Os sublinhados referem-se aos aspetos mais importantes a reter sobre esta temática.
Um grupo
numeroso de cantigas inspira-se na vida popular rural. Tem como personagem
principal a rapariga que vai à fonte, onde se encontra com o namorado;
que vai lavar ao rio a roupa ou os cabelos, que na romaria espera o amigo, ou
oferece promessas aos santos pelo seu regresso. Este género de cantar
apresenta-nos geralmente uma situação cujos elementos paisagísticos, muito simples
e padronizados, se carregam do simbolismo de velhos ritos pagãos, e coloca-nos
perante uma ou mais personagens sob a forma de diálogo, quer de monólogo,
quer até (caso raro mas muito significativo) de breve narrativa,
como se fosse um fragmento de um “rimence”: a rapariga que vai ao rio lavar
camisas, o corpo “velido” que baila na romaria. (…) Esta matéria corresponde às
cantigas de estrutura mais simples, construídas dentro do chamado “paralelismo
perfeito”.
A.J. Saraiva e O. Lopes, História
da Literatura Portuguesa
No entanto, a
cantiga de amigo não se encontra necessariamente ligada à vida do campo, pois
enquadra-se frequentemente no meio burguês, refletindo o ambiente doméstico e
familiar, marcado pela presença feminina, visto que a menina, na ausência do
chefe de família, vive sob a tutela da mãe, embora por vezes se rebele contra
as suas imposições. Assim, a cantiga não exprime só o drama sentimental da moça
(o que, em linguagem trovadoresca, se chamava “cuidado”), provocado pela
ausência do amigo como também testemunha as condições familiares da época, em
que a mãe possui autoridade e exerce vigilância sobre a filha.
Maria Ema Tarracha Ferreira, Poesia e
Prosa Medieval
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