domingo, 31 de maio de 2015

CARACTERÍSTICAS NEO-CLÁSSICAS E PRÉ-ROMÂNTICAS NA POESIA BOCAGIANA [agora completo!]



CARACTERÍSTICAS NEO-CLÁSSICAS



QUANTO À FORMA

- uso da mitologia com valor alegórico;
- personificação de conceitos  (Morte, Noite, Amor...);
- vocabulário erudito: por vezes, de inspiração latina;
- concisão e clareza na linguagem, equilíbrio verbal;
- formas literárias ainda clássicas: soneto, ode, elegia, etc.

QUANTO AO CONTEÚDO

- a Natureza: locus amoenus (bucolismo, paisagem harmoniosa, plena de luz, alegre...);
- Fado (Destino);
- a Morte igual a Tristeza;
- sublimação do Amor;
- Domínio da Razão.




                  CARACTERÍSTICAS PRÉ-ROMÂNTICAS


QUANTO À FORMA

- procura de linguagem nova e de tom declamatório de forma a traduzir melhor a força dos sentimentos: pontuação expressiva (exclamações, interrogações); quebra o equilíbrio clássico através das suspensões, cortes no interior do verso; interjeições, vocativos, linguagem oralizante, forma dialogada (gosto teatral)
- marcas autobiográficas (abundância de pronomes e formas verbais de 1ª pessoa);
- vocabulário próprio do ambiente e sentimentalismo romântico.


QUANTO AO CONTEÚDO

- a Natureza: locus horrendus  [o poeta entrega-se às visões lúgubres, às paisagens sombrias, agrestes e solitárias; férteis em agoiros. A noite, os cemitérios, os túmulos, os ciprestes, os animais noturnos, os abismos, o mar revolto são elementos do cenário que funcionam como espelho da alma];

- o desengano e o fatalismo   [a doutrina segundo a qual a vontade e a inteligência humanas são impotentes para influenciar o curso dos acontecimentos, de modo a que o destino de cada um, por mais que se faça, é fixado a priori. Por vezes, é sinónimo de destino infeliz];

- manifestação de estados de alma doentios (angústia, pessimismo, melancolia);

- culto do lamento, gosto pelo mórbido (a obsessão da morte, o fascínio pelo macabro), entrega total à infelicidade, a um destino fatídico, o masoquismo (o prazer na dor);

- a morte como libertação, apaziguamento, perdição ou castigo;

- o amor como fonte de prazer delirante, paixão, inquietação, ânsia, ciúme;

- expressão hiperbólica dos sentimentos;

- a aguda consciência do Eu (temas autobiográficos, a confidência e a sinceridade confessional);

- gosto pela solidão, tendência anti-social, individualismo, apologia do génio individual;

- a temática da liberdade (ideológica).







sábado, 30 de maio de 2015

CAMÕES, GRANDE CAMÕES, QUÃO SEMELHANTE - BOCAGE, ANÁLISE DE TEXTOS


Camões, Grande Camões, quão Semelhante


Camões, grande Camões, quão semelhante 
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! comparo
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, 
Arrostar co'o sacrílego gigante; enfrentar ; Adamastor

Como tu, junto ao Ganges sussurrante, 
Da penúria cruel no horror me vejo; 
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, recurso est. - trocadilho
Também carpindo estou, saudoso amante. chorando

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura engano; Destino
Meu fim demando ao Céu, pela certeza 
De que só terei paz na sepultura. 

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!... 
Se te imito nos transes da Ventura, Sorte 
Não te imito nos dons da Natureza. 

Bocage, in 'Rimas' 



1. Delimite no soneto uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.
2. A introdução da adversativa mas no 1º verso do 2º terceto o que significa? ( o que exprime...) 
3. Qual o estado psicológico do sujeito poético? 
3.1 Que solução aponta ele para pôr fim a tal estado? 
3.2 Esta solução adequa-se à mentalidade clássica ou à pré-romântica?
4. Identifique os recursos estilísticos neste soneto e indique o seu valor semântico.



Podemos  considerar a existência de duas partes neste texto.

1ª parte - constituída pelas duas quadras e pelo primeiro terceto. O sujeito poético compara-se a Camões, enumerando os aspetos  que os aproximam.
2ª parte - constituída pelo segundo terceto. Inesperadamente, o s. p. dá-nos conta do seu desgosto ao verificar que apenas se assemelha a Camões nas desgraças e não no génio criativo, da escrita.   

No entanto, se pensarmos em termos de introdução, desenvolvimento e conclusão como momentos distintos no texto, concluímos que, embora os dois primeiros pontos, correspondam às duas primeiras partes já no que diz respeito à conclusão há que distinguir a importância da parte do texto introduzida pela adversativa "mas" e que corresponderá à conclusão. Nela, Bocage reconhece humildemente o Génio de Camões e a sua superioridade, causadores da tristeza que sente ao tomar consciência de que as semelhanças abrangem principalmente os aspetos negativos das suas existências.

Na globalidade, o tema do soneto assenta no descontentamento de Bocage ao verificar que a Infelicidade é o único elo entre os dois poetas. No entanto, e psicologicamente, sente-se algum conforto pela parte de Bocage nesta sua semelhança com Camões que ele considera o seu modelo.

"pela certeza 
De que só terei paz na sepultura." - solução apresentada que se enquadra na mentalidade pré-romântica.


terça-feira, 26 de maio de 2015

... DO QUE FOMOS, SOMOS E SEREMOS EM GÉNESE


Ideias e excertos de um "Portugal Simbólico" de Eduardo Amarante, Capítulo V, O Quinto Império, página 183 e seguintes, da 2ª edição, 1995.








Refere o autor que o assunto "mito" é, dentro do conceito universal", algo que nos toca bem de perto dado um passado histórico e a pátria que é a nossa.

"O mito encarnou na História graças a um primeiro homem que sonhou" e que o mesmo continuou e possibilitou que um pequeno espaço de terra se tivesse transformado num Império graças aos que deram continuidade a esta ideia. 

"Daí que uns homens inspiram-se noutros, e assim sucessivamente, até que chega um momento álgido em que nós, por uma perda de memória histórica, deixamos de sentir esta corrente invisível e logo cessamos de assegurar a continuidade no futuro, tal um elo quebrado de uma cadeia eterna. Daqui surge paulatinamente a perda de identidade e o progressivo abandono do sentimento de dignidade nacional."

[...]

"É evidente que hoje estamos a atravessar uma crise económica, social, educativa, enfim, estamos numa série de crises que nos acompanham, aliás, já desde o século XVI. Mas o que afeta verdadeiramente Portugal não é a crise económica, é a crise cultural como meio de identificação e também a crise moral e espiritual."

"Dissemos mais acima que o mito encarnou em D. Afonso Henriques, e encarnou porque ele soube sonhar Portugal e fazer viver aos seus compatriotas tempos de glória, tempos de expansão  e tempos de grandeza. Mas, logo que este impulso se desvanece e que, por fraqueza interior, começamos a descuidar-nos da nossa história, afastamo-nos daquilo que o Conquistador sonhou. Sobre D. Afonso Henriques escreveu Fernando Pessoa:



Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!

Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,

A espada como benção!

[...]



a continuar.




domingo, 24 de maio de 2015

JÁ BOCAGE NÃO SOU!... À COVA ESCURA - BOCAGE, ANÁLISE DE TEXTOS

Já Bocage não sou!... À cova escura

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento;
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio de razão seguisse pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria.

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei - ... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

 estro - inspiração poética; 
Arentino - poeta satírico italiano, de vida boémia.


1º momento - soneto que remete para uma vida plena de vivências e em que o sujeito poético estrutura as suas ideias apontando para um passado caracterizado por um conjunto de erros cometidos e em que faz um apelo ao futuro.

2º momento - confissão do arrependimento que leva o s.p. a dirigir-se à mocidade para que rasgue os seus versos e acredite na eternidade e uma vez que não se considera um modelo para ninguém.



Recursos estilísticos:

** À cova escura / Meu estro vai parar desfeito em vento... - anástrofe;
** Eu aos Céus ultrajei! - metonímia;
** Conheço agora já quão vã figura / Em prosa e verso fez meu louco intento; - anástrofe;
** Se me creste, gente ímpia, / Rasga meus versos, crê na eternidade!   ///   Musa!...- apóstrofe;
** Que atrás do som fantástico corria. - metáfora.


Elementos clássicos:

#  a forma - soneto;
#  a presença da mitologia - Musa!...;
#  a presença de vocabulário alatinado (estro, fantástico);
#  a alusão à Razão.

Elementos românticos:

#  o tom confessional do poema;
#  o tema do arrependimento;
#  a alusão à morte;
#  o tom declamatório;
#  a pontuação expressiva associada à função emotiva.



APENAS VI DO DIA A LUZ BRILHANTE - BOCAGE, ANÁLISE DE TEXTOS



Apenas vi do dia a luz brilhante


Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá de Túbal no empório celebrado,
Em sanguíneo carácter (1) foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.

Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mãe, teu doce agrado;(2)
Segui Marte depois, e enfim meu fado,
Dos irmãos e do pai me pôs distante.

Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da Pátria, longe da ventura,
Minhas faces com lágrimas inundo.

E enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura
. (3)


Lá de Túbal no empório celebrado,- refere-se a lenda da fundação de Setúbal por Túbal, descendente de Noé; Em sanguíneo caráter – em letra ou marca de sangue; Me roubou, terna mãe, teu doce agrado – aos 10 anos ficou órfão de mãe; Marte – deus da guerra: aos 14 anos era cadete e 2 anos depois entrou na armada real.



Consideramos dois momentos neste soneto. O primeiro englobando as duas quadras e o primeiro terceto e o segundo, o segundo terceto.
No primeiro momento, são apresentados aspetos biográficos de Bocage como: exílio afastado da Pátria; local de nascimento, Setúbal; morte da mãe e vida militar.
O primeiro momento do texto é constituído pelas duas quadras e pelo primeiro terceto. Nele, o sujeito poético apresenta acontecimentos da sua vida que foram a causa da sua Dor que teve início logo no dia em que nasceu (1ºv.).

Nesta primeira parte, o s.p. dá-nos conta do infortúnio com que o Destino o marcou à nascença, ao ter-lhe roubado a mãe e por tê-lo afastado da sua família.

Aspectos psicológicos implícitos:
(1) carácter impulsivo, violento(2) carente de afetos; (3) desejo de morrer.
De salientar o contraste entre o modo como refere a morte da mãe, morte devorante, e a sua própria e que deseja, Suspiro pela paz da sepultura
.
Nota: note-se a presença de um EUFEMISMO  se atentarmos nos vocábulos Suspiro e paz para classificar a Morte, substituída pela expressão  paz da sepultura.
Este contraste justifica-se, no caso do último verso, pelo facto de o s.p. desejar a sua própria morte.
No segundo momento, o s.p. utiliza uma comparação antitética que estabelece com a "insana multidão", confessando apenas suspirar pela paz na sepultura.

Este soneto caracteriza-se por uma forte adjetivação que se esbate ao longo do texto.

Recursos estilísticos...

*Apenas vi do dia a luz brilhante - anástrofe e perífrase;
*Lá de Túbal no empório celebrado, - metonímia;
*e enfim meu fado,/ Dos irmãos e do pai me pôs distante. - anástrofe;
*Longe da Pátria, longe da ventura, - 
anáfora;
*Minhas faces com lágrimas inundo. - 
hipérbato.


Presentes neste soneto:

1. Elementos clássicos

a forma - o soneto;

o vocabulário alatinado (empório, devorando, vagando, insana);
a presença da mitologia - Túbal, Destinos, Marte;

2. Elementos românticos

# a aguda consciência do "eu";
# o exílio;
# o desejo da morte;
# o carácter autobiográfico;
# o individualismo;
# o tom confessional;
# a crença no fatalismo de que é vítima.






sexta-feira, 22 de maio de 2015

AUTORRETRATO - BOCAGE, ANÁLISE DE TEXTOS

    Bocage




Autorretrato

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno, 
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,

Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Bocage
Poesias de Bocage
Lisboa, Comunicação, 1992 (4ª ed.)


carão – tez; triste de facha – feio; assistir –persistir; num só terreno – todo o verso: inconstante, volúvel; E somente no altar amando os frades, - a 1ª edição dizia: “Inimigo de hipócritas e frades”






Podemos considerar dois momentos neste texto, sendo o primeiro constituído pelas duas quadras e pelo primeiro terceto e a segunda pelo segundo terceto.

No primeiro momento, o sujeito poético esboça o seu autorretrato - tema do poema - dando particular importância ao retrato físico, na 1ª quadra, já que na 2ª quadra e no 1º terceto a descrição incide sobre o seu
retrato psicológico, sendo algumas das características apontadas a inconstância, a ira e o facto de ser anticlerical.
Neste texto não existem referências biográficas.

No segundo terceto, o sujeito poético revela a sua identidade e as circunstâncias que conduziram à composição deste texto.

O presente soneto caracteriza-se por uma forte adjetivação aplicada à descrição do "eu".

Outros recursos estilísticos presentes são a antítese  e a hipérbole.

Nas quadras temos rima emparelhada e rima interpolada, abba / abba e rima cruzada nos tercetos cdc / dcd.


Elementos neoclássicos presentes neste soneto:

- a forma (o soneto);
- o vocabulário alatinado (níveas, letal, deidades).

Elementos românticos presentes neste texto:

- o carácter autobiográfico;
- o individualismo;
- o tom confessional;
- o amor sensual.























domingo, 17 de maio de 2015

BOCAGE - A VIDA E A OBRA II (breves apontamentos)




Praça Bocage, Setúbal, Portugal


BOCAGE – O carácter, segundo alguns …

- “Há bons indícios para supor que Bocage, na vida prática, era um emotivo, um inquieto, um insatisfeito, mais ávido que terno.”;  segundo Santos e Silva no soneto Desenho de Elmano
- “… um colérico, impressionável e de forte impulsividade, …”;
- os grandes temas bocagianos são o Amor e a Morte, ligando-se a este o simbolismo da Noite e a todos se prendendo o diabólico, o infernal;
 - cantou o Amor de corpo e alma e os êxtases sensuais do amor, exprimiu o tumulto interior do enamorado, … para Elmano, amar seria a vocação, o destino e a cruz;
- refere-se a “servos” ou “escravos de Amor” como se houvesse homens especialmente marcados para servir o Amor, e Elmano fosse um deles;
- em versos seus afirma, alargando a todos o império do Amor, “fado universal que arrasta e força / À loucura, à desgraça, ao precipício”.
adaptado de Jacinto do Prado Coelho, A Letra e o Leitor, 1977, Moraes Editores

Outros aspetos…  

- na obra bocagiana projeta-se a vida pessoal do seu autor, com todas as grandezas, misérias, esperanças e desilusões;
- transformam-se sentimentos desmedidos e ideais revolucionários em matéria poética;
- na sua obra perpassam a sua natural indisciplina fonte de uma contínua irritabilidade, uma inconstância amorosa resultado de um temperamento impulsivo e tendencialmente ciumento, uma certa insatisfação religiosa…;
- é uma obra de transição reveladora das contradições da época conturbada em que Bocage viveu;
- influenciado pela tradição clássica que cultivava a ordem, o brilho, a clareza e o rigor, ainda assim, o poeta consegue adaptar o vulcão romântico dos seus temas à elegância e à cuidada estrutura da educação arcádica recebida; conflituosa é a relação entre a sua formação clássica fria e rígida e o seu temperamento ardente e impetuoso;
- ama e preocupa-se com o culto da beleza da forma e da musicalidade das palavras… no seu estilo único, consegue construir uma lírica em que o material utilizado, a palavra, obedece a uma ordem geométrica, lógica, expressiva, rica em simetrias e antíteses;
- os temas que mereceram a predileção de Bocage foram o Amor, o Ciúme, a Morte, Deus e a Liberdade; possui o sentimento profundamente fatalista, característico dos pré-românticos e que encara o Amor, por vezes, como um destino invencível, uma espécie de tirano;
- dele, diz David Mourão-Ferreira, “o maior drama de Bocage, o mais pungente, foi o de ter vivido em tempo que lhe não convinha” [o mesmo é dizer que, tendo ele nascido meio século antes da época mais propícia ao seu modo de ser teria, certamente, feito furor em pleno Romantismo].


BOCAGE - A VIDA E A OBRA I (breves apontamentos)







A Vida


Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Elmano Sadino da Nova Arcádia, nasceu em Setúbal (1766) e era filho do bacharel José Soares de Barbosa e de D. Mariana Joaquina Lestoff du Bocage.
            Os pais eram dados às letras, o que explica um pouco a tendência de Elmano que, versejando desde tenra idade, revelava já espírito de improvisação.
            Aos dez anos perde a mãe. Essa perda talvez tenha concorrido para um certo desvairamento, para o predomínio dos sentidos sobre a razão.
            Em 1780 assenta praça num regimento da sua terra, passando mais tarde para a armada.
            Em 1785 volta ao exército, parte um ano depois para a Índia e, de passagem, está no Brasil.
            Em Goa, não gostando do que viu, dos habitantes sobretudo, seguiu, como Camões, até Macau.
            Em 1790 vê-se de novo em Portugal, revoltado contra o Destino, e ingressa na Nova Arcádia cuja vida foi efémera e precária.
            Algumas composições, consideradas como ofensivas à Fé, valeram-lhe a entrada no Limoeiro, donde transitou para os cárceres da Inquisição.
            Solto, passou a viver na companhia de sua irmã D. Maria Francisca, sustentando a casa com o produto das suas obras (traduções, etc.).
            Em 1805 morria prematuramente, concorrendo para tal, os excessos praticados, erros de que ele deu conta a tempo para se arrepender, mas quando já não podia restaurar as forças físicas perdidas.


A Obra

- considerada uma obra de transição;
- caracterizada por uma linguagem, processos e formas tipicamente arcádicos, e uma mundividência por vezes marcadamente romântica;
- o universo bocagiano – sobretudo os sonetos – incide numa perspetiva dramática ou dramatizável sobre o eu, o amor, a morte mas que não poderia funcionar sem se socorrer de certos artifícios da estética arcádica (personificações, alegorias, recurso a figuras e factos da tradição mitológica greco-latina);
            O eu que organiza grande parte da produção bocagiana, mesmo na abordagem de temas fundamentalmente abstratos como o Amor e a Morte, move-se frequentemente ao nível do olhar – o próprio sentimento é dado muitas vezes em termos de cegueira, sonho, visão, pesadelo, etc. (* é frequente a utilização de verbos e adjetivos relacionados com o campo semântico da visão) – e esse olhar vai incidir, por vezes, sobre estruturas poéticas com características particulares: as personificações, muitas vezes utilizadas na construção de alegorias, a dramatização do eu (quer através de retratos e apóstrofes a si próprio quer através da intervenção em diálogo, a utilização de figuras mitológicas que simbolizam ideias ou sentimentos (…) muitas vezes com características horrorizantes e infernais.
- aspetos de linguagem relacionados com um certo gosto teatral: utilização de apóstrofes e exclamações, hipérboles e perífrases eruditas;
- a dramatização do eu mantém uma certa distanciação entre a obra poética e a verdade do sentimento, que é ainda diferente da conceção romântica de poesia.
*** Bocage tem efetivamente alguns traços em comum com o gosto romântico: a aguda consciência do eu, da perseguição de um destino infeliz, da submissão total ao Amor, quase divinizado pelo poeta e muitas vezes oposto à razão. Estes aspetos gerais refletem-se em traços particulares associados ao sujeito que trazem já a marca de um gosto novo: o prazer da solidão, das paisagens sombrias, a confiança em profecias e agouros, que se traduzem, ao nível da linguagem, numa certa busca vocabular (substantivos e adjetivos, principalmente) das formas mais impressionantes, mais capazes de corresponderem à intensidade subjetiva.   *** o “locus horrendus”

adaptado de Margarida Barahona, Poesias de Bocage, Textos Literários, Seara Nova





sábado, 16 de maio de 2015

ACORDO ORTOGRÁFICO - USO DO H E DO HÍFEN (i)

            Na faculdade, tive uma professora de Estudos Linguísticos que, a propósito do uso do hífen, nos disse que este domínio era o que, desde sempre, maior discussão tinha causado entre alguns estudiosos da Língua, que nunca estavam completamente de acordo.
            Bom, celeuma e regras à parte, estas são as regras meus senhores…

1.
Na generalidade, o h é carta fora do baralho, inexistente, sem som, sem voz, foi descartado o que significa, afinal, manter-se presente.



anti-higiénico

anti-histórico

co-herdeiro

macro-história

mini-hotel

proto-história

sobre-humano

super-homem

ultra-humano




Exceção: subumana (neste caso, a palavra humana perde o
h).
2.
            Continua a utilizar-se o hífen quando a primeira palavra termina com a mesma letra com que se inicia a segunda palavra.
            Exemplos: micro-ondas – hiper-realismo – anti-inflamatório – sub-bibliotecário
3.

            Rejeitado e triste, parte o hífen...

           
neoliberalismo
                                
extraoficial
          
semicírculo

superintendente