quinta-feira, 11 de maio de 2017

"OS MAIAS": SIMBOLISMO / ELEMENTOS SIMBÓLICOS - 5ª PARTE




Um prolixo cromático povoa Os Maias, cumprindo não só os postulados do impressionismo, mas também os do simbolismo.

O vermelho tem na obra um caráter duplo: ora feminina e noturna, centrípeto, ora masculina e de poder centrífugo. Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, fogo que desencadeia a líbido e a sensibilidade, espalham a morte provocando o suicídio de Pedro, a morte física de Afonso e a morte psicológica de Carlos. Já os olhos vermelhos de Afonso e a vela vermelha que ele trazia na mão incomodaram tanto Carlos que este anteviu a morte que, de facto, estava para acontecer no jardim do Ramalhete.

A casa do Ega, a Vila Balzac, tem uma grande concentração de cores, dispostas em espaços bem definidos: “verde feio e triste” na sala, sala de jantar amarela, quarto vermelho, cozinha verde e branca. O vermelho do quarto é tão intenso que indica a dimensão essencialmente libidinosa, carnal e efémera dos encontros de amor com Raquel Cohen. O amarelo/dourado indica o caráter ardente da paixão, tendo um significado duplo: cor do ouro de essência divina; cor da terra simbolizando o Verão e o Outono, anunciando a velhice, o Outono e a proximidade da morte.

Maria Monforte e Maria Eduarda conjugam o vermelho (leque negro [negro conotado com morte e luto] pintado com flores vermelhas, (sombrinha escarlate) com o amarelo/dourado (cabelos de ouro), pelo que tanto simbolizam a vida como a morte, o divino e o humano.

Afonso vê Pedro e Maria Monforte juntos num passeio. Maria Monforte traz um vestido cor-de-rosa que cobria os joelhos de Pedro, condizendo com as fitas do chapéu, também cor-de-rosa, simbolizando a vida romântica em que Pedro se deixou enlear. O azul dos olhos de Maria que, embora azuis da cor do céu, eram de um “azul sombrio” prevendo sombras, tristezas e complicações para este amor. O caminho por onde estes passeavam era verde e fresco, mas a ramagem que o circundava pareceu a Afonso de um verde triste, prenunciando luto e tristeza que ensombraria aquela união; embora o verde seja símbolo da primavera e, por isso, devia ser alegre, este verde é sombrio, pressagiando que a primavera da vida de Pedro também vai ser sombria. A sombrinha vermelha que envolvia Pedro lembrou a Afonso “uma larga mancha de sangue” em que, de facto, Pedro vai morrer. O presságio do sangue pode ainda ser visto à luz dos netos de Afonso que, sendo do mesmo sangue, se vão envolver numa relação incestuosa, manchando a honra familiar dos Maias.

Durante as corridas de cavalo Carlos, que apostara em Vladimiro, uma pileca, acaba por ganhar várias apostas, quando vai cobrar a dívida à ministra da Baviera que lhe diz, em tom de presságio “Vous connaissez le proverbe: heureux au jeu...” azar no amor. De facto, Carlos pode ter sorte ao jogo, mas acaba por falhar no amor ao se apaixonar pela própria irmã.

A obra afasta-se dos postulados naturalistas, submetidos a um forte racionalismo, ao aceitar e introduzir uma entidade transcendente que tudo faz para destruir Carlos e Maria Eduarda, depois de os ter aproximado. O destino compraz-se, assiste atento e ciumento, à felicidade do par e, quando nada o fazia prever, aparece abertamente através do Sr. Guimarães.

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