Ainda "Portugal Simbólico"...
"Acerca do sebastianismo de Fernando Pessoa, A. Quadros escreve "Mensagem é uma obra sebastianista que (...) exprime uma total originalidade. Porquê? Porque Fernando Pessoa procurou - e conseguiu - expurgar toda a sensibilidade e todo o sentimentalismo neogarrettistas, neo-românticos e saudosistas, para nos mostrar o mito, despojado e reduzido ao essencial, na sua intemporalidade e no seu rigor por assim dizer canónico. Que é o mito?" Pessoa define-o num dos primeiros poemas da Mensagem:
"O mytho é o nada que é tudo
(...)"
Num texto deste blogue, já fiz referência a este tema, com este quadro...
O Quinto Império, segundo António
Quadros
(ler o
poema “O Quinto Império” na terceira parte de Mensagem)
Império Material
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Império Espiritual
|
1º -
Babilónia
2º -
Medo-Persa
3º - Grécia
4º - Roma
5º - Inglaterra
|
1º - Grécia
2º - Roma
3º -
Cristandade
4º - Europa
5º -
(Portugal)
|
António
Quadros considera que Mensagem “é sem
dúvida a obra-prima onde Pessoa (…) imprimiu o seu ideal patriótico,
sebastianista e regenerador. É um poema nacional, uma versão moderna,
espiritualista e profética de Os Lusíadas.”
Diz Pessoa e referindo-se ao Quinto Império, "todo o Império que não é baseado no Império Espiritual é uma Morte em pé, um Cadáver mandando".
Com efeito, o Quinto Império é o Império do Espírito e o mito de D. Sebastião guarda em si a essência do "mito bretão Artur". Sendo que na tradição celta o rei Artur representa o ideal cavaleiresco da demanda do Graal, a aspiração espiritual da casta guerreira. Galaaz é o herói, digno do Santo Graal, o mais puro de todos, o cavaleiro perfeito, invencível nos assuntos terrestres enquanto que Lancelot sê-lo-á mas nos assuntos terrestres.
À semelhança de D. Sebastião, o rei Artur não morre, antes é conduzido para a ilha de Avallon onde permanecerá esperando o momento em que poderá regressar, acompanhado dos seus cavaleiros.
Século XVI, apontado por muitos como o século do início da nossa decadência e de um corte com o passado histórico da nação. Mas não será correto pensar que o futuro predestinado de Portugal assente unicamente no mito do Quinto Império. A "profecia" alimentada pelos investigadores da História esotérica de Portugal, quanto ao seu papel de primeira ordem no futuro mundial, significa o renascer do mito sebastianista neste momento de crise que não é, na sua essência, económica, mas de identidade. E esta só pode ser recuperada através do renascer da espiritualidade e da moral. Ora este mito, pelo que nos é dado conhecer, é como uma espada de dois gumes que tanto corta para um lado como para o outro. E o importante na espada, do ponto de vista simbólico e fático, é a ponta, ou seja, a síntese, o que está para além da dualidade.
Por um lado, o sebastianismo alimenta legitimamente a nossa esperança em recuperar o passado glorioso de que somos herdeiros, e em sairmos deste fosso em que a mediocridade nos instalou. Mas por outro lado, é uma compensação ilegitimamente altiva do complexo de inferioridade de que padecemos desde Alcácer-Quibir.
A Ordem do Templo foi eliminada no século XIV e tinha como missão principal, segundo pareceres entendidos, assegurar a comunicação entre o Oriente e o Ocidente e uma vez que sempre se considerou o Oriente como o centro do mundo.
Para os Templários, assim como para os Cavaleiros do Graal, a "guerra santa" não tinha um sentido materialista e exterior mas era antes um meio de purificação.
A demanda do Graal exemplifica bem o meio espiritual que envolvia a Idade Média em que os Templários eram considerados os herdeiros da Tradição universal. Com efeito, o cálice do Graal no qual, tradicionalmente assim considerado, José de Arimateia recolheu o sangue de Cristo, representa o recipiente que contém a sabedoria perdida e o néctar da imortalidade. Ora sendo o sangue o princípio da vida relacionado diretamente com o coração, o cálice assume o papel de Centro.
A tradição pretende que o Graal tenha sido talhado numa esmeralda que caíra da fronte de Lúcifer. Para os alquimistas é a luz da esmeralda que penetra os maiores segredos. Se recordarmos que o Conhecimento é um instrumento ambivalente que tanto pode ser benéfico como maléfico, consoante o estado moral daquele que o possui; (...) compreende-se que a demanda do Santo Graal exija condições de vida interior capazes de sacrificar, quer dizer, de tornar sagrado tudo o que se faz, dedicando esses atos à Divindade. É assim que o candidato, para alcançar o Graal, deve ter a alma pura e virgem como Galaaz, isto é, preparada para receber a semente divina.
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