Afonso recebe, por Vilaça, a notícia do
casamento de Pedro, com o qual não concordara, e quando se senta “à mesa do
almoço posta ao pé do fogão” vê que “ao centro um ramo esfolhava-se num vaso
de Japão, à chama forte da lenha”. Isto pressagiava o fim do “romance” de
Pedro e Maria Monforte pois este enlace iria desfazer-se e desaparecer, como
aquelas folhas secas que à chama forte da lenha se esfolhavam no vaso de Japão.
E Pedro, um dos Maias, separar-se-ia depois, pelo suicídio, do tronco familiar.
Carlos com um profundo sentimento de culpa
dirige-se da Rua de S. Francisco para o Ramalhete pensando que, depois de ter
cometido o incesto consciente, é-lhe impossível recomeçar a sua vida,
tranquilamente, na presença do avô e de Ega.
No momento da chegada de Carlos ao Ramalhete,
no exterior “os candeeiros ainda ardiam”, porém o advérbio de tempo “ainda”
indica que a escuridão está prestes a acabar, dando lugar à luz do dia. Mas no
interior reinava a escuridão, e Carlos procurava uma luz para iluminar os seus
passos e o seu comportamento, é que moralmente sentia-se também às escuras.
Neste momento de hesitação surge o avô com
uma luz, manifestada primeiro como claridade que vai crescendo, e depois se
torna num clarão, numa luz bem definida. Podemos descortinar nesta luz um
simbolismo: o avô sempre representou a luz, uma luz para Carlos que lhe
dissipava os momentos de incerteza e o orientava na vida. Mas agora “estava
lívido”, descorado pelas dúvidas, os seus olhos estavam vermelhos, não só por
ter passado a noite em claro, mas pelo sofrimento. A luz de antigamente
apagara-se e agora o avô não se encontrava ali para orientar mas para pedir
contas, para recriminar.
A luz do avô agora assustava Carlos porque
este, cedendo ao prazer pecaminoso, tornou-se cúmplice do mal e do poder das
trevas. Não admira que entrasse no quarto às escuras, sem rumo, desorientado,
tropeçando num sofá, sem saber o que fazer. A imagem do avô ficou gravada no
neto, sobretudo através de duas cores: o lívido do rosto e o vermelho da vela e
dos olhos, ambas de natureza negativa que apontam para a morte. A partir desta
confrontação, a vida perdera todo o sentido para ele.
Foi preciso ser anunciado o sol e a luz do dia
para ele reagir a este estado depressivo que o dominava e adormecer. Através da
evasão do sono, logrou fechar as portas à luz do dia e da razão, e mergulhar na
escuridão que é o antegosto da morte.
Sem comentários:
Enviar um comentário
COMENTE, SUGIRA, PERGUNTE, OPINE...