(…)
O próprio Herculano, na Advertência da
primeira edição de Lendas e
Narrativas, diz que o mérito de tais textos e a razão da publicação em
volume é, justamente, por se encontrar aí o marco inicial do romance histórico
português: Corrigindo-os e publicando-os
de novo, para se ajuntarem a composições mais extensas e menos imperfeitas que
já viram a luz pública em volumes separados, ele [o próprio Herculano] quis apenas preservar do esquecimento, a
que por via de regra são condenados, mais cedo ou mais tarde, os escritos
inseridos nas colunas das publicações periódicas, as primeiras tentativas do
romance histórico que se fizeram na língua portuguesa.
(…) Tendo como principais temas o
amor impossível, o nacionalismo, o resgate do passado, o subjetivismo, o
egocentrismo, o exagero sentimental ou melodramático, o ufanismo, a solidão, o
mistério e a morte, entre outros, os autores românticos representavam a realidade
a partir do sonho e da utopia. Adilson Citelli, no estudo sobre o Romantismo,
destaca a face revolucionária do pensamento romântico:
A
tendência inicial foi saudar e propagandear tais ideias, colocando-se como uma
espécie de porta-voz da revolução. O canto de sereia do novo mundo, os novos
valores, a possibilidade de concretizar os princípios de justiça social, a
perspetiva de criação de uma sociedade mais equânime, sem as discriminações e
os entraves do velho modo de produção feudal [...] (Citelli,
1986:19)
Escritor
totalmente formado dentro do Romantismo, como apontam António José Saraiva
Óscar Lopes, Herculano é o autor português que melhor representa o movimento
romântico:
Nado
e criado em plena derrocada do velho Portugal, Herculano [...] formou-se
inteiramente dentro do Romantismo. É de entre as personalidades do primeiro
Romantismo português aquela que, pela formação e pela audiência que alcançou
junto do público, representa o movimento romântico de um modo mais completo e
persistente. (Saraiva & Lopes, s/d: 763)
Com
um projeto que pregava o regresso às raízes nacionais, e com uma obra que
abarcava o conjunto da Idade Média portuguesa, Herculano resgata a herança
medieval e inicia a novelística portuguesa moderna. A sua literatura de cunho
histórico inicia-se com a publicação de Lendas
e Narrativas, inaugurando, em Portugal, o género celebrizado pelo inglês
Walter Scott (Ibidem: 768-769), precursor das
narrativas históricas no Romantismo. Sobre a coletânea de contos de Herculano,
Feliciano Ramos comenta:
As
Lendas e Narrativas formaram dois
volumes que foram publicados em 1851. Acusam já a influência de Fernão Lopes,
que Herculano lia e admirava profundamente, se bem que também o contestasse. A
coletânea demonstra ainda carinhoso interesse pelas exigências históricas
[...].
Além
de conterem importantes dados para o estudo da fisionomia da Idade Média, as Lendas e Narrativas representam a
tentativa de um género novo, a novela histórica. No prefácio da 1ª
edição, Herculano reivindica essa glória, acentuando que as Lendas e Narrativas foram as primeiras
tentativas do romance histórico que se fizeram na língua portuguesa.
(Ramos,
1963: 597-598)
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