'Screvo meu livro à beira mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Ah, quando quererás voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?
Mensagem,
Fernando Pessoa
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Num momento em que a
Pátria se sente “entristecer”, o sujeito poético escreve o seu “livro à beira
mágoa” com os “olhos quentes de água”, manifestação física da sua Dor e numa
clara alusão ao ato de “chorar”.
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O apelo a “Senhor” revela
a esperança que o “eu” deposita neste, como única fonte de alento.
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Este “Senhor” conhece
ao longo do texto outros epítetos: “Rei”, 2ªest. e “Encoberto”, 4ª est., os
quais nos remetem para o manifesto desejo da vinda de um Messias Salvador – o
Sebastianismo como mito messiânico.
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Vislumbra-se na
esperança depositada no regresso deste “Messias”, uma tentativa de atenuar o
próprio sofrimento que, deste modo, transforma o desespero em esperança através
do sonho que, espera-se, virá a realizar-se no futuro.
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Formalmente, de
salientar a frequência de interrogações retóricas que podem sugerir o já
referido estado de desespero do “eu” ou, também, a expetativa face a esse
“Senhor” que há-de vir; a confirmá-lo, a
predominância de formas verbais no futuro.
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Num e noutro caso
está bem patente a dúvida que martiriza o sujeito poético relativamente à
“Hora” do regresso do “Senhor” por ele sonhado.
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Nota final – Este
poema encontra-se profundamente marcado pela subjetividade lírica, pela
interiorização das emoções e dos sentimentos.
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