quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O PARALELISMO DAS CANTIGAS DE AMIGO

Manuscrito das cantigas de amigo de Martín Codax
Se atendermos sobretudo aos exemplares mais típicos, os cantares de amigo não se distinguem dos de amor unicamente por aparecerem ali "elas" e aqui "eles" a falar, mas também por outras diferenças de forma e intenção.
Cerca de uma quarentena  de tais cantigas,  modernamente designadas como "paralelísticas", apresenta uma estrutura rítmica e versificatória própria, redutível a um muito simples esquema. A unidade rítmica não é a estrofe, mas o par de estrofes, ou, mais precisamente, o par de dísticos, dentro do qual ambos os dísticos querem dizer o mesmo, diferindo só, ou quase só, nas palavras da rima, (...); o último verso de cada estrofe é o primeiro verso da estrofe correspondente no par seguinte. Cada estrofe é seguida de refrão.
  
Um exemplo...
Outro...
A este sistema deu-se o nome de paralelística. Mediante ele, é possível construir uma composição de seis estrofes e dezoito versos em que apenas há cinco versos diferentes incluindo o refrão.
O refrão atesta a existência de  um coro. A disposição das estrofes aos pares e a alternância das mesmas rimas ao longo de toda a composição deixam entrever que se alternavam dois cantores ou dois grupos de cantores. A repetição, à cabeça de cada nova estrofe, do verso final duma estrofe anterior é talvez o vestígio de um primeiro processo de composição improvisada, que obriga um dos improvisadores a repetir o último verso do outro, para o qual devia achar sequência (...) O facto, enfim, de, em virtude deste sistema de repetições, a letra se reduzir a um número pequeno de versos, mostra-nos que ela se subordinava ao canto e ao ritmo de dança e que a invenção literária desempenhava, dentro deste conjunto, um papel relativamente secundário.
Até hoje, foram só descobertos os acompanhantes musicais para sete cantigas do jogral galego Martin Codax (...). 
 A. J. Saraiva e Óscar Lopes
História da Literatura Portuguesa

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