terça-feira, 31 de outubro de 2017

"LENDAS E NARRATIVAS", ALEXANDRE HERCULANO - ROMANCE HISTÓRICO E LENDAS E NARRATIVAS (2)



(…) O próprio Herculano, na Advertência da primeira edição de Lendas e Narrativas, diz que o mérito de tais textos e a razão da publicação em volume é, justamente, por se encontrar aí o marco inicial do romance histórico português: Corrigindo-os e publicando-os de novo, para se ajuntarem a composições mais extensas e menos imperfeitas que já viram a luz pública em volumes separados, ele [o próprio Herculano] quis apenas preservar do esquecimento, a que por via de regra são condenados, mais cedo ou mais tarde, os escritos inseridos nas colunas das publicações periódicas, as primeiras tentativas do romance histórico que se fizeram na língua portuguesa. 

(HERCULANO, s.d., p.VI)




            (…) Tendo como principais temas o amor impossível, o nacionalismo, o resgate do passado, o subjetivismo, o egocentrismo, o exagero sentimental ou melodramático, o ufanismo, a solidão, o mistério e a morte, entre outros, os autores românticos representavam a realidade a partir do sonho e da utopia. Adilson Citelli, no estudo sobre o Romantismo, destaca a face revolucionária do pensamento romântico:
A tendência inicial foi saudar e propagandear tais ideias, colocando-se como uma espécie de porta-voz da revolução. O canto de sereia do novo mundo, os novos valores, a possibilidade de concretizar os princípios de justiça social, a perspetiva de criação de uma sociedade mais equânime, sem as discriminações e os entraves do velho modo de produção feudal [...] (Citelli, 1986:19)

Escritor totalmente formado dentro do Romantismo, como apontam António José Saraiva Óscar Lopes, Herculano é o autor português que melhor representa o movimento romântico:

Nado e criado em plena derrocada do velho Portugal, Herculano [...] formou-se inteiramente dentro do Romantismo. É de entre as personalidades do primeiro Romantismo português aquela que, pela formação e pela audiência que alcançou junto do público, representa o movimento romântico de um modo mais completo e persistente. (Saraiva & Lopes, s/d: 763)

Com um projeto que pregava o regresso às raízes nacionais, e com uma obra que abarcava o conjunto da Idade Média portuguesa, Herculano resgata a herança medieval e inicia a novelística portuguesa moderna. A sua literatura de cunho histórico inicia-se com a publicação de Lendas e Narrativas, inaugurando, em Portugal, o género celebrizado pelo inglês Walter Scott (Ibidem: 768-769), precursor das narrativas históricas no Romantismo. Sobre a coletânea de contos de Herculano, Feliciano Ramos comenta:
As Lendas e Narrativas formaram dois volumes que foram publicados em 1851. Acusam já a influência de Fernão Lopes, que Herculano lia e admirava profundamente, se bem que também o contestasse. A coletânea demonstra ainda carinhoso interesse pelas exigências históricas [...].

Além de conterem importantes dados para o estudo da fisionomia da Idade Média, as Lendas e Narrativas representam a tentativa de um género novo, a novela histórica. No prefácio da 1ª edição, Herculano reivindica essa glória, acentuando que as Lendas e Narrativas foram as primeiras tentativas do romance histórico que se fizeram na língua portuguesa.
(Ramos, 1963: 597-598)




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