baltasar no auto-de-fé no dia 26 julho 1711.
- último encontro Blimunda + Baltasar (Cap. XXIII) – no dia 18 Out. 1739.
- Blimunda procura Baltasar durante 9 anos, chegando a Espanha.


- Memorial do Convento denuncia o medo que se vivia na época devido às perseguições levadas a cabo pelo Santo Ofício.
- escrita Saramago – descrição em pormenor e visualista.
   - adjectivação expressiva e dupla
   - diminutivos
   - metáforas
   - imagens
   - ironia
- Questões relativas ao episódio da procissão, Cap. III.
1) Explica o comportamento do povo na procissão e o que ele traduz sobre a religiosidade que se vivia na época.
2) Refere a intenção crítica do autor.
3) Analisa o excerto quanto à linguagem, mencionando recursos que contribuem para uma descrição tão visualista e pormenorizada.

Q: O padre Bartolomeu, Baltasar e Blimunda encarnam os valores religiosos preconizados pelo cristianismo na sua essência e que se contrapõem às atitudes tomadas pela Igreja e pela Inquisição.

Comente a afirmação, referindo-se aos valores de uns e de outros.

- Pe. Bartolomeu tem ideias muito próprias acerca da religião que professa
  ---- a amizade com Blimunda e Baltasar demonstra as suas ideias liberais, numa época de medo e de opressão e em que a mentalidade do povo era manipulada / dirigida pela Igreja. Ele não se escandaliza com a relação dos dois.
- Bartolomeu fugia de todas as regras e convenções do Catolicismo.
- Blimunda e Baltasar ajudam-no na construção da passarola.
- éter – (Cap. XI) não se compõe das almas dos mortos mas das vontades dos vivos.
- Pe. Bartolomeu é uma personagem multifacetada. (Cap. XV, )
- tem medo de ser apanhado pela Inquisição e tem consciência de que há razões para isso
- Após ter queimado a passarola, o Pe. meteu-se na serra e desaparece.
- Scarlatti dá a notícia a Blimunda de que o Pe. morreu em Espanha. (Cap. XVII)