segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

ANTÓNIO NOBRE



Algumas notas a propósito da obra e da vida de António Nobre, sabendo que a primeira não poderá dissociar-se da segunda.

As primeiras notasque se seguem foram retiradas do último capítulo, Considerações Gerais, da obra António Nobre e o Simbolismo em Portugal, Dissertação de Mestrado, de Liliana Carla Correia Martins.
Optei pelas informações que me pareceram mais importantes.


v António Nobre revelar-se-ia um dos poetas mais renovadores do fim-de-século, traçando e abrindo novas linhas à literatura que se lhe seguiria;
v Em , a única obra publicada em vida do poeta, é possível notar-se um estilo decadentista dando a ver uma prática que se enquadra nas correntes da geração finissecular do século XIX português: ultrarromântica, decadentista, saudosista e simbolista,(…);
v  O ambiente espiritual surgido em Portugal ocorreria pelas mãos dos «Vencidos da Vida», cujo especial relevo terá sido concedido a António Nobre, também ele membro desse grupo;
v “Só” apresenta-se como uma obra que congrega várias tendências caraterísticas do fim-de-século. Nela, se poderá encontrar o decadentismo, o saudosismo e o sentido profético, próprio de um período de transição que combina oposições e antagonismos. Notámos um tom original e muito próprio de dizer e sentir capaz de desdobrar a autobiografia do poeta na do seu país;
v o Saudosismo presente na obra revela a transformação da saudade da infância na saudade de um país que tinha sido glorioso;
v tal como a maioria dos poetas finisseculares, António Nobre reuniria temas decadentistas como a morte, a dor, o tédio, a solidão, o isolamento e a doença física e psicológica cuja cura pode provocar a fuga para outras dimensões do mundo, levando o poeta ao desespero;
v António Nobre cresceu numa época marcada pelo Decadentismo, pela desilusão, pelo desalento e pelo futuro incerto que a passagem de século esconde na sua neblina, tendo o poeta cultivado o sonho e a interiorização através de imagens e símbolos;
v no último capítulo de Só persiste o tema da Morte que percorre todo o texto. A presença dessa temática assume um papel de destaque na obra de António Nobre, podendo também representar o estado decadente de Portugal, país que caminha para um fim sem esperança;
v a sua obra permite não apenas o sujeito poético como também a cultura portuguesa do século XIX. Através das suas memórias registadas nos seus textos, é possível deduzir como seriam as tradições, o quotidiano dos homens que trabalhavam no mar ou na terra, as práticas religiosas do povo, a história e a paisagem, sobretudo a do norte de Portugal, onde o poeta nascera. Foi possível, também, depreender-se, através das evocações da memória individual e coletiva, a agitação de um fim de século cindido entre o avanço da modernidade e o apego à terra rural, entre uma política desorganizada que levou o país à derrocada e a quimera de voltar à grandeza imperial que Os Descobrimentos tinham trazido;
v são estes momentos da vida do sujeito poético que correspondem aos da sua pátria.

Outras considerações…
*    a sua Poesia reflete uma ironia amarga face à decadência de Portugal;
*    Nobre faz questão de lembrar todo o passado grandioso do povo português sem esquecer que descendia dessa raça de “Navegadores”;
*    o pai e a mãe desaparecem; do pai diz que é bom, egrégio e a mãe, uma santa;
*    – obra dirigida a alguém, aos pais do Poeta, do autor, os bons portugueses, isto é, as suas origens; nela estão presentes as emoções da sua infância e da sua adolescência;
*    ainda em , a desilusão com o seu país: ele e os seus companheiros sentem o desalento por não os deixarem cumprir os sonhos por questões políticas; sente-se o desespero e angústia do sujeito poético perante a sua impotência em transformar o próprio destino e o do seu país, dado que ambos se encontram no mesmo desalento rumo ao abismo;
*    concluindo, António Nobre mostra-nos através daquele que é considerado por si como «o livro mais triste que há em Portugal» parte da decadência de um povo que no passado fora glorioso.


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