sábado, 6 de janeiro de 2018

"MENSAGEM": ... TALVEZ INTERESSE SABER.



(D. Sebastião) Mergulhado em Deus, com Deus comungará e de Deus se encherá. E, quando voltar à terra dos homens (“regressarei”), será em forma *hipostática, homem feito Deus, como Cristo, o que cremos ser o significado do “O” e do “Esse” maiúsculos, referidos a ele, D. Sebastião.
António Cirurgião, in O Olhar Esfíngico da Mensagem de Pessoa, ICALP




*  Hipóstase – união da natureza divina e da natureza humana na pessoa de Cristo.



A esperança do Quinto Império, tal qual em Portugal a sonhamos e concebemos, não se ajusta, por natureza, ao que a tradição figura como o sentido da interpretação dada por Daniel ao sonho de Nabucodonosor.
Nessa figuração tradicional, é este o seguimento dos impérios: o Primeiro é o da Babilónia, o Segundo o Medo-Persa, o Terceiro o da Grécia e o Quarto de Roma, ficando o Quinto, como sempre, duvidoso. Nesse esquema porém, que é de Impérios materiais, o último é plausivelmente entendido como sendo o Império de Inglaterra. Desse modo se interpreta naquele país; e creio que, nesse nível, se interpreta bem.
Não é assim no esquema português. Esse, sendo espiritual, em vez de partir, como naquela tradição, do império material da Babilónia, parte, antes, com a civilização que vivemos, do império espiritual da Grécia, origem do que espiritualmente somos.
E, sendo esse o Primeiro Império, o Segundo é o de Roma. O Terceiro o da Cristandade e o Quarto o da Europa – isto é, da Europa laica de depois da Renascença. Aqui o Quinto Império terá de ser outro que o inglês porque terá de ser de outra ordem. Nós o atribuímos a Portugal para quem o esperamos.

Fernando Pessoa, (textos transcritos por António Quadros)
in Fernando Pessoa, iniciação global à obra, Ed. Arcádia


 O Quinto Império sonhado por Bandarra não é apenas o do regresso do novo Rei Artur português para restaurar o pequeno reino lusitano, nem propriamente o temporal reino de Cristo, visionado por António Vieira. A restauração política de Portugal do seu tempo interessou a Fernando Pessoa, como é de sobra conhecido, ao ponto de ver em Sidónio Pais um novo D. Sebastião. Mas o Quinto Império com que sonha é um império cultural. É desse império, e não de outro, que talvez seja ele mesmo o D. Sebastião…

Eduardo Lourenço, Portugal como Destino, seguido de Mitologia da Saudade, Ed. Gradiva




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