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| | | Quer'eu em maneira de proençal |
| | | fazer agora um cantar
d'amor |
| | | e querrei muit'i loar mia senhor |
| | | a que prez nem fremosura
nom fal, |
| 5 | | nem bondade; e mais vos
direi en: |
| | | tanto a fez Deus comprida de bem |
| | | que mais que todas las do
mundo val. |
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| | | Ca mia senhor
quiso Deus fazer tal, |
| | | quando a fez, que a fez sabedor |
| 10 | | de todo bem e de mui gram
valor, |
| | | e com tod'est[o] é
mui comunal |
| | | ali u deve; er
deu-lhi bom sem |
| | | e des i nom lhi
fez pouco de bem |
| | | quando nom quis que
lh'outra foss'igual. |
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| 15 | | Ca em mia senhor nunca Deus
pôs mal, |
| | | mais pôs i prez
e beldade loor |
| | | e falar mui bem e riir
melhor |
| | | que outra molher; des i é
leal |
| | | muit'; e por esto nom sei
hoj'eu quem |
| 20 | | possa compridamente no seu
bem |
| | | falar, ca nom há, tra'lo seu
bem, al. |
v. 1 - à maneira dos poetas provençais
v. 3 - e quererei muito louvar minha senhora (palavras terminadas em -or não têm género)
v. 4 - à qual não faltam qualidades morais (prez) nem físicas
v. 5 - a respeito disso, da "senhor"
v. 6 - perfeita
v. 7 - porque minha senhora a quis Deus fazer assim
v. 8 - porque quis Deus fazer (fazê-la) assim
v. 11 - não bastasse tudo isso é muito sociável
v. 12 - quando deve ser ... também (er) lhe deu (bom)senso
v. 13 - além disso não lhe quis pouco bem
v. 15 - porque a minha senhora Deus nunca deu nada de mal
v. 16 - mas deu qualidades morais e físicas para louvar
três últimos versos - e por isto não sei quem possa hoje falar completamente no seu bem porque não há quem se lhe iguale ou a exceda em qualidades
Tematicamente, estamos em presença do poeta que revela qual o seu propósito ou intenção: cantar/louvar/fazer o retrato da mulher amada à maneira provençal embora reconheça que tal tarefa é impossível dado o número de qualidades da sua "senhor".
Esta técnica, explicitar aquilo a que se propõe, é próprio de uma arte poética, informando os demais do tipo de cantiga, de amor, e seguindo qual modelo, o provençal.
A "senhor" louvada no texto corresponde ao Ideal feminino na Idade Média imposto pela corte e dela se enaltecem as qualidades morais e físicas, sociais e outras de caráter mais genérico.
Perante este modelo, o trovador pretende louvar de forma exagerada, superlativando, a sua "senhor".
Embora sejam de considerar as várias repetições ao longo da cantiga como técnica para estabelecer a unidade desta poesia esta, no entanto, não constitui o verdadeiro elo de ligação. Na verdade, a unidade desta poesia é conseguida através do encadeamento lógico reforçado pela presença da expressão causal "ca" - utilização de ata-finda - nas 2ª e 3ª estrofes.
O propósito inicial do poeta, o de cantar a sua "senhor", verifica-se do 4º verso em diante, quando o trovador enumera as qualidades da amada como se de um catálogo de qualidades modelares se tratasse e não de um retrato concreto.
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