Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Elmano Sadino da Nova Arcádia, nasceu em
Setúbal (1766) e era filho do bacharel José Soares de Barbosa e de D. Mariana
Joaquina Lestoff du Bocage.
Os pais eram dados às letras, o que
explica um pouco a tendência de Elmano que, versejando desde tenra idade,
revelava já espírito de improvisação.
Aos dez anos perde a mãe. Essa perda
talvez tenha concorrido para um certo desvairamento, para o predomínio dos
sentidos sobre a razão.
Em 1780 assenta praça num regimento
da sua terra, passando mais tarde para a armada.
Em 1785 volta ao exército, parte um
ano depois para a Índia e, de passagem, está no Brasil.
Em Goa, não gostando do que viu, dos
habitantes sobretudo, seguiu, como Camões, até Macau.
Em 1790 vê-se de novo em Portugal,
revoltado contra o Destino, e ingressa na Nova
Arcádia cuja vida foi efémera e
precária.
Algumas composições, consideradas
como ofensivas à Fé, valeram-lhe a entrada no Limoeiro, donde transitou para os
cárceres da Inquisição.
Solto, passou a viver na companhia
de sua irmã D. Maria Francisca, sustentando a casa com o produto das suas obras
(traduções, etc.).
Em 1805 morria prematuramente,
concorrendo para tal, os excessos praticados, erros de que ele deu conta a
tempo para se arrepender, mas quando já não podia restaurar as forças físicas
perdidas.
A Obra
- considerada
uma obra de transição;
-
caracterizada por uma linguagem, processos e formas tipicamente arcádicos, e
uma mundividência por vezes marcadamente romântica;
- o universo
bocagiano – sobretudo os sonetos – incide numa perspetiva dramática ou
dramatizável sobre o eu, o amor, a morte mas que não poderia funcionar sem se
socorrer de certos artifícios da estética arcádica (personificações, alegorias,
recurso a figuras e factos da tradição mitológica greco-latina);
O eu que organiza grande parte da produção bocagiana, mesmo na
abordagem de temas fundamentalmente abstratos como o Amor e a Morte, move-se
frequentemente ao nível do olhar – o próprio sentimento é dado muitas vezes em
termos de cegueira, sonho, visão, pesadelo, etc. (* é frequente a utilização de
verbos e adjetivos relacionados com o campo semântico da visão) – e esse olhar
vai incidir, por vezes, sobre estruturas poéticas com características
particulares: as personificações, muitas vezes utilizadas na construção de
alegorias, a dramatização do eu (quer
através de retratos e apóstrofes a si próprio quer através da intervenção em
diálogo, a utilização de figuras mitológicas que simbolizam ideias ou
sentimentos (…) muitas vezes com características horrorizantes e infernais.
- aspetos de
linguagem relacionados com um certo gosto teatral: utilização de apóstrofes e
exclamações, hipérboles e perífrases eruditas;
- a
dramatização do eu mantém uma certa
distanciação entre a obra poética e a verdade do sentimento, que é ainda
diferente da conceção romântica de poesia.
*** Bocage tem
efetivamente alguns traços em comum com o gosto romântico: a aguda consciência
do eu, da perseguição de um destino
infeliz, da submissão total ao Amor, quase divinizado pelo poeta e muitas vezes
oposto à razão. Estes aspetos gerais refletem-se em traços particulares
associados ao sujeito que trazem já a marca de um gosto novo: o prazer da solidão, das paisagens
sombrias, a confiança em profecias e agouros, que se traduzem, ao nível da
linguagem, numa certa busca vocabular (substantivos e adjetivos,
principalmente) das formas mais impressionantes, mais capazes de corresponderem
à intensidade subjetiva. *** o “locus
horrendus”
adaptado de
Margarida Barahona, Poesias de Bocage, Textos
Literários, Seara Nova
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