DADOS
BIOGRÁFICOS
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Nasceu
no Porto, em 19 de Setembro de 1897. Foi educado num colégio (latinista por
educação alheia e semi-helenista por educação própria).
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Formou-se
em Medicina.
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Por
ser monárquico partiu para o Brasil em 1919.
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Era
moreno, mais baixo e mais forte que Caeiro.
Elementos
retirados da carta sobre a génese dos heterónimos
de
Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro (1935)
CARACTERÍSTICAS
SEMÂNTICAS E IDEOLÓGICAS
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Intelectualização
das emoções – o poeta racionaliza as emoções e recusa o seu valor, face à
realidade que descobre, através do pensamento.
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Constatação
da inutilidade da ação.
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Consciência
de um Destino superior do Homem, o que o leva a encará-lo como um ser
manipulado pelos deuses mas de forma digna e ativa.
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Discípulo
de Caeiro, aconselha, como o Mestre, a aceitação calma da ordem das coisas e
faz o elogio da vida campestre, indiferente ao social.
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Epicurismo
e estoicismo – o ser humano nunca poderá ser feliz; deve evitar os prazeres
fortes e aceitar a dor como algo que, inevitavelmente, teremos de sentir; a
tranquilidade é o nosso único quinhão de felicidade e de liberdade.
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Recusa
de inserção do indivíduo na sociedade, pela negação da praxis, ou seja, pela crença na inutilidade da ação.
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Estoicismo
– aceitação passiva de tudo – a vida humana deve ser encarda como a vida dos
outros seres que existem no universo (há dias de sol e dias de chuva – esta é a
verdade suprema e só a sua aceitação conduzirá à tranquilidade – o Homem não
deverá integrar-se numa determinada sociedade, mas no todo cosmogónico).
CARACTERÍSTICAS FORMAIS
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Didatismo
(parece estar a ensinar uma lição de vida).
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Tom
coloquial (destinatário implícito ao discurso – o poeta dirige-se a um “tu”).
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Substantivos
como atributos (os substantivos adquirem o valor de adjetivos).
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Latinismos.
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Recursos
a apócopes.
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Hipérbatos
(alteração violenta da ordem normal dos sintagmas).
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Repetição
de sons.
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Predominância
de sons nasais e fechados.
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Rima
no interior dos versos.
Nota: estas características formais
revelam influência da poesia horaciana.
ESTOICISMO
Escola filosófica helenística
fundada por Zenão, na primeira parte do século III a. C. (Zenão era fenício,
natural de Citium, em Chipre; viveu em Atenas).
O estoicismo desenvolveu-se até
Marco Aurélio, imperador romano, que se dedicou à virtude estóica (161 d. C.).
Ideias fulcrais:
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Crença
na conclusão de um ciclo (através do fogo), que seria substituído por outro (a
repetição cíclica era indefinida);
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Deus
é a alma do mundo e cada um de nós contém parte do fogo divino;
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A
vida individual deve estar de acordo com as leis da Natureza (a virtude
significa viver de acordo com as leis cósmicas);
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Devemos
desprezar as paixões porque conduzem ao sofrimento.
EPICURISMO
Filosofia fundada por Epicuro em
311 a. C. (Epicuro nasceu em 342-1 a. C., em Ática).
Ideias fulcrais:
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Filosofia
que se destinava a dar tranquilidade às pessoas;
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Defesa
do prazer como um bem, mas um prazer moderado; virtude significa prudência na
busca do prazer;
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Devem
procurar-se os prazeres tranquilos e não as alegrias violentas;
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Abolição
da riqueza e da honra porque roubam o descanso a quem poderia estar feliz;
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Recusa
do amor porque implica sofrimento – a amizade é o melhor prazer social;
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Crença
de que os deuses não interferem nas coisas humanas e de que a alma morre com o
corpo.
PLATONISMO
(Ver
conceitos sobre Camões)
Platão
acreditava, ao elaborar a teoria da Reminiscência, que as almas teriam tido um
contacto com a realidade essencial, num primeiro estádio da sua existência.
Todos os homens deveriam, então, tentar captar o real, para além daquilo que os
seus sentidos permitem, de modo a alcançar a essencialidade do objeto sensível.
Para se alcançar a Essência, devemos tentar atingir a beleza espiritual; é esse
o caminho para, simultaneamente, nos aproximarmos da ideia de Bem. Este
associa-se à espiritualidade pura e origina a própria beleza.
Platonismo
pode ainda ligar-se a uma determinada conceção do amor – se o mundo sensível é
o espelho do mundo inteligível, o mundo da verdadeira Perfeição, a beleza de
uma mulher deverá, então, funcionar como uma consciencialização da vontade de
ascender a uma beleza superior, uma vez que lhe conferimos o seu carácter de
manifestação divina. O amor não é, pois, o amor à mulher material mas à ideia
da perfeição que essa mulher representa. Trata-se de um amor ideal, purificado,
que se situa acima da materialidade das coisas e da própria mulher amada, que é
elevada ao grau máximo de virtude e funciona como o símbolo da Perfeição na
Terra.