Manuscrito das cantigas de amigo de Martín Codax
Se atendermos sobretudo aos exemplares mais típicos, os cantares de amigo não se distinguem dos de amor unicamente por aparecerem ali "elas" e aqui "eles" a falar, mas também por outras diferenças de forma e intenção.
Cerca de uma quarentena de tais cantigas, modernamente designadas como "paralelísticas", apresenta uma estrutura rítmica e versificatória própria, redutível a um muito simples esquema. A unidade rítmica não é a estrofe, mas o par de estrofes, ou, mais precisamente, o par de dísticos, dentro do qual ambos os dísticos querem dizer o mesmo, diferindo só, ou quase só, nas palavras da rima, (...); o último verso de cada estrofe é o primeiro verso da estrofe correspondente no par seguinte. Cada estrofe é seguida de refrão.
Um exemplo...
Outro...
A este sistema deu-se o nome de paralelística. Mediante ele, é possível construir uma composição de seis estrofes e dezoito versos em que apenas há cinco versos diferentes incluindo o refrão.
O refrão atesta a existência de um coro. A disposição das estrofes aos pares e a alternância das mesmas rimas ao longo de toda a composição deixam entrever que se alternavam dois cantores ou dois grupos de cantores. A repetição, à cabeça de cada nova estrofe, do verso final duma estrofe anterior é talvez o vestígio de um primeiro processo de composição improvisada, que obriga um dos improvisadores a repetir o último verso do outro, para o qual devia achar sequência (...) O facto, enfim, de, em virtude deste sistema de repetições, a letra se reduzir a um número pequeno de versos, mostra-nos que ela se subordinava ao canto e ao ritmo de dança e que a invenção literária desempenhava, dentro deste conjunto, um papel relativamente secundário.
Até hoje, foram só descobertos os acompanhantes musicais para sete cantigas do jogral galego Martin Codax (...).
A. J. Saraiva e Óscar Lopes
História da Literatura Portuguesa
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