quinta-feira, 11 de maio de 2017

"OS MAIAS": ROMANCE MAIS OU MENOS NATURALISTA?



Será com base no ambiente que rodeia os vários episódios e na educação que Eça caracterizará e analisará a sociedade do seu tempo. Deste modo, Os Maias surgem como um romance realista ao retratar os espaços sociais da alta burguesia do século XIX e que recorre frequentemente à estética naturalista com algumas personagens como produto de factores "naturais",sobretudo do meio, da hereditariedade e da educação. 
Pedro da Maia é disso o melhor exemplo numa caracterização imposta pelo romance experimental naturalista. O meio social, de um Romantismo decadente e "torpe", levou-o a vaguear pelos "lupanares e botequins" e a dedicar-se à boémia ou, em alternativa, às visitas do "lausperene" e outras leituras de "Vida de Santos". A educação tradicionalista e conservadora de Pedro deformou-lhe a vontade, tornando-o devoto, piegas e fraco, arrastando-o  para um casamento apressado, instável e falhado, que acabou no suicídio. Hereditariamente, o retrato de Pedro assemelha-se em tudo ao de sua mãe, Maria Eduarda Runa, inclusive nos seus estados mórbidos.

Ler  "Ficara pequenino e nervoso como Maria Eduarda (...) a paixão pela mãe."

Ainda seguindo o modelo naturalista está Maria Eduarda quando se faz referência à sua educação num convento ao pé de Tours e aos ambientes duvidosos da "casa da mamã, no Parque Monceaux," que "era na realidade uma casa de jogo mas recoberta de um luxo sério e fino". 
A caracterização de Carlos da Maia foge à estética naturalista embora seja possível verificar que, quer o factor hereditariedade quer o meio, contribuem para o seu dilentatismo e dandismo ou factores educacionais que o preparam para a vida.

A rutura com o Naturalismo surge igualmente com a alteração do narrador omnisciente que dá lugar à focalização interna. Também a caracterização interna ou o recurso ao tempo psicológico dão prova desta rutura.


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