Algumas
notas a propósito da obra e da vida de António Nobre, sabendo que a primeira
não poderá dissociar-se da segunda.
As
primeiras notasque se seguem foram retiradas do último capítulo, Considerações
Gerais, da obra António Nobre e o
Simbolismo em Portugal, Dissertação de Mestrado, de Liliana Carla
Correia Martins.
Optei
pelas informações que me pareceram mais importantes.
v António Nobre revelar-se-ia um dos
poetas mais renovadores do fim-de-século, traçando e abrindo novas linhas à
literatura que se lhe seguiria;
v Em
Só, a única obra publicada em vida do poeta, é possível notar-se um estilo decadentista dando a ver uma prática que
se enquadra nas correntes da geração finissecular do século XIX português: ultrarromântica,
decadentista, saudosista e simbolista,(…);
v O ambiente espiritual surgido em Portugal
ocorreria pelas mãos dos «Vencidos da Vida», cujo especial relevo terá sido
concedido a António Nobre, também ele membro desse grupo;
v “Só” apresenta-se como uma obra que
congrega várias tendências caraterísticas do fim-de-século. Nela, se poderá
encontrar o decadentismo, o saudosismo e o sentido profético, próprio de um
período de transição que combina oposições e antagonismos. Notámos um tom original
e muito próprio de dizer e sentir capaz de desdobrar a autobiografia do poeta
na do seu país;
v o
Saudosismo presente na obra revela a transformação da saudade da infância na
saudade de um país que tinha sido glorioso;
v tal como a maioria dos poetas
finisseculares, António Nobre reuniria temas decadentistas como a morte, a dor,
o tédio, a solidão, o isolamento e a doença física e psicológica cuja cura pode
provocar a fuga para outras dimensões do mundo, levando o poeta ao desespero;
v António Nobre cresceu numa época
marcada pelo Decadentismo, pela desilusão, pelo desalento e pelo futuro incerto
que a passagem de século esconde na sua neblina, tendo o poeta cultivado o
sonho e a interiorização através de imagens e símbolos;
v no último capítulo de Só persiste o
tema da Morte que percorre todo o texto. A presença dessa temática assume um
papel de destaque na obra de António Nobre, podendo também representar o estado
decadente de Portugal, país que caminha para um fim sem esperança;
v a
sua obra permite não apenas o sujeito
poético como também a cultura portuguesa do século XIX. Através das suas
memórias registadas nos seus textos, é possível deduzir como seriam as
tradições, o quotidiano dos homens que trabalhavam no mar ou na terra, as
práticas religiosas do povo, a história e a paisagem, sobretudo a do norte de
Portugal, onde o poeta nascera. Foi possível, também, depreender-se, através
das evocações da memória individual e coletiva, a agitação de um fim de século
cindido entre o avanço da modernidade e o apego à terra rural, entre uma
política desorganizada que levou o país à derrocada e a quimera de voltar à
grandeza imperial que Os Descobrimentos tinham trazido;
v são
estes momentos da vida do sujeito poético
que correspondem aos da sua pátria.
Outras considerações…
a
sua Poesia reflete uma ironia amarga face à decadência de Portugal;
Nobre
faz questão de lembrar todo o passado grandioso do povo português sem esquecer
que descendia dessa raça de “Navegadores”;
o
pai e a mãe desaparecem; do pai diz que é bom, egrégio e a mãe, uma
santa;
Só – obra dirigida a
alguém, aos pais do Poeta, do autor, os bons portugueses, isto é, as suas
origens; nela estão presentes as emoções da sua infância e da sua adolescência;
ainda
em Só, a desilusão com o seu país: ele e os seus companheiros sentem o
desalento por não os deixarem cumprir os sonhos por questões políticas;
sente-se o desespero e angústia do sujeito poético perante a sua impotência em
transformar o próprio destino e o do seu país, dado que ambos se encontram no
mesmo desalento rumo ao abismo;
concluindo, António Nobre mostra-nos
através daquele que é considerado por si como «o livro mais triste que há em
Portugal» parte da decadência de um povo que no passado fora glorioso.
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