domingo, 21 de junho de 2015

Ricardo Reis - apontamentos soltos




Segundo o poeta, cada um de nós deve viver a sua própria vida, isolando-se dos outros e procurando apenas na sobriedade individualista o que lhe agrada.

Não se devem procurar os prazeres violentos mas optar pela busca mínima da dor e pela procura, sobretudo, da calma, da tranquilidade, do esforço e da atividade úteis.

No entanto, alcançar a felicidade e a calma deve ser encarado como uma ilusão.
A felicidade está na liberdade e não nos podemos esquecer que esta está vedada aos próprios deuses sobre quem pesa o Fado. Também a calma deve ser uma opção nossa mas não nos será possível alcançá-la uma vez que vivemos à espera da morte. A consciência disto provoca em nós um sentimento de angústia.

A obra de Ricardo Reis é o esforço lúcido e disciplinado para obter uma qualquer forma de calma. Esta ideia assenta numa crença verdadeira nos deuses da Grécia antiga, admitindo Cristo como um deus a mais. Esta mesma ideia está de acordo com o Paganismo e é, em parte, inspirada em Caeiro para quem o Menino Jesus era “o deus que faltava”.

Outras características:

Temáticas:

*      o culto do Belo como forma de superar a transitoriedade da vida e dos bens terrenos;
*      as ameaças do Fatum, da Velhice e da Morte;
*      tal como para Caeiro, a felicidade só é possível no sossego do campo;
*      o vinho, o sorriso e as flores como formas de iludir o sofrimento resultante da consciência da brevidade da vida;
*      o autodomínio e a contenção dos sentimentos;
*      a quase ausência de erotismo, de amor autêntico;

Estilísticas:
*      a frequência da inversão: anástrofe e hipérbato;
*      a frequência da elipse e da perífrase;
*      preferência pela ode (influência de Horácio) e recorrência ao verso decassilábico alternando ou não com o hexassílabo;
*      frequência do gerúndio;
*      frequência do imperativo (de acordo com o carácter moralista das odes);
*      verso branco ou solto com recorrência à assonância, à aliteração e à rima interior.

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