sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ANÁLISE DA CANTIGA DE AMIGO "SEDIA-M'EU NA ERMIDA DE SAM SIMION"

 
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  Sedia-m'eu na ermida de Sam Simion
e cercarom-mi as ondas, que grandes som!
         Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
  
Estando na ermida ant'o altar
5 [e] cercarom-mi as ondas grandes do mar.
       Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
  
E cercarom-mi as ondas, que grandes som!
Nom hei [eu i] barqueiro nem remador.
       Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
  

10 E cercarom-mi [as] ondas do alto mar;
nom hei [eu i] barqueiro nem sei remar.
       Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
  
Nom hei [eu] i barqueiro nem remador
[e] morrerei fremosa no mar maior.
15        Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].
  
Nom hei [eu i] barqueiro nem sei remar
e morrerei fremosa no alto mar.
       Eu atendendo meu amig', eu a[tendendo].



Esta cantiga de amigo pertence à categoria das Barcarolas ou Marinhas e nela assistimos ao desespero da amiga que espera o seu amigo.
Esta espera acontece na ermida de San Simion, tendo a ria de Vigo como cenário de fundo que no texto é designada por mar.
A menina começa por dizer que se encontrava sentada na ermida, esperando o seu amigo, quando foi cercada pelas ondas do mar. O mar é classificado como um mar revolto - "ondas, ... que grandes som"; "ondas grandes do mar"; "do alto mar" e "mar maior" - identificando-se, deste modo, com o estado de espírito da amiga (proximidade entre a Natureza e o estado de espírito da amiga).
O mar é um elemento oponente sob duas formas: numa primeira, representa o obstáculo que se coloca entre a amiga e o seu amado e, numa segunda, representa o perigo para a menina que teme ser engolida pelas ondas.
Lamenta-se ainda esta menina que não tem barqueiro nem remador e que não sabe remar e que, por isso, irá morrer no mar. Poderemos interpretar estas alusões como uma metáfora do que verdadeiramente a atormenta: o facto de se ver privada do seu amigo e de não saber como há de viver sem ele - ou remar - no mar imenso que pode representar a própria vida.
Ainda alguns aspetos interessantes: o poema desenvolve-se com base numa gradação ou crescendo da intensidade dramático, sugerida pelas referências temporais que, por sua vez, correspondem a três momentos diferentes.
Se pensarmos que, em termos de sentido, as cantigas se desenvolvem em pares de dísticos, não é difícil concluirmos que as duas primeiras estrofes ou coblas se reportam ao passado - "Sedia-m'eu " e " cercarom-mi" - ,  as duas seguintes, ao presente "Nom hei" e "nem sei" -  e as duas últimas, ao futuro, "e morrerei fremosa".
Já o refrão, caracterizado pela predominância de sons nasais  - [m] e [en] - para além da presença da forma verbal no gerúndio [atendendo], remete para esse tempo de espera do amigo por parte da menina. Esta leitura vai ao encontro das características  antes apontadas uma vez que, quer os sons nasais quer o gerúndio, "aumentam" ou "prolongam" a passagem do tempo. Esta ideia é reforçada com o tempo verbal no futuro, "morrerei", pois prova que a menina não desistirá de esperar o seu amigo.
Formalmente, esta cantiga é uma paralelística perfeita pois possui um número par de estrofes, refrão, repetição do 2ºv, 1ªest. como 1ºv da 3ªest., repetição do 2ºv, 3ªest. como 1ºv da 5ªest. e repetição do 2ºv, 4ªest. como 1ºv da 6ªest.. De referir ainda o leixa-
-pren em 2ºv, 2ªest. com 1ºv da 3ªest.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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