P O R T U G
A L ¬ oito letras
® M E N S A G E M
“mens agitat
molem” (Virgílio, Eneida, 6, 727) – “Mensagitatmolem”
O espírito
move a massa (matéria), isto é, a inteligência domina as forças
físicas.
Mensagem é uma coletânea de
poemas breves, escritos entre 1913 e 1934, ano da sua publicação. Revela o caráter
épico e místico de Pessoa e deveria ser lida simbolicamente pelos iniciados
do esoterismo. A obra divide-se em três partes:
· Brasão (“bellum sine bello”: guerra sem guerra) – Retrato
heráldico do Portugal antigo através do brasão nacional. Divide-se em cinco
partes: “Os Campos”, “Os Castelos”, “As Quinas”, “A Coroa” e “O Timbre”. Remete
para heróis míticos ou lendários como Ulisses, Viriato, o conde D. Henrique, D.
Afonso Henriques, D. Dinis ou D. Sebastião.
· Mar
Português (“possessio maris”: a
posse do mar) – Narração épica dos feitos oceânicos dos portugueses (o
apogeu da pátria). Portugal desafia o mar ignoto e triunfa sobre a Distância
que, em sentido literal, é a descoberta dos caminhos marítimos da Ásia e da
América. Porém, em sentido figurado representa o cumprimento de uma missão
religiosa (ou esotérica) simbolizada pela cruz das velas das naus. Esta parte
foca personalidades e acontecimentos dos Descobrimentos como o infante D.
Henrique, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, o Adamastor ou o sofrimento do povo
português.
·
O Encoberto (“pax in excelsis”:
paz nas alturas) – Contém poemas de índole profética e sebastianista e
divide-se em três partes: “Os Símbolos”, “Os Avisos” e “Os Tempos”. Refere-se à
nostalgia da grandeza perdida, ao presente de sofrimento, de mágoa, que é
preciso mudar e ao sonho de um império espiritual. A mudança, anunciada por
símbolos e profecias, tornaria Portugal numa grande potência a nível mundial,
quer no plano material (como no passado) quer espiritualmente – o Quinto
Império.
Chamou-se
Quinto Império ao sonho mítico do Padre António Vieira (1608-1697) segundo o
qual Portugal, através de D. João IV (1604-1656), consumaria a realização do
reino universal de Cristo. Seria um império espiritual, construído com esforço
pelo homem, que abandonaria o reino terreno para viver no divino. A pátria,
como símbolo materno, liga-se à terra acolhedora e ao paraíso perdido (Éden)
que concentra todas as possibilidades de satisfação dos desejos humanos. O
Quinto Império remete para a unidade e perfeição: é uma hipótese de
transformação e de purificação da Humanidade. Em última análise representa a
relação harmoniosa entre o Homem e o mundo, entre este e Deus.
O
desaparecimento de D. Sebastião (1554-1578) significou, para o país, a perda da
identidade nacional. Reencontrar um novo império, através de Portugal, seria a
apropriação definitiva da essência do mito sebastianista.
Assim, para Pessoa estavam criadas as
condições para fazer de Portugal um Paraíso na Terra – o Quinto Império.
“E a nossa
grande raça partirá em busca de uma Índia nova que não existe no espaço, em
naves que são construídas «daquilo que os sonhos são feitos».”
|
Fernando Pessoa
|
“Temos
felizmente o mito sebastianista com raízes profundas no passado e na alma
portu-guesa. Nosso trabalho é pois mais fácil; não temos que criar um mito,
senão que renová-lo.”
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O número três é
simbólico e em várias religiões a tríade representa a perfeição, tal como na
religião católica:
Pai, Filho e Espírito
Santo. É também um número fundamental no esoterismo.
“Esta estrutura tripartida [da Mensagem] é simbólica. Com
efeito, desenha-se aqui a história cíclica de um povo: o nascimento, o apogeu
e a morte. Simplesmente a morte permite o ressurgimento das cinzas.”
|
António Borregana
|
“A vinda do encoberto iniciará um novo ciclo, o mais
glorioso da nossa história – o Quinto Império. E quanto mais as coisas se
degradam em Portugal, mais perto Fernando Pessoa vê a chegada do Salvador.”
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O Quinto Império, segundo
António Quadros
(ler o
poema “O Quinto Império” na terceira parte de Mensagem)
Império Material
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Império Espiritual
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1º - Babilónia
2º -
Medo-Persa
3º - Grécia
4º - Roma
5º - Inglaterra
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1º - Grécia
2º - Roma
3º -
Cristandade
4º - Europa
5º -
(Portugal)
|
António
Quadros considera que Mensagem “é sem dúvida a obra-prima onde Pessoa (…) imprimiu o seu ideal patriótico,
sebastianista e regenerador. É um poema nacional, uma versão moderna,
espiritualista e profética de Os Lusíadas.”
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