(D. Sebastião) Mergulhado em Deus, com Deus comungará e de
Deus se encherá. E, quando voltar à terra dos homens (“regressarei”), será em
forma *hipostática, homem feito Deus, como Cristo, o que cremos ser o
significado do “O” e do “Esse” maiúsculos, referidos a ele, D. Sebastião.
António Cirurgião, in O Olhar
Esfíngico da Mensagem de Pessoa, ICALP
* Hipóstase –
união da natureza divina e da natureza humana na pessoa de Cristo.
A esperança do Quinto Império, tal qual em Portugal a
sonhamos e concebemos, não se ajusta, por natureza, ao que a tradição figura
como o sentido da interpretação dada por Daniel ao sonho de Nabucodonosor.
Nessa figuração tradicional, é este o seguimento dos
impérios: o Primeiro é o da Babilónia, o Segundo o Medo-Persa, o Terceiro o da
Grécia e o Quarto de Roma, ficando o Quinto, como sempre, duvidoso. Nesse
esquema porém, que é de Impérios materiais, o último é plausivelmente entendido
como sendo o Império de Inglaterra. Desse modo se interpreta naquele país; e
creio que, nesse nível, se interpreta bem.
Não é assim no esquema português. Esse, sendo espiritual,
em vez de partir, como naquela tradição, do império material da Babilónia,
parte, antes, com a civilização que vivemos, do império espiritual da Grécia,
origem do que espiritualmente somos.
E, sendo esse o Primeiro Império, o Segundo é o de Roma. O
Terceiro o da Cristandade e o Quarto o da Europa – isto é, da Europa laica de
depois da Renascença. Aqui o Quinto Império terá de ser outro que o inglês
porque terá de ser de outra ordem. Nós o atribuímos a Portugal para quem o
esperamos.
Fernando Pessoa, (textos transcritos por António
Quadros)
in Fernando
Pessoa, iniciação global à obra,
Ed. Arcádia
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