terça-feira, 17 de novembro de 2015

ATENÇÃO!!!! 10A, 10B E 11B ......................




DÉCIMOS ANOS - Já se realizou o teste relativo aos Textos Autobiográficos, há uma Ficha de Trabalho a ser resolvida para avaliação e na próxima semana iniciamos o estudo da Lírica Camoniana.


DÉCIMO PRIMEIRO - A avaliação de Alexandre Herculano será efetuada com base na realização de um trabalho individual sobre um dos capítulos de "A ABÓBADA".



LÍRICA CAMONIANA - A MULHER EM CAMÕES... O AMOR (2)




«Os conceitos de amor passivo e ativo já definidos pressupõem, como é óbvio, a existência de dois tipos de mulher: a que é intocável, misteriosa, sempre ausente mesmo quando presente - a ausência é a sua presença ou a presença é a sua ausência, ela está sempre para além do «véu terrestre», - perante a qual o poeta se coloca de joelhos em atitude de vassalagem e de adoração. É a Laura de Petrarca. “O poeta toscano levara à sua forma extrema a conceção que encontramos virtualmente nos trovadores provençais e nos romances de cavalaria. A mulher é nas suas Rime o objeto por excelência do homem. Nada tem de comum com ele: é uma representação que se põe diante dele. (...) O objeto da musa de Petrarca. Laura, cantada, viva e morta, ao longo de dezenas de anos, exprime inalteravelmente o mesmo ideal que resplandece como um sol sem nuvens. Ela é a beleza, com os seus cabelos que fazem perder o preço ao ouro, o seu gesto sereno, a sua alegria grave, a sua harmonia pura e exata, que dá sentido à natureza, como as ninfas de Boticelli no meio das flores, mas sem o corpo visível. É inacessível e intocável. O seu sorriso é impessoal como o de Gioconda. (...) Viva não é deste mundo. Petrarca chora inconsolavelmente a sua ausência, sempre no mesmo tom elegíaco. (...) A morte dela não é um desastre, antes uma nova forma de ausência - ausência a que se reduziu sempre a presença de Laura.»
ANTÓNIO JOSÉ SARAIVA
Outro tipo de mulher é a terrena, modelada de formas ondulantes e atraentes, perante a qual homem se sente irresistivelmente atraído, causando-lhe a alegria dos sentidos. É a Vénus que enche Os Lusíadas e cujas formas graciosas apaziguam tempestades e vinganças. É a mulher deste mundo que o poeta viu morrer à sua frente, afogada em naufrágio nas águas do rio Mecom; é a mulher que o poeta viu na corte de D. João III, pela qual se apaixonou mesmo sabendo da impossibilidade de a conquistar por razões de ordem social; é a Inês de Castro que ama loucamente D. Pedro, mesmo sabendo que esse amor pode custar-lhe a própria vida.
Para concluir, referimos uma vez mais as palavras de A. José Saraiva: «Há, pois, uma oposição profunda entre as duas ideias da Lírica: Laura e Vénus. Uma é centrífuga em relação à terra, outra é centrípeta; uma é a negação do sensível, outra é a sua afirmação; uma cabe dentro dos mol­des da hierarquia feudal, outra quebra-os; uma é transcendentalista, outra é imanentista. A poesia de Camões acha-se partida pelo meio.»

LÍRICA CAMONIANA - CORRENTE TRADICIONAL E RENASCENTISTA (1)


rosto de mulher, Sandro Botticelli

São estes apontamentos soltos, uns adaptados outros nem tanto, de leituras que fui fazendo, de outras já feitas e de outras ainda, fruto de uma viagem de sempre descoberta... a desenvolver em aula, como sempre, aquando da análise dos poemas de Luís de Camões.

Características da corrente tradicional

- TEMAS: fonte, o mar, ambiente pastoril, olhos verdes, o amor – saudade, sofrimento, “morte”, - as “cousas de folgar e gentilezas”.

- Camões retoma temas da poesia tradicional como a fonte, o mar, os olhos verdes…

Em poemas como DescalçaPastora da serraNa fonte está Lianor ocorre-nos a imagem da donzela das c. d’amigo que vai buscar água à fonte, lavar os seus cabelos ou simplesmente encontrar-se com o amigo, que pergunta às amigas ou à sua mãe pelo seu amado, ou a imagem da ingénua pastora apascentando o seu rebanho num cenário bucólico convidativo ao amor.

- O tema dos olhos verdes foi tratado nos cancioneiros trovadorescos e no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Camões foi mais longe devido à sua formação estética marcada pelo idealismo platónico. As belezas da mulher são consideradas como a própria ideia da beleza e não como puros acidentes. Por isso os cabelos não são doirados mas o ouro em si, os olhos não são verdes mas contêm todo o ouro da natureza…. As qualidades são tomadas como essências. Estas qualidades não adornam a mulher mas é ela quem as distribui pela natureza e a natureza é bela na medida em que participa mais ou manos na beleza da senhora.

Assim, o gado come graças dos olhos/do meu coração ou se helena apartar/do campo seus olhos/nascerão abrolhos ou ainda faz parar a acorrente se seus olhos inclinar na água corrente.


Características da corrente renascentista


- TEMAS: “locus amenus”, mitologia pagã, retrato físico e/ ou psicológico da mulher ideal, segundo Petrarca (cabelos de ouro, pele branca, olhos claros, alegria grave, harmonia pura e exata, gesto sereno, etc.), a animização da natureza, o amor puro / carnal, o Amor platónico, a saudade, o destino, a beleza suprema, a mudança, o desconcerto do mundo, o elogio dos heróis, ensinamentos morais, sociais e filosóficos, a mulher vista à luz do petrarquismo e do dantismo, a sensualidade, a experiência da vida… .


- Na obra de Camões encontramos influências

Clássicas – Virgílio e Horácio … em Os Lusíadas

                   Petrarcaele é o modelo de Camões que se satisfez com este sentimento passivo e contemplativo da mulher mas Camões não conseguiu conter o impulso físico e por isso vive uma luta de opostos****  -  retrato da mulher amadanatureza como espelho do estado de espírito do poeta.

                   Danteo inferno de amar que conduz o sujeito lírico a sentimentos contraditórios de extrema melancolia e desespero.

- o Amor em Camões é influenciado pelo neoplatonismo.

- dentro da doutrina estética de Petrarca, o amor é uma aspiração a um objeto inatingível porque não existe neste mundo; o que aqui se vê é o “véu terrestre” que encobre a essência que miora no empíreo ou no mundo das ideias. O amor nobre é esta aspiração superior à comunhão das almas, abafando os protestos do desejo físico. É um sentimento sem experiência, sem acontecimento, é a contemplação de uma deusa.

- ****  ele deseja fazer valer os seus direitos amputados pela visão neoplatónica e petrarquista da mulher idealizada

- o que há de mais original **** na poesia camoniana é o combate entre esses dois tipos de amor: o passivo e o ativo. A alma diz-lhe: contempla, pensa, mentaliza, fecha os olhos e recebe a visão sublime da deusa. O corpo grita: “Pede o desejo, Dama, que vos veja… acaba por se afastar de Petrarca e aproximar-se da vida porque, dividido entre a teoria e a prática, Camões sente o corpo impelido para a partilha dos corpos.






CAMÕES ... considerações (1)

  Petrarca
SOBRE A OBRA, O HOMEM…
- De acordo com o crítico Massaud Moisés (A literatura portuguesa, 2008), a obra camoniana “espelha a confissão duma tormentosa vida interior, repassada de paradoxos e incertezas, a reflexão em torno dos magnos problemas que lhe assolavam o espírito, não só provocado pelas suas vivências pessoais, mas também pela tomada de consciência dum desconcerto universal em que todos os seres humanos estivessem imersos”. Poeta de preocupações filosóficas, Camões mergulhou no angustioso mundo do “eu”, do amor, da vida, do mundo.
- Influência de Petrarca.
- Alguns dos temas vêm já da poesia provençal e do romance cortês: - a mulher como ser superior, quase divino, de beleza indescritível, a atitude reverente perante a Senhora, o sentido da distância que os separa, a morte por amor.
- Nota-se uma influência da cultura humanística do século XVI mas existem muitas composições que são o resultado
- das circunstâncias da vida do poeta,
            - da experiência humana vivida por ele
            - das reações emocionais às situações.
Assim, a poesia lírica camoniana é o resultado da sua profunda cultura + a sua vida agitada + o seu temperamento ardente e apaixonado.


LÍRICA CAMONIANA - PORTUGAL NO TEMPO DE CAMÕES


Lisboa no tempo de Camões



Ano de 1521. Inicia-se o longo reinado de D. João III. Portugal vive ainda a euforia das realizações marítimas do tempo de D. Manuel, O Venturoso. D. João III surge como o continuador de uma política expansionista, para a qual lhe vão faltando as estruturas de apoio necessárias. O comércio era a grande base da economia portuguesa. No entanto, o país pouco produzia e, pelo contrário, aumentava a sua dependência quanto à prata que, originária da América do Sul, chegava à Espanha em enormes quantidades. Este metal torna-se cada vez mais necessário para alimentar o comércio com o Oriente. A ausência de empresas manufatureiras obriga Portugal à compra de produtos, para os quais se fornecia a matéria-prima, que vai chegando dos vários pontos do Império. Crises agrícolas sucessivas obrigam o país a importações praticamente anuais de trigo castelhano e, assim, a economia nacional depende cada vez mais do comércio colonial.

Todos estes problemas vão obrigar o Rei a abandonar várias praças africanas, de 1534 a 1540. O déficit vai crescendo. Apesar disso, o tipo de vida mantém-se com o mesmo luxo e riqueza. A sociedade portuguesa, principalmente a classe nobre, vê-se na quase total dependência do rei. Do monarca depende para concessão de qualquer mercê, seja nobre ou mercador. Ao rei acorre o povo a apresentar as suas queixas nas poucas cortes que convoca. A coroa domina no campo comercial através do seu monopólio: é ela a maior proprietária. Desta interferência só se vai libertando o clero, pois constitui o apoio do rei para a efetuação da sua política absoluta.

D. João III orgulha-se de praticar o mecenato: em torno da sua corte evoluem as personalidades mais significativas do Renascimento português, como Garcia de Resende, Damião de Góis, Pedro Nunes. Lança-se na campanha reformista da Universidade, transferida de vez para Coimbra. Funda o Colégio das Artes.

Mais tarde, a tendência religiosa e mesmo fanática de D. João III leva-o a perseguir personalidades de nomeada no ensino,, que se mostravam abertas às novas ideias reformistas. Muitos foram entregues à Inquisição. Esta viragem na maneira de pensar real afasta da Corte os poucos espíritos renascentistas ainda existentes no panorama português. A Inquisição e o tratamento pouco acolhedor dado a muitos dos pensadores estrangeiros atraídos a Portugal pela fama da corte portuguesa, não facilita a existência de muitos humanistas no país.

Ano de 1550. Portugal assiste ao findar do governo de D. João III e à impossibilidade de manter um império tão extenso. Não podendo conservar o monopólio dos mares, desmoronam-se as bases com que o país se elevara ao primeiro plano, entre as nações europeias, em décadas anteriores. 

É assim o Portugal desta época: vivendo os restos de uma grandeza que vai girando em torno de uma corte cujo centro é um rei ilusoriamente mecenático. Lisboa, capital do reino, cidade onde a corte vive e o povo sobrevive, é o centro das atenções de quem quer progredir.

Para esta cidade vem um mancebo de ascendência vagamente nobre, mas de escassos recursos. Procura, como tantos outros, um emprego na corte e traz a cabeça cheia de trovas. Esse mancebo que, em 1550, atravessou o chamado Terreiro do Paço em direção ao Paço da Ribeira, chamava-se Luís Vaz de Camões.

LINA FERREIRA PAZ,

Luís Vaz de Camões ou A Universalidade de Um Pensamento

(texto adaptado)

LÍRICA CAMONIANA - CONTEXTUALIZAÇÃO II


 
            Na Idade Média, a Igreja domina a cultura através da literatura religiosa e didática e a sociedade caracteriza-se como sendo teocêntrica.
            O século XVI rompe com a Idade Média e assiste-se ao renascer da cultura greco-latina (Classicismo; influência de Petrarca; imitação dos clássicos; Renascimento / Humanismo).
            Em Portugal, devido aos Descobrimentos, verifica-se uma profunda transformação das estruturas sociais, da cultura e da mentalidade.
            O Homem passa a ocupar o centro do Universo e começa a ter consciência das suas dignidade e capacidade. Segundo a máxima  “O Homem é a medida de todas as coisas”, o Humanismo surge em Portugal em meados do século XVI. Com esta nova forma de pensar, privilegia-se a experiência e põe-se em causa a cultura livresca.
            A sociedade é agora antropocêntrica e conhece a influência em todas as manifestações artísticas: literatura – imitação dos géneros literários; surge a técnica do nu na pintura e na escultura; promoção do intercâmbio cultural devido à presença de estrangeiros como, por exemplo, bolseiros das Universidades. O Homem adota uma atitude crítica sobre o mundo e a Igreja.
           
Petrarca é uma individualidade que se destaca e que introduz novos conceitos literários que Camões irá recuperar relativamente à conceção do Amor, da Mulher amada e da Natureza.
Camões e petrarca
A LÍRICA CAMONIANA
Influências de vária ordem
“poética de imitação”       +   Experiência pessoal  +  Vivências
                                  =
                                        [ Originalidade  / insinceridade]



Deixa transparecer um sujeito “ viajante, letrado, humanista, trovador à maneira antiga” (...) um sujeito “que assumiu e meditou a experiência de toda uma civilização cujas contradições viveu na sua carne e procurou superar pela criação artística.”
     António José Saraiva




LÍRICA CAMONIANA - CONTEXTUALIZAÇÃO




De Camões, em pura verdade, muito pouco sabemos. Nasceu pobre, viveu pobre, morreu mais pobre ainda (se não miseravelmente), ele, que acumulou bens que milhares e milhares de homens não têm chegado para delapidar. (...)

Fora do nosso coração, não sabemos onde Camões nasceu; nem o ano ou o dia em que saiu da «materna sepultura» para o primeiro amanhecer. Como não sabemos onde estudou ou quem lhe ensinou o muito que sabia. Nem isso importa. Nalgumas linhas da sua poesia, e sobretudo nas poucas cartas que indubitavelmente são dele, pode ler-se que, como português, encarnou até à medula toda a nossa condição: pobreza, vagabundagem, cadeia, desterro.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

LÍRICA CAMONIANA - INTRODUÇÃO (10º ANO, ENSINO RECORRENTE, TURMAS A e B)


A CULTURA DA ÉPOCA DE CAMÕES

HUMANISMO

O termo humanista é antigo na língua portuguesa: data, pelo menos, de 1540, e em meados do século torna-se corrente, significando todo aquele que é versado no conhecimento das línguas e literaturas antigas, sobretudo gregas e latinas, se excluir porém o hebreu, línguas então consideradas "os primeiros elementos de toda a ciência", como dizia então o historiador João de Barros.
Convém não confundir Humanismo com Renascimento. Aquele é somente uma das causas deste, um dos elementos que o integram, e não a sua causa única: paralelamente ou posteriormente à descoberta da Antiguidade Clássica, outros elementos vêm complementar o que se designa por Renascimento: a Reforma, o racionalismo, uma nova conceção de vida, a expansão ultramarina, o progresso das técnicas. É difícil dar uma definição precisa de Humanismo, tão grande é o número das que têm sido propostas: é que, na verdade, não houve um Humanismo mas humanismos e, sobretudo, humanistas.
O Humanismo é, antes de mais, a descoberta da Antiguidade sob os seus múltiplos aspetos: literatura, arte, história, ciência, filosofia. Caracteriza-se pelo estudo direto dos textos, pelo desejo que cada um sente pelo gosto do saber.
O Humanismo é, sobretudo, o conjunto de esforços no sentido de ressuscitar a Antiguidade Clássica. Mas não é apenas uma disciplina erudita, não se resume ao interesse e admiração constante pela cultura greco-latina. As "letras da Humanidade" passam em breve a ser consideradas a própria sabedoria antiga, concebida como um instrumento de cultura geral, naturalmente indicado para tornar a Humanidade mais civilizada e mais feliz e os homens mais humanos. Ressuscitando o pensamento antigo, o Humanismo é o conjunto de valores estéticos, éticos, pedagógicos e filosóficos que variam de autor para autor: o novo estilo de vida, a exaltação do valor, do homem e da sua obra individual ou coletiva.

Joel Serrão, Dicionário de História de Portugal
(adaptado)