terça-feira, 14 de novembro de 2017

ANÁLISE DA CANTIGA DE ROMARIA "POIS NOSSAS MADRES VAN A SAN SIMON"



    Notas:
    As cantigas de Romaria não são de temática religiosa uma vez que a peregrinação ou a capela são pretextos ou cenário para situações de carácter amoroso.
    Os namorados mais devotos chegavam a pedir "Não vás à missa que eu vá" pois sabem que se irão distrair.
    A cantiga de Romaria (de romagens a santuários) descrevia os acontecimentos em cenários como Santiago de Compostela, no caso galego, ou em ermidas situadas à beira da estrada em Portugal.
Pois nossas madres van a San Simon
de Val de Prados candeas queimar, velasnós, as meninhas, punhemos de andar  deixamo-nos levarcon nossas madres, e elas enton
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos todos lá iránpor nos veer, e andaremos nós
bailando ante eles, fremosas en cós, dançar sem manto, exibindo o corpo joveme nossas madres, pois que alá van, já que lá vãoqueimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos irán por cousir  termo provençal, mm q contemplarcomo bailamos, e podem veer
bailar moças de bon parecer,
e nossas madres pois lá queren ir,
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.
    1ª estrofe - nela é possível identificar duas intenções distintas: a das mães, de carácter religioso, deslocam-se em romaria para queimar (acender) velas, isto é, para pagar promessas; a das meninas, de carácter amoroso, e que, aproveitando-se da deslocação de suas mães, as acompanham mas apenas com o intuito de se encontrarem com os seus amigos. A devoção das raparigas é fingida e alegre contrastando com a das mães, levada a sério. A diferença de atitudes é bem definida através da conjunção  "Pois". Os dois últimos versos constituem o refrão desta cantiga; de salientar a presença da forma verbal "bailemos" a remeter-nos para as cantigas de amigo do subgénero Bailias.
    2ª estrofe - existe, no primeiro verso, um claro convite ao amor. A caracterização psicológica da rapariga traduz uma realidade intemporal no entanto desadequada ao ambiente vivido nesta época dado o nível de atrevimento.
    As raparigas dançavam diante das igrejas e perante a admiração dos namorados e galãs.
                                                                                                                                                                     Tema - de carácter religioso e de amor.
Assunto - a cantiga expressa a grande alegria e entusiasmo das meninas por irem à romaria porque vão encontrar-se com os seus amigos e bailar enquanto as suas mães vão rezar por si e por elas e uma vez que decidiram ir ...
Refrão - muito expressivo e cheio de ritmo, realçando a alegria das meninas, o seu atrevimento e desinteresse pela prática religiosa.
Existe, dir-se-ia, um lado humorístico na atitude das raparigas que aproveitam para se exibirem perante os amigos, gabando-se disso mesmo e do facto de deixarem a parte religiosa exclusivamente para as mães que vão a San Simon para pagarem promessas. Esta irreverência, pouco usual nesta época, é ainda reforçada pela repetição da ideia nos dois últimos versos do refrão.. Acresce ainda dizer que as mães não existem no texto pois apenas sabemos da sua existência pela voz das raparigas e para mencionar que elas são, afinal, um pretexto para estas atingirem os seus objetivos.

À semelhança de outras cantigas já estudadas, também esta possui características próprias da narração:

- ação - ida de um grupo de donzelas com as suas mães; romaria que serve de desculpa a que elas dancem e se "mostrem" aos seus amigos;
- personagens e sua caracterização - donzelas, de temperamento juvenil presente através:
1 - da forma como se encaram, "fremosas en cós"; "moças de bom parecer";
2 - da referência ao seu poder de sedução, "Nossos amigos ... cousir".

Formalmente, estamos perante uma cantiga de refrão com três coplas, com o esquema rimático abbaCC e rima interpolada e emparelhada nas quadras e emparelhada no refrão.





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