quinta-feira, 11 de maio de 2017

"OS MAIAS": FACTORES DE INFLUÊNCIA NO CARÁCTER INDIVIDUAL E COLETIVO DAS PERSONAGENS



Agora que já verificámos de que forma o título e o subtítulo da obra Os Maias se entrelaçam servindo os objetivos de Eça de retratar a sociedade do séc. XIX, podemos continuar a nossa análise.
O trajeto da família Maia desenvolve-se ao longo de três gerações sucessivas - Afonso, Pedro e Carlos - ao mesmo tempo que assistimos à evolução de uma sociedade que continua em busca de um rumo de modernidade sem, no entanto, o conseguir.
Se, com Caetano da Maia, encontramos a figura representativa do português antigo, defensor do absolutismo já em queda, com Afonso da Maia conhecemos uma geração que lutou pela implantação do liberalismo o qual virá a fracassar na geração do seu filho, Pedro da Maia, caracterizada igualmente por uma mentalidade frustrada de um romantismo que começa a apreciar-se na falência e na catástrofe. A Regeneração, com os ambientes e os hábitos de uma sociedade de uma sociedade em crise política, social e cultural, surge com a geração de Carlos da Maia.
Como já foi referido nem mesmo personagens como Carlos ou Ega conseguiram alterar o rumo desta crise e, já no final d'Os Maias, Ega confessa a sua admiração por Alencar, a quem tanto criticou o Romantismo, movimento que representou ao longo da obra.
Eça prova assim que não é fácil deixarmos de estar em consonância com o tempo em que vivemos. Ega e Carlos procuraram outro rumo mas acabaram por constatar que não alteraram muito uma conduta e um espírito tradicionalmente aceite:

"E que somos nós? - exclamou Ega. - Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão..." (p.714)

O Romantismo surge, uma vez mais, criticado mas agora, não como movimento estético mas como um modo de estar na vida e como sendo a causa do mal nacional.


O PAPEL DA EDUCAÇÃO


A educação tradicionalista e conservadora desvalorizou a criatividade e o juízo crítico, deformou a vontade própria, arrastou os indivíduos para a decadência física e moral.
Em Pedro da Maia, por exemplo, levou-o a uma devoção histérica pela mãe e tornou-o incapaz de encontrar uma solução para a sua vida quando Maria Monforte o abandonou; em Eusebiozinho, tornou-o "molengão e tristonho", arrastou-o para uma vida de corrupção, para um casamento infeliz e para a debilidade física.
Pelo contrário, a educação inglesa procurou "criar a saúde, a força e os seus hábitos", fortalecendo o corpo e o espírito. Foi graças a ela que Carlos da Maia adquiriu valores do trabalho e do conhecimento experimental que o levaram a formar-se em Medicina e a dedicar- -se a projetos de investigação, de empenhamento na vida literária, cultural e cívica.

A vida de ociosidade de Carlos e os contínuos fracassos de trabalho não resultaram da educação mas da sociedade em que se viu inserido. A ausência de motivações no meio em que se movimentou, o próprio estatuto económico que não lhe exigia qualquer esforço, a paixão romântica que o seduziu foram causas suficientes para, apesar de culturalmente bem formado, desistir, sentir o desencanto e afastar-se das atividades produtivas.
Mas, ao contrário do seu pai, Pedro da Maia, que perante o fracasso amoroso se suicidou, Carlos procurou um novo rumo, tomando por base uma filosofia de vida, a que chama "fatalismo muçulmano": Nada desejar e nada recear. Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar; o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves.

Sem comentários:

Enviar um comentário

COMENTE, SUGIRA, PERGUNTE, OPINE...