Camões, Grande Camões, quão Semelhante
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! comparo
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante; enfrentar ; Adamastor
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, recurso est. - trocadilho
Também carpindo estou, saudoso amante. chorando
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura engano; Destino
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura, Sorte
Não te imito nos dons da Natureza.
Bocage, in 'Rimas'
1. Delimite no soneto uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.
2. A introdução da adversativa mas no 1º verso do 2º terceto o que significa? ( o que exprime...)
3. Qual o estado psicológico do sujeito poético?
3.1 Que solução aponta ele para pôr fim a tal estado?
3.2 Esta solução adequa-se à mentalidade clássica ou à pré-romântica?
4. Identifique os recursos estilísticos neste soneto e indique o seu valor semântico.
Podemos considerar a existência de duas partes neste texto.
1ª parte - constituída pelas duas quadras e pelo primeiro terceto. O sujeito poético compara-se a Camões, enumerando os aspetos que os aproximam.
2ª parte - constituída pelo segundo terceto. Inesperadamente, o s. p. dá-nos conta do seu desgosto ao verificar que apenas se assemelha a Camões nas desgraças e não no génio criativo, da escrita.
No entanto, se pensarmos em termos de introdução, desenvolvimento e conclusão como momentos distintos no texto, concluímos que, embora os dois primeiros pontos, correspondam às duas primeiras partes já no que diz respeito à conclusão há que distinguir a importância da parte do texto introduzida pela adversativa "mas" e que corresponderá à conclusão. Nela, Bocage reconhece humildemente o Génio de Camões e a sua superioridade, causadores da tristeza que sente ao tomar consciência de que as semelhanças abrangem principalmente os aspetos negativos das suas existências.
Na globalidade, o tema do soneto assenta no descontentamento de Bocage ao verificar que a Infelicidade é o único elo entre os dois poetas. No entanto, e psicologicamente, sente-se algum conforto pela parte de Bocage nesta sua semelhança com Camões que ele considera o seu modelo.
"pela certeza
De que só terei paz na sepultura." - solução apresentada que se enquadra na mentalidade pré-romântica.
"pela certeza
De que só terei paz na sepultura." - solução apresentada que se enquadra na mentalidade pré-romântica.
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