Mensagem
Estrutura
e valores simbólicos
Os
44 poemas que constituem a Mensagem encontram-se agrupados em três partes, ou
seja, as etapas da evolução do Império Português - nascimento, realização e
morte. No Brasão, estão os
construtores do Império; em Mar Português
surge o sonho marítimo e a obra das descobertas; n' O Encoberto há a imagem do Império moribundo, com a fé de que a
morte contenha em si o gérmen da ressurreição, o espírito do império moral e civilizacional
na diáspora lusíada.
O
Poema começa com a expressão latina Benedictus
Dominus Deus noster que dedit nobis signum ("Bendito o Senhor Nosso
Deus que nos deu o sinal"), anunciando, de imediato, o sentido simbólico e
messiânico que o percorre. Cada uma das partes do Poema inicia-se também com
uma expressão latina: na primeira, surge Bellum
sine bello ("Guerra sem guerra") a sugerir, pelo jogo dos
oxímoros, que, no início, havia um espaço que tinha de ser conquistado pois
fazia parte de um desígnio; na segunda parte, ocorre Possessio maris ("Posse do mar"), a traduzir o domínio
dos mares e a expansão; na terceira parte, há uma Pax in excelsis ("Paz nos céus"), que marcará o Quinto
Império. O Poema termina com um Valete
Frates ("Felicidades, irmãos"), acreditando no desígnio de um
Reino de Fraternidade, graças ao Quinto Império e assumindo um carácter de
incentivo ("Força, irmãos") para a construção desse novo Portugal.
A
primeira parte - Brasão - começa pela
localização de Portugal na Europa e em relação ao Mundo, procurando atestar a
sua grandiosidade e o valor simbólico do seu papel na civilização ocidental
quando afirma “O rosto com que fita é Portugal!”: Depois define o mito como um
nada capaz de gerar os impulsos necessários à construção da realidade;
apresenta os Portugueses como um povo heróico e guerreiro, construtor do
império marítimo; faz a valorização dos predestinados que construíram o país; e
refere as mulheres portuguesas, mães dos fundadores, celebradas como
"antigo seio vigilante" ou "humano ventre do Império".
A
segunda parte - Mar Português -
inicia-se com o poema Infante, onde o
Poeta exprime a sua concepção messiânica da História, mostrando que o sopro
criador do sonho resulta de uma lógica que implica Deus como causa primeira, o
homem como agente intermediário e a obra como efeito. Nos outros poemas evoca a
gesta dos Descobrimentos com as glórias e as tormentas, considerando que valeu
a pena. O último poema da segunda parte é a Prece,
onde renova o sonho. Em Mar Português
procura simbolizar a essência do ideal de ser português vocacionado para o mar
e para o sonho.
A
terceira parte - O Encoberto -
encontra-se tripartida em Os símbolos,
Os avisos e Os tempos.
Com os primeiros, começa por manifestar a esperança e o “sonho português”, pois
o actual Império encontra-se moribundo. Mostra a fé de que a morte contenha em
si o gérmen da ressurreição. Nos três avisos define os espaços de Portugal; com
os cinco tempos traduz a ânsia e a saudade daquele Salvador/O Encoberto que, na Hora,
deverá chegar, para edificar o Quinto Império, cujo espírito será moral e
civilizacional.
Mensagem recorre ao ocultismo para criar o
herói, O Encoberto, que se apresenta
como D. Sebastião. Note-se que o ocultismo remete para um sentimento de
mistério, indecifrável para a maioria dos mortais. Daí que só o detentor do
privilégio esotérico (= oculto/secreto) se encontra legitimado para realizar o
sonho do Quinto Império. Para Fernando Pessoa, que fez a iniciação no
rosacrucianismo [1], só alguns aparecem predestinados a decifrar o sentido das
sombras do mundo sensível (influência platónica). O nosso mundo sensível e
Portugal só se cumprirão por força e vontade criadora do mundo inteligível,
onde está a ideia como verdadeira realidade perpétua e essencial.
[1] Entre as várias
interpretações da simbologia Rosa-Cruz, é possível no poema O Encoberto ver na rosa o círculo, que
exprime os ideais de perfeição, e a cruz, que representa todos os tormentos até
os conseguir alcançar (a fraternidade Rosa-Cruz, que Fernando Pessoa defende e
cujo símbolo é comum a alguns rituais da maçonaria, aparece como a sociedade
secreta que sonhava o advento de um mundo pacífico e feliz).
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