Um prolixo cromático povoa Os Maias, cumprindo não só os postulados do impressionismo, mas
também os do simbolismo.
O vermelho tem na obra um caráter duplo: ora
feminina e noturna, centrípeto, ora masculina e de poder centrífugo. Maria
Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, fogo que
desencadeia a líbido e a sensibilidade, espalham a morte provocando o suicídio
de Pedro, a morte física de Afonso e a morte psicológica de Carlos. Já os olhos
vermelhos de Afonso e a vela vermelha que ele trazia na mão incomodaram tanto Carlos
que este anteviu a morte que, de facto, estava para acontecer no jardim do
Ramalhete.
A casa do Ega, a Vila Balzac, tem uma grande
concentração de cores, dispostas em espaços bem definidos: “verde feio e
triste” na sala, sala de jantar amarela, quarto vermelho, cozinha verde e
branca. O vermelho do quarto é tão intenso que indica a dimensão essencialmente
libidinosa, carnal e efémera dos encontros de amor com Raquel Cohen. O
amarelo/dourado indica o caráter ardente da paixão, tendo um significado duplo:
cor do ouro de essência divina; cor da terra simbolizando o Verão e o Outono,
anunciando a velhice, o Outono e a proximidade da morte.
Maria Monforte e Maria Eduarda conjugam o vermelho
(leque negro [negro conotado com morte e luto] pintado com flores vermelhas, (sombrinha
escarlate) com o amarelo/dourado (cabelos de ouro), pelo que tanto simbolizam a
vida como a morte, o divino e o humano.
Afonso vê Pedro e Maria Monforte juntos num
passeio. Maria Monforte traz um vestido cor-de-rosa que cobria os joelhos de
Pedro, condizendo com as fitas do chapéu, também cor-de-rosa, simbolizando a
vida romântica em que Pedro
se deixou enlear. O azul dos olhos de Maria que, embora azuis da cor do céu,
eram de um “azul sombrio” prevendo sombras, tristezas e complicações para este
amor. O caminho por onde estes passeavam era verde e fresco, mas a ramagem que
o circundava pareceu a Afonso de um verde triste, prenunciando luto e tristeza
que ensombraria aquela união; embora o verde seja símbolo da primavera e, por
isso, devia ser alegre, este verde é sombrio, pressagiando que a primavera da vida
de Pedro também vai ser sombria. A sombrinha vermelha que envolvia Pedro
lembrou a Afonso “uma larga mancha de sangue” em que, de facto, Pedro vai
morrer. O presságio do sangue pode ainda ser visto à luz dos netos de Afonso
que, sendo do mesmo sangue, se vão envolver numa relação incestuosa, manchando
a honra familiar dos Maias.
Durante as corridas de cavalo Carlos, que
apostara em Vladimiro, uma pileca, acaba por ganhar várias apostas, quando vai
cobrar a dívida à ministra da Baviera que lhe diz, em tom de presságio “Vous
connaissez le proverbe: heureux au jeu...” azar no amor. De facto, Carlos pode
ter sorte ao jogo, mas acaba por falhar no amor ao se apaixonar pela própria
irmã.
A obra afasta-se dos postulados
naturalistas, submetidos a um forte racionalismo, ao aceitar e introduzir uma
entidade transcendente que tudo faz para destruir Carlos e Maria Eduarda,
depois de os ter aproximado. O destino compraz-se, assiste atento e ciumento, à
felicidade do par e, quando nada o fazia prever, aparece abertamente através do
Sr. Guimarães.
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