Olha, Marília, as flautas dos pastores
Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?
Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores.
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha para,
Ora nos ares sussurrando gira.
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristeza que a noite me causara.
1. Indique o tema do soneto.
2. Caracterize o estado de espírito do sujeito poético, indicando as causas.
3. Divida o poema nas suas partes lógicas e refira o assunto de cada uma delas.
4. Qual o elemento linguístico de ligação entre as duas partes? Qual o seu significado?
Assistimos à descrição de um locus amoenus ao longo de todo o soneto, bem ao gosto clássico.
No entanto, é possível estabelecer dois momentos distintos ou, pelo menos, um momento característico do gosto romântico já no final do texto.
Assim, numa primeira parte constituída pelas duas quadras, pelo primeiro terceto e pelo primeiro verso do segundo terceto, o sujeito poético, num claro apelo aos sentidos, à Natureza, ao colorido, à música, ao movimento, transmite-nos a ideia de uma Natureza que é o reflexo do seu estado de alma sendo que o amor nasce através da visão: "Olha" (três ocorrências na primeira quadra) e "Ver" ("Vê"; "vês" e "vira"). Temos, afinal, o mundo sensível predominando sobre o mundo inteligível. O tom utilizado é coloquial; há uma sensação de intimidade num ambiente bucólico, onde se vive um amor sensual, (romântico) um quase erotismo. A função da linguagem predominante é a apelativa (ver formas verbais imperativas) embora também existam marcas da função emotiva. Toda a mensagem se centra no destinatário.
Naquela a que chamaremos segunda parte, constituída pelo dois últimos versos do soneto, o sujeito poético apresenta uma condição para que a Natureza mantenha a alegria e a luz com que a descreve e que é a presença da amada. Parte então para a ideia de uma paisagem bem ao gosto romântico caracterizada por uma atmosfera sombria e melancólica: "o rouxinol suspira" ( a referência ao rouxinol é uma marca romântica assim como à "tristeza" e à "noite").
**A tristeza em Bocage é exagerada, desmedida, ao gosto romântico.
Elementos neoclássicos presentes no texto:
- a forma: soneto;
- vocabulário alatinado: "cadentes"; "Zéfiros"; "ósculos";
- mitologia: Amores (Cupido);
Elementos pré-românticos presentes no texto:
- a Natureza como reflexo do estado de alma do sujeito poético [presença ou ausência do sujeito da amada];
- pontuação subjetiva [recorrência a frases exclamativas];
- presença do rouxinol [associado ao amor fatal, de perdição] e da noite;
- o amor sensual.
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- apóstrofe;
- personificação;
- anáfora;
- apóstrofe;
- personificação;
- anáfora;
- anástrofe; (o rouxinol suspira naquele arbusto)
- hipérbole.
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