quarta-feira, 8 de novembro de 2017

CANTIGA DE AMIGO "BAILEMOS AGORA, POR DEUS, AI VELIDAS,"

João Zorro - CLICAR



Bailemos agora, por Deus, ai velidas,
aquestas avelaneiras frolidas,
e quem for velida, como nós velidas,
       se amigo amar,
5 sô aquestas avelaneiras frolidas
       verrá bailar.
  
Bailemos agora, por Deus, ai loadas,
sô aquestas avelaneiras granadas,
e quem for loada, como nós loadas,
10        se amigo amar,
sô aquestas avelaneiras granadas
       verrá bailar.
  

Cantiga de amigo pertencente ao subgénero das Bailadas ou Bailias que, tal como o nome indica, sugerem o convite para o baile, para o ato de dançar.
Nas cantigas de amigo verificamos a existência de características próprias da Narrativa ou Categorias da Narrativa como são designadas.
Assim, a ação decorre num espaço que é a Natureza e que serve de palco ao ato de bailar - a ação. A Natureza surge como um quadro, um cenário envolvente onde a rapariga se desloca, apaixonada. No caso presente, a Natureza encontra-se representada pelas "avelaneiras frolidas" sob as quais a menina e as suas amigas se propõem dançar. De referir que, neste género,  o mundo exterior - a Natureza - participa / está em consonância com as alegrias  / tristezas da menina.
Nesta cantiga, e porque se faz referência ao florir das avelaneira, concluímos que a ação decorre durante a estação da Primavera - tempo -  que, simbolizando a alegria, a força da vida, está diretamente relacionada com a situação das personagens - a amiga e as suas companheiras - visto tratarem de jovens raparigas e, por isso, também elas na força da vida. Neste conjunto de intervenientes, a rapariga tem a função de narrador, o que se justifica pelo convite em si e que ela faz às restantes meninas assim como pela presença do pronome pessoal "nós" nas duas estrofes.
Na primeira estrofe, de salientar o autoelogio que a narradora faz ao conjunto de raparigas, ao descrevê-las como sendo "velidas" e "loadas", isto é "formosas"  e "loadas" - do verbo "loar" ou louvar; as meninas são assim elogiadas, louvadas pela sua beleza. Esta forma de elogio é recorrente nestas cantigas.
Constituída por duas estrofes de cinco versos cada uma mais um de refrão, esta cantiga é uma paralelística perfeita ou pura: tem um número par de estrofes e refrão.
** Apesar de, nesta breve análise, ter utilizado o termo estrofes, na realidade, devemos referir-nos a cada conjunto isolado de versos como coblas.

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