O INFANTE
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
- Podemos considerar três
momentos: 1º, 1º verso; 2º, até final 2ª estrofe e 3º, até ao final do poema.
- Interpretação de dois
elementos importantes:
-
Sonho
– desejo de desvendar o desconhecido, de ir mais além; a conquista do mar, a
construção do Império Português.
-
Detentor
– Deus; a vontade de Deus é determinante mas sem o sonho humano, nada seria
possível.
- Significado da sequência
do primeiro verso:
-
Deus:
deseja, ordena, comanda;
-
Homem:
sonha, planeia, executa;
-
Obra:
nasce, realiza-se através das mãos do Homem.
-
- Desenvolvimento da
estrutura tripartida:
·
Deus
quis que o mar fosse o caminho que unisse os diferentes continentes
(vv. 2-3);
·
Deus
sagrou / escolheu o infante D. Henrique, o infante de Sagres para iniciar essa
tarefa (v. 4), levando-o a “sonhar” com isso («o homem sonha»);-
·
«a
obra nasce»: a pouco e pouco as caravelas ligaram ilhas e continentes, foram «até
ao fim do mundo», percorreram «a terra inteira» (segunda estrofe).
- «Quem te sagrou (relação com Sagres, Algarve) criou-te
português»: os portugueses foram escolhidos por Deus para levar a cabo esta
empresa; logo, este é um povo eleito, designado por Deus, o único capaz de realizar
este empreendimento e que será o intermediário entre Deus e a obra.
- Ideia expressa nos dois
últimos versos:
· «Cumpriu-se o Mar», ou seja,
realizou-se o sonho do mar ser um caminho para unir os diferentes continentes;
· Contudo, «o Império se
desfez»: o poderio português acabou na época dos Descobrimentos (Portugal
perdeu a independência logo a seguir, com a morte de D. Sebastião);
· «Senhor, falta cumprir-se
Portugal!»: desejo de que o país volte a ser uma grande potência mundial, que o
Império Português ressurja e que não seja apenas marítimo; Portugal deve realizar-se
e engrandecer-se num novo império civilizacional (a que Pessoa chamou de
“Quinto Império”).
- O poema é um ciclo
fechado:
DEUS HOMEM OBRA
DEUS
(e povo português)
Senhor,
|
- As afirmações sucessivas
aumentam progressivamente o ritmo do texto; o aparecimento frequente de
maiúsculas, leva-nos a pensar no Paulismo de Pessoa; elas chamam a atenção do
leitor para aspectos importantes no texto.
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