São estes apontamentos soltos, uns adaptados outros nem tanto, de leituras que fui fazendo, de outras já feitas e de outras ainda, fruto de uma viagem de sempre descoberta... a desenvolver em aula, como sempre, aquando da análise dos poemas de Luís de Camões.
Características
da corrente tradicional
- TEMAS: fonte, o mar, ambiente pastoril, olhos verdes, o amor –
saudade, sofrimento, “morte”, - as “cousas de folgar e gentilezas”.
- Camões retoma temas
da poesia tradicional como a fonte, o mar, os olhos verdes…
Em poemas como Descalça… Pastora da serra… Na fonte
está Lianor ocorre-nos a imagem da donzela das c. d’amigo que vai buscar
água à fonte, lavar os seus cabelos ou simplesmente encontrar-se com o amigo,
que pergunta às amigas ou à sua mãe pelo seu amado, ou a imagem da ingénua
pastora apascentando o seu rebanho num cenário bucólico convidativo ao amor.
- O tema dos olhos
verdes foi tratado nos cancioneiros trovadorescos e no Cancioneiro Geral de
Garcia de Resende. Camões foi mais longe devido à sua formação estética marcada
pelo idealismo platónico. As belezas da mulher são consideradas como a própria
ideia da beleza e não como puros acidentes. Por isso os cabelos não são
doirados mas o ouro em si, os olhos não são verdes mas contêm todo o ouro da
natureza…. As qualidades são tomadas como essências. Estas qualidades não
adornam a mulher mas é ela quem as distribui pela natureza e a natureza é bela
na medida em que participa mais ou manos na beleza da senhora.
Assim, o gado come graças dos olhos/do meu coração
ou se helena apartar/do campo seus
olhos/nascerão abrolhos ou ainda faz
parar a acorrente se seus olhos inclinar na água corrente.
Características
da corrente renascentista
- TEMAS: “locus amenus”, mitologia pagã, retrato físico e/ ou
psicológico da mulher ideal, segundo Petrarca (cabelos de ouro, pele branca,
olhos claros, alegria grave, harmonia pura e exata, gesto sereno, etc.), a
animização da natureza, o amor puro / carnal, o Amor platónico, a saudade, o
destino, a beleza suprema, a mudança, o desconcerto do mundo, o elogio dos
heróis, ensinamentos morais, sociais e filosóficos, a mulher vista à luz do
petrarquismo e do dantismo, a sensualidade, a experiência da vida… .
- Na obra de Camões
encontramos influências
Clássicas – Virgílio e Horácio … em Os Lusíadas
Petrarca – ele é o modelo de
Camões que se satisfez com este sentimento passivo e contemplativo da mulher
mas Camões não conseguiu conter o impulso físico e por isso vive uma luta de
opostos**** - retrato
da mulher amada – natureza como
espelho do estado de espírito do poeta.
Dante – o inferno de amar que conduz o sujeito lírico a sentimentos
contraditórios de extrema melancolia e desespero.
- o Amor em Camões é
influenciado pelo neoplatonismo.
- dentro da doutrina
estética de Petrarca, o amor é uma aspiração a um objeto inatingível porque não
existe neste mundo; o que aqui se vê é o “véu terrestre” que encobre a essência
que miora no empíreo ou no mundo das ideias. O amor nobre é esta aspiração
superior à comunhão das almas, abafando os protestos do desejo físico. É um
sentimento sem experiência, sem acontecimento, é a contemplação de uma deusa.
- **** ele deseja fazer valer os seus direitos
amputados pela visão neoplatónica e petrarquista da mulher idealizada
- o que há de mais
original **** na poesia camoniana é o combate entre esses dois tipos de amor: o
passivo e o ativo. A alma diz-lhe: contempla, pensa, mentaliza, fecha os olhos e
recebe a visão sublime da deusa. O corpo grita: “Pede o desejo, Dama, que vos
veja… acaba por se afastar de Petrarca e aproximar-se da vida porque, dividido
entre a teoria e a prática, Camões sente o corpo impelido para a partilha dos
corpos.