domingo, 17 de maio de 2015

BOCAGE - A VIDA E A OBRA I (breves apontamentos)







A Vida


Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Elmano Sadino da Nova Arcádia, nasceu em Setúbal (1766) e era filho do bacharel José Soares de Barbosa e de D. Mariana Joaquina Lestoff du Bocage.
            Os pais eram dados às letras, o que explica um pouco a tendência de Elmano que, versejando desde tenra idade, revelava já espírito de improvisação.
            Aos dez anos perde a mãe. Essa perda talvez tenha concorrido para um certo desvairamento, para o predomínio dos sentidos sobre a razão.
            Em 1780 assenta praça num regimento da sua terra, passando mais tarde para a armada.
            Em 1785 volta ao exército, parte um ano depois para a Índia e, de passagem, está no Brasil.
            Em Goa, não gostando do que viu, dos habitantes sobretudo, seguiu, como Camões, até Macau.
            Em 1790 vê-se de novo em Portugal, revoltado contra o Destino, e ingressa na Nova Arcádia cuja vida foi efémera e precária.
            Algumas composições, consideradas como ofensivas à Fé, valeram-lhe a entrada no Limoeiro, donde transitou para os cárceres da Inquisição.
            Solto, passou a viver na companhia de sua irmã D. Maria Francisca, sustentando a casa com o produto das suas obras (traduções, etc.).
            Em 1805 morria prematuramente, concorrendo para tal, os excessos praticados, erros de que ele deu conta a tempo para se arrepender, mas quando já não podia restaurar as forças físicas perdidas.


A Obra

- considerada uma obra de transição;
- caracterizada por uma linguagem, processos e formas tipicamente arcádicos, e uma mundividência por vezes marcadamente romântica;
- o universo bocagiano – sobretudo os sonetos – incide numa perspetiva dramática ou dramatizável sobre o eu, o amor, a morte mas que não poderia funcionar sem se socorrer de certos artifícios da estética arcádica (personificações, alegorias, recurso a figuras e factos da tradição mitológica greco-latina);
            O eu que organiza grande parte da produção bocagiana, mesmo na abordagem de temas fundamentalmente abstratos como o Amor e a Morte, move-se frequentemente ao nível do olhar – o próprio sentimento é dado muitas vezes em termos de cegueira, sonho, visão, pesadelo, etc. (* é frequente a utilização de verbos e adjetivos relacionados com o campo semântico da visão) – e esse olhar vai incidir, por vezes, sobre estruturas poéticas com características particulares: as personificações, muitas vezes utilizadas na construção de alegorias, a dramatização do eu (quer através de retratos e apóstrofes a si próprio quer através da intervenção em diálogo, a utilização de figuras mitológicas que simbolizam ideias ou sentimentos (…) muitas vezes com características horrorizantes e infernais.
- aspetos de linguagem relacionados com um certo gosto teatral: utilização de apóstrofes e exclamações, hipérboles e perífrases eruditas;
- a dramatização do eu mantém uma certa distanciação entre a obra poética e a verdade do sentimento, que é ainda diferente da conceção romântica de poesia.
*** Bocage tem efetivamente alguns traços em comum com o gosto romântico: a aguda consciência do eu, da perseguição de um destino infeliz, da submissão total ao Amor, quase divinizado pelo poeta e muitas vezes oposto à razão. Estes aspetos gerais refletem-se em traços particulares associados ao sujeito que trazem já a marca de um gosto novo: o prazer da solidão, das paisagens sombrias, a confiança em profecias e agouros, que se traduzem, ao nível da linguagem, numa certa busca vocabular (substantivos e adjetivos, principalmente) das formas mais impressionantes, mais capazes de corresponderem à intensidade subjetiva.   *** o “locus horrendus”

adaptado de Margarida Barahona, Poesias de Bocage, Textos Literários, Seara Nova





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