terça-feira, 17 de novembro de 2015

LÍRICA CAMONIANA - CORRENTE TRADICIONAL E RENASCENTISTA (1)


rosto de mulher, Sandro Botticelli

São estes apontamentos soltos, uns adaptados outros nem tanto, de leituras que fui fazendo, de outras já feitas e de outras ainda, fruto de uma viagem de sempre descoberta... a desenvolver em aula, como sempre, aquando da análise dos poemas de Luís de Camões.

Características da corrente tradicional

- TEMAS: fonte, o mar, ambiente pastoril, olhos verdes, o amor – saudade, sofrimento, “morte”, - as “cousas de folgar e gentilezas”.

- Camões retoma temas da poesia tradicional como a fonte, o mar, os olhos verdes…

Em poemas como DescalçaPastora da serraNa fonte está Lianor ocorre-nos a imagem da donzela das c. d’amigo que vai buscar água à fonte, lavar os seus cabelos ou simplesmente encontrar-se com o amigo, que pergunta às amigas ou à sua mãe pelo seu amado, ou a imagem da ingénua pastora apascentando o seu rebanho num cenário bucólico convidativo ao amor.

- O tema dos olhos verdes foi tratado nos cancioneiros trovadorescos e no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Camões foi mais longe devido à sua formação estética marcada pelo idealismo platónico. As belezas da mulher são consideradas como a própria ideia da beleza e não como puros acidentes. Por isso os cabelos não são doirados mas o ouro em si, os olhos não são verdes mas contêm todo o ouro da natureza…. As qualidades são tomadas como essências. Estas qualidades não adornam a mulher mas é ela quem as distribui pela natureza e a natureza é bela na medida em que participa mais ou manos na beleza da senhora.

Assim, o gado come graças dos olhos/do meu coração ou se helena apartar/do campo seus olhos/nascerão abrolhos ou ainda faz parar a acorrente se seus olhos inclinar na água corrente.


Características da corrente renascentista


- TEMAS: “locus amenus”, mitologia pagã, retrato físico e/ ou psicológico da mulher ideal, segundo Petrarca (cabelos de ouro, pele branca, olhos claros, alegria grave, harmonia pura e exata, gesto sereno, etc.), a animização da natureza, o amor puro / carnal, o Amor platónico, a saudade, o destino, a beleza suprema, a mudança, o desconcerto do mundo, o elogio dos heróis, ensinamentos morais, sociais e filosóficos, a mulher vista à luz do petrarquismo e do dantismo, a sensualidade, a experiência da vida… .


- Na obra de Camões encontramos influências

Clássicas – Virgílio e Horácio … em Os Lusíadas

                   Petrarcaele é o modelo de Camões que se satisfez com este sentimento passivo e contemplativo da mulher mas Camões não conseguiu conter o impulso físico e por isso vive uma luta de opostos****  -  retrato da mulher amadanatureza como espelho do estado de espírito do poeta.

                   Danteo inferno de amar que conduz o sujeito lírico a sentimentos contraditórios de extrema melancolia e desespero.

- o Amor em Camões é influenciado pelo neoplatonismo.

- dentro da doutrina estética de Petrarca, o amor é uma aspiração a um objeto inatingível porque não existe neste mundo; o que aqui se vê é o “véu terrestre” que encobre a essência que miora no empíreo ou no mundo das ideias. O amor nobre é esta aspiração superior à comunhão das almas, abafando os protestos do desejo físico. É um sentimento sem experiência, sem acontecimento, é a contemplação de uma deusa.

- ****  ele deseja fazer valer os seus direitos amputados pela visão neoplatónica e petrarquista da mulher idealizada

- o que há de mais original **** na poesia camoniana é o combate entre esses dois tipos de amor: o passivo e o ativo. A alma diz-lhe: contempla, pensa, mentaliza, fecha os olhos e recebe a visão sublime da deusa. O corpo grita: “Pede o desejo, Dama, que vos veja… acaba por se afastar de Petrarca e aproximar-se da vida porque, dividido entre a teoria e a prática, Camões sente o corpo impelido para a partilha dos corpos.






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