domingo, 13 de novembro de 2016

ELEMENTOS ESSENCIAIS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA


Hybris - Sentimento que conduz os heróis da tragédia à violação da ordem estabelecida através de uma ação ou de um comportamento que constitui um desafio aos poderes definidos sejam eles de ordem familiar, social, da natureza e / ou outros.

Em FLS, a Hybris verifica-se na realização do segundo casamento de Madalena, sem que esta tenha a certeza da morte de D. João; há um desafio ao Destino. Por sua vez, Manuel de Sousa desafia as leis da política ao incendiar o seu palácio para impedir a sua ocupação pelos espanhóis.

Pathos - Sofrimento, progressivo, do(s) protagonista(s), imposto pelo Destino (Anankê) e executado pelas Parcas (Cloto, que presidia ao nascimento e sustinha o fuso na mão; Láquesis, que fiava os dias da vida e os seus acontecimentos; Átropos, a mais velha das três irmãs, que, com a sua tesoura fatal, cortava o fio da vida), como consequência da sua ousadia.

Em FLS, verifica-se pelo sentimento de culpa de Madalena, pela instabilidade emocional de Maria; pela aflição de Manuel de Sousa ao aperceber-se da ilegitimidade de sua filha, pela angústia de Telmo que se sente dividido entre a fidelidade a D. João e o amor que entretanto ganhou a Maria.

Ágon – “Conflito (a alma da tragédia) que decorre da hybris desencadeada pelo(s) protagonista(s) e que se manifesta na luta contra os que zelam pela ordem estabelecida.”

Em FLS está visível no dilema vivido por Telmo e que o divide entre o seu amor a Maria e a fidelidade a seu amo, D. João de Portugal.

Anankê - É o Destino. Preside às Parcas e encontra-se acima dos próprios deuses, aos quais não é permitido desobedecer-lhe.

Encontra-se presente quando os espanhóis escolhem o palácio de Manuel de Sousa para habitar, determinando assim a mudança da família para o palácio de D. João; de igual modo, é o Destino a determinar a ausência deste e o seu regresso 21 anos depois.

Peripécia – “Segundo Aristóteles, "Peripécia é a mutação dos sucessos no contrário".” Caracteriza-se pela existência de um acontecimento imprevisível que altera o normal curso dos acontecimentos da ação, ao contrário do que se podia esperar.

O regresso inesperado de D. João vem alterar a ordem da família deste texto pois o casamento de Madalena e de Manuel de Sousa é anulado, situação que o Romeiro ainda tenta alterar mas que, no entanto, é já irreversível.

Anagnórise (Reconhecimento) – “Segundo Aristóteles, "o reconhecimento, como indica o próprio significado da palavra, é a passagem do ignorar ao conhecer, que se faz para a amizade ou inimizade das personagens que estão destinadas para a dita ou a desdita." Aristóteles acrescenta: "A mais bela de todas as formas de reconhecimento é a que se dá juntamente com a peripécia, como, por exemplo, no Édipo”." No reconhecimento podem ser constatados factos ou acontecimentos acidentais, ocasionais mas que se traduzem quase sempre na identificação de uma personagem como, aliás, sucede com a figura do Romeiro de FLS enquanto D. João de Portugal. O clímax dá-se quando este é reconhecido como D. João.

 Catástrofe - Desenlace trágico cujos indícios vão sendo referidos pelas personagens e que deve ser indicado desde o início, uma vez que resulta do conflito entre a hybris (desafio da personagem) e a anankê (destino), conflito que se desenvolve num crescendo de sofrimento (pathos) até ao clímax (ponto culminante). Segundo Aristóteles, a catástrofe " é uma ação perniciosa e dolorosa, como o são as mortes em cena, as dores veementes, os ferimentos e mais casos semelhantes."

Em FLS adquire várias formas: a separação de Madalena e de Manuel de Sousa quando optam pela vida religiosa; a morte de Maria; D. João ganha consciência de que não é ninguém uma vez que perdeu a casa, a vida que tinha e a mulher.

Katharsis (Catarse) – “Purificação das emoções e paixões (idênticas às das personagens), efeito que se pretende da tragédia, através do terror (phobos) e da piedade (eleos) que deve provocar nos espetadores.”


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