sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

"FREI LUÍS DE SOUSA": EXISTE OU NÃO UNIDADE DE ESPAÇO?



Do primeiro para o segundo ato dá-se uma alteração de espaço concretamente, do palácio de Manuel de Sousa Coutinho para o de D. João de Portugal. A distingui-los, o aspecto luxuoso e confortável do primeiro e a sobriedade e a frieza do segundo, marcadas ainda pela tradição familiar.
            Com a mudança de espaço dá-se, assim, uma natural mudança de cenário, tendência que se manterá na passagem do segundo para o terceiro ato e embora o espaço físico seja o mesmo, a casa de D. João de Portugal, o cenário sofrerá alterações
            A esta alteração de cenário não é estranha a evolução do conflito vivido pelas personagens uma vez que estas se encontram cada vez mais próximas da catástrofe final.
            Deste modo, o espaço caracteriza-se à medida do próprio desenrolar dos acontecimentos, reflectindo-o, tornando-se mais austero e severo – e bem ao gosto romântico – como que numa descida ao centro da terra ou aos infernos, representada pelo desfecho trágico que atingirá a família de Manuel de Sousa Coutinho e que terá o seu clímax na capela da Senhora da Piedade e no altar-mor da igreja de S. Paulo.
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            Terá sido respeitada a unidade de espaço em FLS?
            A resposta será Não se considerarmos que, para que ela exista, deve manter-se o cenário.
            Se, no entanto, considerarmos a opinião de vários autores que defendem que a união de espaço depende da sua localização num mesmo país ou numa mesma vila, então podemos concluir que Garrett respeitou a unidade de espaço uma vez que as personagens em cena permanecem na vila de Almada ao longo dos três atos.


         Como já foi aqui referido, o espaço está diretamente relacionado com os acontecimentos, o que quer dizer igualmente com o destino das personagens, com a sua progressão ao longo do texto.
            Assim, o palácio de Manuel de Sousa Coutinho com as suas salas amplas, sem limites para o exterior e permitindo a circulação das personagens de forma livre e determinada pela sua própria vontade, simboliza a vida harmoniosa em família, de felicidade, mesmo.
            Já a ação do segundo ato desenrola-se no palácio de D. João de Portugal que agora pertence a D. Madalena.
            Já anteriormente se referiu o aspeto sóbrio, se não mesmo sombrio, deste espaço. A comprová-lo a quase inexistência de janelas e portas que, no presente ato, aprisionam mais as personagens do que as libertam.
            Por sua vez, o ato terceiro desenrola-se na parte baixa do palácio de João de Portugal e que possui ligação direta para a capela. Os objetos decorativos,  tocheiras, cruzes e outros de caracter religioso são predominantes.
            Ao contrário da ação do ato segundo que decorre de tarde, a ação do terceiro ato desenrola-se durante a noite.

 Conclusão:

 Qual é o tratamento dado ao espaço no “Frei Luís de Sousa”?

Progressão em termos negativos. Há um afunilamento quer a nível de luz, decoração ou amplitude. Ou seja, vai evoluindo no sentido da ação: vão surgindo acontecimentos que afetam a vida normal familiar e que culmina com a morte de Maria. A ação caminha no sentido da destruição, a par do tratamento que vai sendo dado ao espaço.

in net


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