O REALISMO E O NATURALISMO I
O Realismo é, antes de mais, uma escola literária que surge na 2ª metade do séc. XIX, a partir de 1865, como reacção aos excessos do formalismo romântico, na sequência da Questão Coimbrã e das Conferências Democráticas do Casino.
Como, de um modo geral, todas as escolas literárias, o realismo define-se em termos de ideologia, temática e formas literárias.
Ideologicamente, o realismo começa por ser uma forte reacção contra o idealismo romântico enfraquecido, artificial, formalista e de uma sentimentalidade mórbida (…). O Realismo é, portanto, anti idealista e combate a evasão romântica, interessando-se em contrapartida, pelo contemporâneo, pela realidade circundante e pela análise social. Este pendor globalmente materialista explica duas preocupações fundamentais deste período literário: a observação dos factos e a sua análise tanto quanto possível rigorosa.
(…) As suas obras, (dos realistas) marcadamente viradas para o Contemporâneo e para a realidade que os cerca, tratam, geralmente, os seguintes temas:
A representação da vida burguesa, naquilo que ela possa ter de mais desagradável ou negativo, em certos aspectos da sua existência económica (a usura, a ambição, a avareza, a cobiça, a corrupção, etc.);
A representação da vida urbana, porque é nos grandes meios sociais, nas cidades, que as tensões sociais, políticas e económicas, resultantes ainda de um comportamento condenável da burguesia, mais se agudizam;
Deriva dos vectores anteriores a análise das relações e dos conflitos sociais, resultantes de grandes desníveis entre classes;
Em consequência ainda de erros e injustiças sociais, económicas ou políticas, a representação do sofrimento social e moral da frustração (sentimental, mas não só), da corrupção e do vício, de um modo geral.
Em síntese, a principal preocupação do realismo é promover a denúncia e a análise crítica dos vícios da sociedade sua contemporânea, corporizadas na classe dominante, normalmente retratada em personagens-tipo, que são, sem sombra de dúvida, as mais funcionais para a representação de defeitos de grupos ou sectores de uma sociedade. (…)
O Naturalismo é um período literário que se segue ao Realismo, podendo considerar-se, de certa maneira, como o seu prolongamento. As fronteiras entre as duas correntes são muito ténues e, por isso, é difícil perceber, por vezes, onde acaba uma e começa outra. Alguns escritores do século XIX, como Eça de Queirós, chegaram a confundir as duas correntes.
Os temas fundamentais do romance naturalista são os seguintes:
O alcoolismo, como deformação social e dos caracteres;
O jogo, encarado como consequência de determinadas situações de injustiça;
O adultério, como denúncia de certo modo de vida resultante de uma errada educação romântica;
A opressão social, como resultado de conflitos de interesses, denunciando as suas causas económicas, políticas e sociais;
Até a própria doença (a loucura, por exemplo), enquanto manifestação de taras hereditárias.
Em conclusão, no romance naturalista, a observação e descrição pormenorizada do meio social são extremamente cuidadas, mas, do mesmo modo, é importante a maneira como se encaram os factos, enquanto resultado de causas determinantes, como a educação, o meio, a hereditariedade.
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