CAPÍTULO I, Exórdio
No primeiro parágrafo do Cap. I faz-se a apresentação do tema, de toda a problemática que vai ser desenvolvida ao longo do Sermão. O argumento é, por sua vez, desenvolvido em redor do Conceito Predicável,
Vos estis sal terrae, Mateus, 5
retirado da Sagrada Escritura.
Explicitação do C.P..
Vos (Vós) - referente aos pregadores cuja função é impedir a corrupção e a quem Cristo chama sal exatamente por esse motivo.
estis (sois)
sal (o sal) - mensagem veiculada através da cristianização, da transmissão dos valores religiosos
terrae (da terra) - referente aos Índios, aos homens em geral.
Padre António Vieira (PAV) interroga-se, se existem tantos na terra com o ofício de sal, qual será a razão para a existência de tanta corrupção?
E, continuando a desenvolver a sua argumentação, coloca hipóteses...
Explicitação do C.P..
Vos (Vós) - referente aos pregadores cuja função é impedir a corrupção e a quem Cristo chama sal exatamente por esse motivo.
estis (sois)
sal (o sal) - mensagem veiculada através da cristianização, da transmissão dos valores religiosos
terrae (da terra) - referente aos Índios, aos homens em geral.
Padre António Vieira (PAV) interroga-se, se existem tantos na terra com o ofício de sal, qual será a razão para a existência de tanta corrupção?
E, continuando a desenvolver a sua argumentação, coloca hipóteses...
e qual a causa da corrupção ? → as causas são
várias e são apresentadas por uma sequência de orações
coordenadas disjuntivas ( ou ) :
Ou porque o
sal não salga
|
1)→ os pregadores não pregam a verdadeira doutrina
2)→ os pregadores dizem uma coisa e fazem outra
3) → os pregadores não pregam a verdadeira doutrina
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Ou porque a
terra não se deixa salgar
|
1)→ os ouvintes não querem receber a verdadeira
doutrina
2)→ os ouvintes preferem imitar o que os pregadores
fazem a fazer o que eles pregam (pressupõem-se que os pregadores também não
fazem o que deviam e o que pregam)
3)→ os ouvintes servem (agradam) os seus apetites e
não a Cristo.
|
Conclusão: Não é tudo isto verdade? – • Interrogação retórica – tanto é verdade que a resposta é: Ainda mal!
|
Na
hipótese de tudo o que foi dito ser verdade (suposto pois...), como modificar a situação?
→ aos pregadores, se faltarem à doutrina e ao
exemplo:
|
→ Deitá-lo fora, para ser pisado por todos
|
→ e à terra? [àqueles que estão a ouvir o sermão]→
dá o exemplo de St António
↓
Mudou de
púlpito (lugar onde pregava) e de auditório (ouvintes do seu sermão)
↓ ↓
Foi pregar
para a praia
aos peixes
|
|
Vieira faz o mesmo (linha …) → vai pregar aos peixes.
|
•Alegoria: conjunto de imagens que
mostra uma realidade com significado simbólico
|
O que deve então ser feito se o sal não salga?
Deve ser lançado fora como inútil para que seja pisado de todos. (Cap. I)
E o que se deve fazer à terra que não se deixa salgar?
Ainda que Cristo não tenha deixado nada determinado sobre esta hipótese, diz PAV que se deve então seguir o exemplo de Santo António...
Encontrando-se Santo António a pregar em Itália na cidade de Arimino, contra os Hereges, e tendo-se o Povo revoltado contra ele, decide o Santo mudar o púlpito e o auditório sem, no entanto, abandonar a doutrina.~
Assim, deixa Santo António as praças - a cidade - e os Hereges - os ouvintes, homens - e dirige-se para o mar, as praias, onde o esperam ouvintes mais atentos, os peixes. Santo António foi, deste modo, sal da terra e sal do mar.
Imitando o Santo, PAV justifica a sua opção acrescentando que, já que os homens não aproveitam as suas palavras, então resta-lhe a atenção dos peixes.
O primeiro capítulo termina com a habitual invocação a Maria, Domina maris, isto é, Senhora do mar.
Notas Soltas...
Exórdio
(ou introito) – capítulo I – apresentação do tema que vai ser
abordado no sermão, tendo por base o conceito predicável e as ideias a defender
e que, geralmente, termina com uma breve oração, invocando a Virgem. Esta
primeira parte é muito importante uma vez que nela se decide a eficaz captação
da atenção dos ouvintes.
O Sermão é um texto em prosa, um
discurso importante, longo e demoradamente elaborado. Tem como objetivo a
propaganda / edificação religiosa.
Faz parte da oratória, arte ou
prática de bem dizer. Explora os recursos verbais procurando ensinar, persuadir
e comover.
Característica do orador: tem de se
expressar com desenvoltura e persuadir através da palavra.
Função
do púlpito – a figura do pregador nas igrejas é centralizadora, ocupa uma
oposição estratégica.
O pregador detém o poder da palavra,
conhece o texto bíblico, é o elemento agregador do grupo, fortalece-o e
condu-lo. Como orador, ele ocupa uma posição destacada e o púlpito constitui um
ponto de observação.
O púlpito sobreleva o papel dele
como sacerdote, é ele quem escolhe o texto do Evangelho a ser lido, as vestes
que irá usar.
Entre o pregador e o público há uma
relação desigual sendo que a distância que separa o púlpito do público é
igualmente uma barreira.
O orador interpreta o texto divino e,
através das suas palavras, e o auditório nota que Cristo disse algo… Vieira
torna-se assim o próprio porta-voz de Deus e aos ouvintes resta apenas ouvir e
acreditar.
Citações
em Latim – são imprescindíveis nos sermões de Vieira embora não seja
necessário que sejam compreendidas pois o orador traduz estas citações. Elas
fazem parte da mentalidade da época; transformam em verdades as afirmações do
presente pois confirmam-nas.
A escrita seiscentista assenta
esteticamente num jogo, é um jogo…
Jogo de palavras com os seus
trocadilhos ou equívocos;
Jogo de imagens de diversos tipos com que se embeleza, se transforma a realidade.
Jogo de construções, com que se organiza a frase e se molda o pensamento
dentro de modelos predeterminados – simetrias, paralelismos, cruzamentos,
antíteses, alternâncias, enumerações e suas repetições.
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